Ex-presidente disse que ministro quer “alijá-lo da política”. Ainda segundo o ex-chefe do Executivo, o magistrado do STF está vencendo “no momento”
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) está envolvido numa espiral de profunda crise. Trata-se de miríade de problemas que ele mesmo criou e agora a Justiça está no encalço dele. Inclusive, com duas condenações de inelegibilidade no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Ele admitiu ainda que está sendo derrotado e fez ameaça velada, nesta sexta-feira (3), ao ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Alexandre de Moraes dizendo que “tudo tem uma dinâmica”.
As falas foram proferidas durante discurso em Santos (SP), onde participou da entrega de viaturas ao 6º Grupamento de Bombeiros.
No STF, Moraes atua como relator de inquéritos que têm Bolsonaro e aliados na mira. O principal desses é sobre os responsáveis pelos ataques às sedes do Três Poderes, em Brasília, dia 8 de janeiro. Bolsonaro entra nesse processo como autor do crime.
A propósito, Bolsonaro é o indiciado número 1, no relatório aprovada pela CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) do Golpe instalada no Congresso Nacional e concluída dia 18 de outubro, com outros 60 denunciados.
ADMISSÃO DA DERROTA
Bolsonaro também disse que Moraes, quer “alijá-lo da política” brasileira e que, “no momento”, está tendo êxito.
Bolsonaro disse ainda que “está vendo” a melhor estratégia para recorrer da decisão que o tornou inelegível pela segunda vez no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), na última terça-feira (31).
A primeira condenação se deu em junho por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação. A condenação mais recente, agora em outubro, foi por abuso de poder político e econômico, no Bicentenário da Independência. Também há multa de R$ 425,6 mil.
Apesar das duas condenações, no âmbito do TSE, as penas não são cumulativas.
VITIMIZAÇÃO
O ex-presidente, com esse tipo de fala, quer se apresentar como vítima para os que ainda o seguem. Nem as condenações do TSE, nem tampouco os outros processos que enfrenta no STF são artificiais ou foram inventados do nada.
Bolsonaro conspira e faz proselitismo contra a democracia e o Estado de Direito desde a primeira vez que ocupou cadeira na Câmara dos Deputados, em 1991.
Todos os processos que ele enfrenta hoje na Justiça têm base, lastro e fortes indícios da atuação dele como elemento desestabilizador do processo democrático brasileiro, em particular nestes últimos 4 anos, no exercício da Presidência da República.
PATÉTICAS ANALOGIAS
“É o que eu costumo dizer: você briga em casa com sua esposa e vai recorrer para a sogra? A gente está vendo qual a estratégia nossa, se bem que não tem estratégia. Estratégia é o que o Alexandre de Moraes quer. E a gente sabe o que ele quer. É me alijar da política”, queixou-se o ex-presidente, em Santos (SP), após pergunta de jornalista da Folha de S.Paulo.
Bolsonaro ainda disse que “no momento ele [Moraes] está tendo vitória, mas tudo nessa vida é dinâmico”.
Além de ministro do STF, Moraes também é presidente do TSE e relator de inquéritos que têm Bolsonaro e seus aliados na mira, como o que apura se Bolsonaro tem responsabilidade nos atos golpistas de 8 de janeiro.
MAIS CRIMES
Ele também é acusado de outros nove crimes, entre esses, utilização de viagens internacionais com finalidade eleitoral e até desinformação e ataques ao sistema de votação brasileiro, no qual ele se elegeu sucessivas vezes para deputado federal e uma para presidente da República.
O ex-presidente, que tem 68 anos, somente estará apto a se candidatar novamente em 2030, aos 75 anos de idade. Enquanto isso, tenta emplacar os familiares e aliados em outras áreas da política.
Braga Netto, que fica inelegível até 2030, disse ainda na última quarta-feira (1º) que vai recorrer da decisão do TSE. O recurso vai ser endereçado ao STF.
MAIS PROCESSOS
Bolsonaro está todo enredado com a Justiça e ainda deve responder a inquéritos e à série de processos em várias instâncias do Judiciário brasileiro, além de outras ações na Justiça Eleitoral.
A maioria das interpelações vem de atitudes dele durante o mandato presidencial, incluindo o comportamento na pandemia de covid-19, além das investigações no inquérito das milícias digitais, do apoderamee até declarações dadas antes de chegar ao Planalto, quando ainda era deputado federal.
M. V.