Para ele, a segunda onda da Covid-19, que voltou a matar mais de mil brasileiros por dia, não é uma emergência. “Nós temos que conviver com a Covid, lamento as mortes, mas temos que conviver com esse problema”
Jair Bolsonaro afirmou, em sua live da quinta-feira (28), que a ajuda emergencial, que foi aprovada pelo Congresso Nacional para enfrentar a crise econômica provocada pela pandemia do coronavírus, vai acabar.
“Lamento muito. Quem achar que tem que continuar com o auxílio emergencial vai quebrar o Brasil, vem inflação, vem descontrole da economia. Seria um desastre e todo mundo vai pagar caríssimo“, disse ele.
“A nossa capacidade de endividamento chegou ao limite”, acrescentou o chefe do Executivo, salientando que “o nome é emergencial“.
Na terça-feira (26/01), ele já tinha descartado estender o auxílio emergencial. “A palavra é emergencial. O que é emergencial? Não é duradouro, não é vitalício, não é aposentadoria. Lamento muita gente passando necessidade, mas a nossa capacidade de endividamento está no limite”, disse a apoiadores, na entrada do Palácio da Alvorada, em Brasília.
Ou seja, Bolsonaro decretou o “cada um que se vire sozinho”, assim como fez com a crise do oxigênio em Manaus.
Dez dias antes do colapso nos hospitais da capital do Amazonas, o Planalto e o Ministério da Saúde já sabiam do risco de ocorrerem mortes por falta de oxigênio e eles não tomaram nenhuma providência. Também não era emergência.
“Nós temos que conviver com a Covid, lamento as mortes mais uma vez, dizem que eu sou insensível, mas temos que conviver com esse problema”, disse ele, na sua live semanal.
Nitidamente, para Bolsonaro, não há mais nenhuma emergência. A Covid matar mil pessoas por dia passou a ser, em sua cabeça, uma rotina como outra qualquer. Por isso, ele vai eliminar a ajuda emergencial, em novo gesto de desprezo às pessoas que perderam seus empregos e não têm como alimentar suas famílias.
Suas preocupações são outras. Ele está empenhado em usar o dinheiro que deveria ser aplicado no combate à pandemia para tentar subornar deputados (há denúncias de que R$ 3 bilhões em emendas liberadas nos últimos dias) com o objetivo único de fugir das cobranças que um parlamento independente inevitavelmente fará de seu desgoverno.
Sua declaração nessa live é uma clara demonstração de que os problemas gravíssimos que os brasileiros estão enfrentando, com o aumento acelerado das mortes – só na quinta-feira (28) morreram 1.439 pessoas – e a economia se retraindo drasticamente em função do agravamento da pandemia, não fazem parte de sua agenda política.
Em seu negacionismo doentio, Bolsonaro não só descartou a ajuda financeira aos desempregados, como voltou a atacar as medidas de proteção da população tomadas pelos governadores e prefeitos, muitas delas determinadas pela Justiça, enquanto não se completa a vacinação contra a Covid-19.
Para ele, a culpa pelo desemprego é dos governadores e prefeitos que fazem o que tem que ser feito.
“Não podemos destruir empregos como estão fazendo o Estado de São Paulo e BH. Isso leva à depressão, ao desespero e ao suicídio”, acusou.
No mesmo dia em que as mortes por Covid-19 voltam a explodir e os hospitais ficam novamente lotados, ele insinuou que são as medidas e proteção que estão causando o aumento dos óbitos.
“Está aumentando o número de óbitos por doenças do coração, vamos ter brevemente aumento do número de mortes por depressão e suicídios e tantas outras doenças”, afirmou Bolsonaro.
Nem uma palavra sobre as mortes por Covid-19. Mais negacionista e irresponsável do que isso, é impossível.
S.C.