
Se pudesse, ele também trocava o Marechal Rondon, patriota e herói nacional, pelo general Custer, norte-americano, famoso pelo extermínio de índios dos EUA
Depois de discriminar os governadores deixando-os de fora do Conselho Nacional da Amazônia, ao assinar, na terça-feira (11), o decreto que transferindo o colegiado do Ministério do Meio Ambiente para a Vice-presidência, Bolsonaro voltou a desrespeitar os representantes dos estados ao responder aos repórteres na quinta-feira (13).
“Se você quiser que eu bote governadores, secretários de grandes cidades, vai ter 200 caras. Sabe o que vai resolver? Nada. Nada”, disse ele.
Integram a Amazônia Legal: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Mato Grosso e Maranhão. Todos eles ficarão de fora do Conselho Nacional da Amazônia do qual faziam parte.
“Tem bastante ministros. Nós não vamos tomar decisões sobre estados da Amazônia sem conversar com governador, com a bancada do estado. Se botar muita gente, é passagem aérea, hospedagem, uma despesa enorme, não resolve nada”, completou o presidente, que tem tomado decisões polêmicas tais como reduzir o controle sobre atividades que agridem o meio ambiente e defender que empresas, inclusive estrangeiras, possam explorar as terras indígenas.
Ele também atacou a ONG, Greenpeace. Disse que ela “é um lixo”.
Bolsonaro já chegou a admitir que quer trazer empresas norte-americanas para explorar os minérios das terras indígenas. Disse quando ainda tentava emplacar seu filho Eduardo Bolsonaro como embaixador nos Estados Unidos. “Terra riquíssima [reserva indígena Ianomâmi]. Se junta com a Raposa Serra do Sol, é um absurdo o que temos de minerais ali”, disse. “Estou procurando o ‘primeiro mundo’ para explorar essas áreas em parceria e agregando valor. Por isso, a minha aproximação com os Estados Unidos. Por isso, eu quero uma pessoa de confiança minha na embaixada dos EUA”, afirmou na época.
Na cerimônia em que assinou o decreto, Bolsonaro atacou os indígenas dizendo que o tamanho das suas terras demarcadas é “abusivo” e reclamou que “não pode passar por cima da reserva” para escoamento de produtos. “Foi deflagrada uma verdadeira indústria das demarcações de terras indígenas”, continuou.
As posições defendidas por Bolsonaro sobre a Amazônia e as terras indígenas, querendo entregá-las para a exploração de grupos estrangeiros, destoa integramente da posição histórica das Forças Armadas brasileiras e da doutrina do Marechal Rondon, considerado um dos principais heróis e patriotas brasileiros.
Dizem que Bolsonaro está mais para admirador do general Custer (George Armstrong Custer, oficial americano famoso por exterminar índios) do que para o Marechal Rondon, respeitado militar brasileiro famoso por suas ligações e o respeito pelas comunidades indígenas de seu país.
Recentemente Bolsonaro mandou projeto para o Congresso legalizando atividades de exploração em terras indígenas. Ele já ofereceu essa áreas para empresas americanas explorarem riquezas minerais. Na ocasião, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), rebateu: “não é porque tem garimpo ilegal que vamos tratar de legalizar o garimpo. Temos de, primeiro, combater o que é ilegal e fazer amplo debate sobre o tema. O tema do garimpo não é simples e o tema do garimpo em terra indígena é mais complexo ainda”.
O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), criticou a saída dos governadores do grupo. Na sua opinião, a decisão não foi boa a “democracia do país”. “É um método geral do governo Bolsonaro, infelizmente. Uma visão extremista, belicista, de afastamento de setores sociais, políticos e econômicos e isso não é bom para a democracia brasileira”, disse Dino. O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), também criticou a medida de Bolsonaro, afirmando que o governo “perde a oportunidade de ouvir a sociedade, os estados e liderar um processo que seria muito mais rico se fosse participativo”.
O governador do Amapá e presidente do Consórcio de Estados da Amazônia Legal, Waldez Góes, lamentou e classificou como “retrocesso” a exclusão dos governadores eleitos do Conselho da Amazônia. Waldez disse esperar “bom senso” do Planalto para revisar a composição do colegiado. “Precisamos andar juntos para enfrentar os desafios amazônicos e garantir mais dignidade e inclusão para nossa população. Estamos à disposição para contribuir com o debate e construção de políticas e estratégias nacionais em conjunto com o novo Conselho”, declarou Goés.