Bolsonaro se recusa estender ajuda emergencial e alega que isso “quebraria o Brasil”

Reprodução do Youtube

Para ele, a segunda onda da Covid-19, que voltou a matar mais de mil brasileiros por dia, não é uma emergência. “Nós temos que conviver com a Covid, lamento as mortes, mas temos que conviver com esse problema”

Jair Bolsonaro afirmou, em sua live da quinta-feira (28), que a ajuda emergencial, que foi aprovada pelo Congresso Nacional para enfrentar a crise econômica provocada pela pandemia do coronavírus, vai acabar.

Lamento muito. Quem achar que tem que continuar com o auxílio emergencial vai quebrar o Brasil, vem inflação, vem descontrole da economia. Seria um desastre e todo mundo vai pagar caríssimo“, disse ele.

“A nossa capacidade de endividamento chegou ao limite”, acrescentou o chefe do Executivo, salientando que “o nome é emergencial“.

Na terça-feira (26/01), ele já tinha descartado estender o auxílio emergencial. “A palavra é emergencial. O que é emergencial? Não é duradouro, não é vitalício, não é aposentadoria. Lamento muita gente passando necessidade, mas a nossa capacidade de endividamento está no limite”, disse a apoiadores, na entrada do Palácio da Alvorada, em Brasília.

Ou seja, Bolsonaro decretou o “cada um que se vire sozinho”, assim como fez com a crise do oxigênio em Manaus.

Dez dias antes do colapso nos hospitais da capital do Amazonas, o Planalto e o Ministério da Saúde já sabiam do risco de ocorrerem mortes por falta de oxigênio e eles não tomaram nenhuma providência. Também não era emergência.

“Nós temos que conviver com a Covid, lamento as mortes mais uma vez, dizem que eu sou insensível, mas temos que conviver com esse problema”, disse ele, na sua live semanal.

Anúncio sobre a não prorrogação do auxílio emergencial (Reprodução UOL)

Nitidamente, para Bolsonaro, não há mais nenhuma emergência. A Covid matar mil pessoas por dia passou a ser, em sua cabeça, uma rotina como outra qualquer. Por isso, ele vai eliminar a ajuda emergencial, em novo gesto de desprezo às pessoas que perderam seus empregos e não têm como alimentar suas famílias.

Suas preocupações são outras. Ele está empenhado em usar o dinheiro que deveria ser aplicado no combate à pandemia para tentar subornar deputados (há denúncias de que R$ 3 bilhões em emendas liberadas nos últimos dias) com o objetivo único de fugir das cobranças que um parlamento independente inevitavelmente fará de seu desgoverno.

Sua declaração nessa live é uma clara demonstração de que os problemas gravíssimos que os brasileiros estão enfrentando, com o aumento acelerado das mortes – só na quinta-feira (28) morreram 1.439 pessoas – e a economia se retraindo drasticamente em função do agravamento da pandemia, não fazem parte de sua agenda política.

Em seu negacionismo doentio, Bolsonaro não só descartou a ajuda financeira aos desempregados, como voltou a atacar as medidas de proteção da população tomadas pelos governadores e prefeitos, muitas delas determinadas pela Justiça, enquanto não se completa a vacinação contra a Covid-19.

Para ele, a culpa pelo desemprego é dos governadores e prefeitos que fazem o que tem que ser feito.

“Não podemos destruir empregos como estão fazendo o Estado de São Paulo e BH. Isso leva à depressão, ao desespero e ao suicídio”, acusou.

No mesmo dia em que as mortes por Covid-19 voltam a explodir e os hospitais ficam novamente lotados, ele insinuou que são as medidas e proteção que estão causando o aumento dos óbitos.

“Está aumentando o número de óbitos por doenças do coração, vamos ter brevemente aumento do número de mortes por depressão e suicídios e tantas outras doenças”, afirmou Bolsonaro.

Nem uma palavra sobre as mortes por Covid-19. Mais negacionista e irresponsável do que isso, é impossível.

S.C.

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