
Depois de execrado em prosa e verso por milhões como “Inimigo da Educação”, Bolsonaro passou a dizer que “não queria” mas “foi obrigado” a contingenciar – na prática, cortar – R$ 5,8 bilhões da Educação e R$ 2,1 bilhões da Ciência e Tecnologia porque a arrecadação está menor do que a prevista no Orçamento.
Ele diz que não tem culpa pela queda na arrecadação e alega em sua defesa que os governos anteriores – Lula, Dilma e Temer – “também cortaram verbas da Educação em 2009, 2010, 2011, 2012, 2015, 2016, 2017 e 2018”.
É como justificar as práticas antirrepublicanas da família presidencial, de lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio, com a desculpa de que “os outros também fizeram”.
Além disso, Lula, Dilma e Temer contingenciaram verbas do ensino público porque foram pusilânimes e não porque tinham o objetivo deliberado de desmontar a Educação, coisa que Bolsonaro vem realizando desde o início do mandato, inclusive com a nomeação de rematadas cavalgaduras para a pasta.
Tomemos como verdadeiras essas desculpas para o corte.
De saída, elas trombam com a impossibilidade de isentar Bolsonaro da responsabilidade pela queda da arrecadação.
Ao tomar posse, no início de janeiro, a previsão de crescimento do PIB-2019 era de 2,4%. Seus sucessivos desatinos minaram a expectativa do “mercado” na retomada do crescimento, recolocando o país na rota da recessão.
Após 15 semanas consecutivas de queda, as projeções de crescimento do PIB baixaram a 1% (Boletim Focus, do BC). Nesse quadro não há arrecadação que resista.
A inépcia e o desequilíbrio do presidente derrubaram a já combalida economia nacional. Tais são os fatos.
Porém a queda na arrecadação não cria nenhuma obrigação ao governo de bloquear as verbas da Educação. Arrecadando menos, Bolsonaro precisa reduzir os gastos. Mas tem toda a liberdade – e mesmo o dever – de escolher em quais itens do Orçamento isso se dará. Cortar na Educação é uma escolha, e uma escolha que já estava feita.
Ele começou a preparar o corte das verbas da Universidade e toda a rede pública de ensino antes da posse, disseminando a visão policialesca da Escola Sem Partido, profundamente hostil à ciência, à cultura e à democracia.
Ainda em fevereiro, nem bem o governo havia começado, procurou mobilizar suas falanges de zumbis com a notícia fake de que o MEC já havia apurado “indícios de corrupção ocorridos na pasta em gestões passadas”.
Prosseguiu, postando, também no Twitter, em 4 de março:
“Brasil gasta mais em educação em relação ao PIB que a média de países desenvolvidos… Há algo de muito errado acontecendo: as prioridades a serem ensinadas e os recursos aplicados. Para investigar isso, o Ministério da Educação junto com o Ministério da Justiça, Polícia Federal, Advocacia e Controladoria Geral da União, criaram a Lava Jato da Educação.”
Palavras levianas, voltadas para criar um ambiente de intimidação e criminalização da atividade educacional.
O Brasil gasta 6% do PIB na Educação. A média dos 36 países que integram a Organização Para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é 5,5%. Mas o número que, de fato, interessa é o gasto do país por aluno. O do Brasil é tão baixo que chega dar vergonha. A média da OCDE é de U$ 10.759, o gasto do Brasil por aluno é U$ 5.610.
A avaliação das “prioridades a serem ensinadas” teve dois desdobramentos.
Primeiro a ladainha sobre a inutilidade dos cursos de humanidades e ciências sociais, cujos investimentos, Bolsonaro escreveu no Twitter em 24 de abril, “deveriam ser transferidos para as áreas que geram retorno imediato ao contribuinte, como veterinária, engenharia e medicina”. Segundo o mentecapto, foi o que o Japão passou a fazer, a partir de 2015. Não contou o final da história, provavelmente porque não foi capaz de entendê-la. O ministro Hakubun Shimomura, que tentou pôr em prática a brilhante ideia, durou seis meses, renunciou debaixo de vara e o projeto foi enterrado.
Paralelamente, ao comentar os cortes nas verbas das Universidades Federais acusadas de promover “balbúrdia”, Bolsonaro apresentou como motivo a “prioridade da Educação Básica sobre a Educação Universitária”. Em entrevista ao SBT, ele afirmou:
“A gente não vai cortar recurso por cortar. A ideia é pegar o recurso e investir em Educação Básica. Não adianta você ter um excelente telhado para a casa se as paredes estão podres”.
No dia seguinte, 3 de maio, ele determinou o corte de 36,37% na verba de custeio das 14 unidades do Colégio Pedro II, a mais tradicional instituição do Ensino Básico no Brasil.
Foi a gota d’água. A desfaçatez de miliciano revelou-se por inteiro, escancarando seu ódio contra professores, estudantes, funcionários, pesquisa, ciência, cultura, conhecimento e exibindo seu propósito de atacar e destruir tudo o que puder numa área que sua mente medieval não compreende e se sente incapaz de controlar.
A resposta veio rápida, massiva e foi direto ao ponto: reposição das verbas bloqueadas e unidade geral contra os desmandos do governo. Não é força de expressão. Bolsonaro é, de fato, inimigo da Educação. Por certo, o mais encardido que ela já teve no Brasil.
A devassa contra as instituições de ensino, anunciada com estridência pelo fariseu, não produziu uma única denúncia concreta, mas ele insiste na narrativa de que “o núcleo da Educação Pública no Brasil é composto de professores espertalhões que usam a garotada em causa própria” (Entrevista ao SBT, 31 de maio). A garotada, no caso, são os milhões de manifestantes que ele classificou em 15 de maio de “idiotas que não sabem a fórmula da água”.
Essa até ele, como papagaio, conseguiu decorar. Mas os manifestantes mostraram, através de cartazes que viralizaram na internet, que estão num patamar superior, conhecendo bem uma outra fórmula mais adequada para a presente discussão. Diziam os cartazes:
Fórmula da Ignorância
B17
(SÉRGIO RUBENS – ex-aluno do Colégio Pedro II)