
Bolsa cai 12,17% e dólar bate em R$ 4,79
Para Trump, servilismo de Bolsonaro aos EUA é “trabalho fantástico”
A queda na Bolsa (-12,17%) e a nova alta na cotação do dólar, que chegou a R$ 4,79, fechando em R$ 4,72, depois que o Banco Central (BC) queimou U$ 3 bilhões e 465 milhões (três bilhões e 465 milhões de dólares) das reservas monetárias no mercado de dólar à vista, só fazem evidenciar a destruição econômica a que os marginais bolsonaristas estão submetendo o país.
Na sexta-feira, o BC já havia gasto US$ 1 bilhão das reservas na tentativa inútil de frear a alta do dólar.
Há quatro dias, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse, na FIESP, que “se fizer muita besteira”, o dólar iria para R$ 5. Na segunda-feira, o dólar foi comprado a mais de R$ 5 nas casas de câmbio.
É impossível esconder, dizendo que “a crise é global”, o óbvio fato de que não houve país do mundo em que os resultados, na segunda-feira, tenham sido piores que no Brasil. Foram piores, inclusive, que na Argentina, no México e na Colômbia.
Por quê?
Porque ter um lúmpen financeiro na Economia e um lúmpen-lúmpen na Presidência tem essa consequência – daí para pior.
Na segunda-feira, depois que a economista neoliberal Monica de Bolle declarou que “no Brasil, o governo está obcecado em manter uma agenda de reformas, de médio e longo prazos, quando o momento é de pensar em como responder a essa crise. É preciso deixar as reformas de lado e focar no que é preciso fazer para que o Brasil não entre em recessão. (…) a medida mais eficiente é aumentar o investimento público, principalmente em infraestrutura”, um secretário de Guedes, um certo Mac Cord (?!), disse que esta é uma “estratégia fracassada”: “A estratégia correta é como a gente libera o setor privado para ele alocar dinheiro onde entenda ser melhor”.
Ou seja, de preferência, zero de investimento público.
Que a maior parte do setor privado não vai colocar dinheiro algum em lugar nenhum se não houver investimento público – ou que a maior parte do setor privado irá desaparecer, como está desaparecendo, sem investimento público -, é coisa que imbecis desse tipo são incapazes de compreender.
O resultado é que até mesmo o dinheiro estrangeiro está indo embora – aquele dinheiro estrangeiro que, segundo Paulo Guedes, ia entrar aos borbotões. Já foram US$ 55 bilhões (v. HP 02/03/2020, Insanidades de Bolsonaro aceleram fuga de capitais).
A alta do dólar é, precisamente, uma consequência do dinheiro que está saindo, ou que está para sair, do país, com especuladores e multinacionais trocando reais por dólares. Ressaltemos, esse é um movimento que está apenas no início.
Quanto à Bolsa, de janeiro até o último dia quatro, saíram R$ 44,8 bilhões – mais do que aquilo (R$ 44,5 bilhões) que saiu em todo o ano passado. Não necessariamente saíram do país, mas é fácil perceber qual o motivo da queda na Bolsa (v. HP 07/03/2020, Saque de estrangeiros da Bolsa em 2 meses é maior do que em todo o ano passado).
Portanto, a derrocada econômica no Brasil – mesmo quanto a um sintoma como as cotações na Bolsa – não é um reflexo inevitável da crise nos EUA ou em outros países, muito menos é um desígnio infalível de uma guerra de preços no petróleo, nem dos feitiços terríveis de Maga Patalójika ou da Madame Min.
Como poderia ser diferente, com um miliciano mentecapto na Presidência e um escroque sem escrúpulos no Ministério da Economia?
Porém, o sr. Paulo Guedes declarou que “estamos absolutamente tranquilos e confiantes” – e apelou à “serenidade”.
O que revela não somente que é mentiroso, mas que é irresponsável. Duas coisas, aliás, já sabidas.
As Bolsas de Valores não são templos sagrados da economia, mas lugares onde se especula com ações. Mesmo assim, quando nelas há uma queda – e uma grande queda –, é sintoma de alguma doença.
Afinal, a crise de 1929 teve como sintoma inicial mais evidente a quebra da Bolsa de Nova Iorque, a 24 de outubro daquele ano – com a queda do Produto Interno Bruto dos EUA à metade, com quase ¼ dos trabalhadores expulsos de seus empregos, com o mundo capitalista não mais à beira da catástrofe, mas caindo em um abismo cada vez mais fundo.
Portanto, o que chama atenção nas quedas das Bolsas na segunda-feira (09/03), é que, parafraseando o professor Reinaldo Gonçalves, estamos diante de economias de papel crepom.
Pois é óbvio que não foi o coronavírus que colocou essas economias, muito menos a do Brasil, em débâcle.
Aliás, sobre isso, em 1918 houve uma epidemia, a da gripe “espanhola”, que matou 30 milhões de pessoas nos primeiros seis meses (ao todo, até o primeiro semestre de 1919, morreram, pelo menos, 50 milhões, e existem estimativas – estimativas sérias – que chegam a 100 milhões de mortos).
Ninguém até hoje acusou a gripe “espanhola” por crise econômica alguma, apesar do extermínio de uma parte dos trabalhadores, logo depois do extermínio de outra parte, na I Guerra Mundial.
A doença causada pelo coronavírus é imensamente menos grave que a “espanhola”; a transmissibilidade é muito menor; a letalidade, três vezes menor.
Apesar disso, é forçoso reconhecer que, numa economia tão frágil que até as multinacionais norte-americanas e alemãs dependem da importação de componentes fabricados na China; numa economia que se regula pelos pitis do mercado financeiro, o coronavírus tem o seu papel no pânico de alguns.
Entretanto, vai ser difícil Guedes e Bolsonaro esconderem-se atrás do coronavírus. Ele é muito pequeno.
CARLOS LOPES