Os países formaram o grupo “Amigos pela Paz” para buscar mais adesões e debater o conflito entre Rússia e Ucrânia
Encabeçados por Brasil e China, um grupo de 12 países do chamado Sul Global divulgaram nesta sexta-feira (27) um comunicado sobre a crise da Ucrânia, defendendo esforços internacionais para o fim da guerra na região. A reunião foi realizada em evento paralelo à Assembleia Geral da ONU.
Os12 países decidiram formar o grupo “Amigos pela Paz”, que visa promover “entendimentos comuns para apoiar esforços globais para a conquista de uma paz duradoura” entre russos e ucranianos.
China e Brasil, em maio deste ano, assinaram um documento intitulado “Entendimentos Comuns entre a China e o Brasil sobre a Solução Política da Crise na Ucrânia”.
Nesta sexta, o Brasil foi representado pelo Assessor Especial da Presidência, Celso Amorim, e pelo chanceler Mauro Vieira. O lado chinês foi representado pelo chanceler Wang Yi.
O comunicado aprovado na reunião teve a adesão de, além de Brasil e China, os governos da Argélia, Bolívia, Colômbia, Egito, Indonésia, Cazaquistão, Quênia, África do Sul, Turquia e Zâmbia. O México apoiou o comunicado, mas com ressalvas. Representantes da França, Suíça e Hungria participaram do encontro como observadores, a pedido de seus respectivos governos.
Segundo o Itamaraty, grupo expressou “preocupação com a escalada do conflito e seus impactos globais. Também apoiou iniciativas como o “entendimento comum” entre BR e CN e enfatizou a importância do diálogo inclusivo e da proteção de civis e infraestrutura crítica”.
“O comunicado rejeitou o uso de armas de destruição em massa e reforçou a necessidade de evitar uma guerra nuclear. Foi anunciada a criação de um grupo de “amigos da paz” na ONU, com o objetivo de promover solução duradoura para o conflito e fortalecer o papel do Sul Global nos esforços de paz no mundo”.
O documento expressa “profunda preocupação com a hostilidade em curso na Ucrânia e com os riscos de uma nova escalada”, além de “riscos e crises decorrentes deste conflito, que tem causado repercussões que afetam muitos países, incluindo os do Sul Global”.
Os 12 países defendem os “propósitos e princípios da Carta do Nações Unidas, respeitando a soberania e a integridade territorial dos Estados, respeitando as preocupações legítimas de segurança dos Estados e tomando em consideração a necessidade de defender os princípios da paz, segurança e prosperidade”.
Segundo o chanceler chinês, Wang Yi, o objetivo será fornecer uma voz objetiva e racional sobre o conflito entre Moscou e Kiev e desempenhar um papel construtivo em um acordo político. A iniciativa “deve ser bem-vinda pela comunidade internacional”, disse Wang ao canal RT.
O ex-ministro Celso Amorim disse ao jornal O Globo estar “muito satisfeito” com o resultado da reunião.
Ele minimizou as recentes declarações do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que criticou os esforços de negociação envidados por China e Brasil.
De acordo com Amorim, a proposta vai “prosperar quando os dois lados sentirem que a paz, ainda que não a paz ideal, é melhor do que a guerra”.
Amorim destacou a “grande importância” dos dois países chegarem a um “consenso de seis pontos” sobre a crise.
“Nada contra Zelensky, mas o caminho que ele escolheu chegou num beco sem saída. Nós queremos fazer um plano de paz”, afirmou Amorim, na véspera da reunião.
A iniciativa de China e Brasil tem desagradado Zelensky, que aposta nas dezenas de bilhões de dólares dos EUA e países europeus para continuar a guerra por procuração, armar-se e aumentar suas provocações criminosas contra a Rússia.
Em uma entrevista, Zelensky disse que o plano de China e Brasil não passava de uma “declaração política” e de natureza “destrutiva”. Ele também acusou a China e o Brasil de “ficarem do lado da Rússia” por proporem uma negociação de paz.
Zelensky disse que “estamos mais perto da paz do que pensamos” entre Moscou e Kiev. Mas a sua visão é de que o conflito se resolve, não por meio de negociações, mas de maior apoio bélico e financeiro ocidental à Ucrânia. “Somente na posição forte podemos pressionar [o presidente russo Vladimir] Putin a parar a guerra [de uma] forma diplomática”, afirmou.
Leia íntegra do comunicado dos 12 países:
Os Ministros das Relações Exteriores e Altos Representantes de um grupo de países do Sul Global se reuniram à margem do Debate Geral da 79ª sessão da Assembleia Geral, em 27 de setembro de 2024. Ao final da reunião, África do Sul, Argélia, Bolívia, Brasil, Cazaquistão, China, Colômbia, Egito, Indonésia, México, Quênia, Turquia e Zâmbia emitiram o seguinte comunicado conjunto:
1. Estamos profundamente preocupados com a hostilidade em andamento na Ucrânia e os riscos de sua escalada. Estamos preocupados com os riscos e crises decorrentes desse conflito, que já afetou muitos países, incluindo aqueles do Sul Global.
2. Pedimos a observação dos propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas, respeitando a soberania e a integridade territorial dos Estados, respeitando as legítimas preocupações dos Estados e levando em consideração a necessidade de sustentar os princípios de paz, segurança e prosperidade.
3. Enfatizamos a importância de soluções pacíficas para todos os conflitos internacionais, enquanto continuamos a promover o espírito de solidariedade e parceria entre as nações, conforme enfatizado pelos princípios de Bandung, entre outros.
4. Ressaltamos a importância de apoiar uma solução duradoura pelas partes do conflito, por meio de uma diplomacia inclusiva e por meios políticos baseados na Carta da ONU. Encorajamos todos os lados a viabilizar as condições para tal solução. Tomamos nota dos “Entendimentos Comuns de Seis Pontos” entre a China e o Brasil sobre a resolução política da crise da Ucrânia (A/78/972) e outras iniciativas com esse objetivo.
5. Chamamos as partes do conflito a observar princípios para uma desescalada e destacamos a importância de não expandir o campo de batalha e não intensificar os combates.
6. Pedimos o aumento da assistência humanitária e da proteção de civis, incluindo mulheres e crianças. Infraestruturas civis, incluindo instalações nucleares pacíficas e outras instalações de energia, não devem ser os alvos de operações militares. Apoiamos os esforços de mediação para a troca de prisioneiros de guerra entre as partes do conflito.
7. Pedimos a abstenção do uso ou da ameaça de uso de armas de destruição em massa, especialmente armas nucleares, bem como armas químicas e biológicas. Todos os esforços devem ser envidados para prevenir a proliferação nuclear e evitar uma guerra nuclear. Todas as partes devem cumprir as leis e acordos internacionais relevantes e prevenir resolutamente acidentes nucleares provocados pelo homem.
8. Pedimos esforços para aumentar a cooperação internacional em energia, moedas, finanças, comércio, segurança alimentar e segurança de infraestruturas críticas, para proteger a estabilidade das cadeias industriais e de suprimentos globais.
9. Concordamos em continuar o engajamento e as consultas em diferentes níveis e com todas as partes. Decidimos orientar nossos Representantes Permanentes junto às Nações Unidas a formar um grupo de “amigos pela paz” com o objetivo de fomentar entendimentos comuns para apoiar os esforços globais para alcançar uma paz duradoura.