Diante de declarações de Marcos do Val, decano do STF afirmou, ainda, que a elite política na era do bolsonarismo alimentava “zumbis consumidores de desinformação” e precisa ser presa
O decano do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Gilmar Mendes, disse que as declarações do senador Marcos do Val (Podemos-ES) mostram que o Brasil estava sendo governado “por uma gente do porão”, ligada “às milícias do Rio de Janeiro”.
Gilmar Mendes fez o pronunciamento após Marcos do Val dizer, mais de uma vez e por mais de um meio, na quinta-feira (2), que participou de reunião com o então deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em Brasília, na qual foi proposto um plano torpe de golpe de Estado ao senador.
Tal plano, segundo Marcos do Val, envolvia a montagem de uma cilada contra o ministro do Supremo, Alexandre de Moraes. Seria uma gravação, de forma clandestina, de conversa com o ministro Alexandre de Moraes, para comprometer o magistrado, impedir que ele seguisse à frente de processos contra Bolsonaro e aliados – e, ainda, abrisse brecha para a decretação de intervenção federal.
Depois de chamar bastante atenção, nas mídias tradicionais e na redes, o senador chegou a anunciar que iria renunciar ao mandato. Mas depois da pressão que sofreu por parte dos filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), do Val recuou.
A impressão que o senador “bolsonarista arrependido” passa é que está enredado pelo núcleo duro ou pequeno entorno de Bolsonaro. Estão todos a tramar contra o governo eleito, inclusive o senador do Val.
DESFECHO DAS INVESTIGAÇÕES
Gilmar Mendes afirmou que “a democracia mostrou sua importância” e que é preciso aguardar o desfecho das investigações para levantar possíveis envolvidos nas conversas.
“Nós já vimos ali quatro versões pelo menos, segundo vocês [jornalistas]. Segundo bem humorado colega de vocês, seriam 18 versões, entre elas é que essa reunião era para celebrar o aniversário de Alexandre de Moraes, portanto, isso está muito confuso”, afirmou, sobre as diferentes versões contadas por Marcos do Val.
“Pessoas têm contato, estiveram em contato, se comunicaram, têm comunicação telefônica, tudo isso será certamente investigado”, disse o ministro.
Questionado sobre o fato de Marcos do Val ter afirmado que Alexandre de Moraes sabia da reunião que tratava sobre a tentativa de golpe de Estado, novamente afirmou que é preciso aguardar as conclusões das investigações.
“IMBRÓGLIO INDECIFRÁVEL”
“Não vou emitir juízo sobre essa questão. É um imbróglio tão indecifrável, que ainda vamos aguardar os desfechos das investigações. Os depoimentos agora valem tão pouco porque a toda hora conta-se uma nova versão.”
Gilmar Mendes falou sobre o caso Marcos do Val antes e durante conferência sobre política e economia do Lide, grupo empresarial fundado pelo ex-governador paulista João Doria, em Lisboa, Portugal.
Mendes destacou que “as instituições foram o alvo predileto das vivandeiras alvoraçadas”, parafraseando a famosa citação do ditador Humberto Castello Branco de 1964, aludindo aos políticos que incitavam agitação nos quartéis.
“ZUMBIS CONSUMIDORES DE DESINFORMAÇÃO”
O ministro criticou a elite política na era do bolsonarismo, que alimentava “zumbis consumidores de desinformação”. “Espero que as investigações identifiquem quem estava no topo dessa pirâmide e qual lucro auferiam, política ou economicamente”, disse.
Em entrevista ao jornal português Expresso, publicada nesta sexta-feira (3), Gilmar Mendes afirmou que Bolsonaro flertou com a ideia de golpe militar.
“Não creio que tenha sido cogitado [um golpe das Forças Armadas]. Embora seja muito provável que o entorno do ex-presidente, e o próprio, tenham flertado com a ideia”, afirmou o decano do STF.
QUEM É MARCOS DO VAL
Obscuro senador, Marcos do Val ingressou na política, em 2018, quando foi eleito senador pelo então PPS (Partido Popular Socialista).
Marcos do Val, 51 anos, é natural de Vitória (ES). Integrou o 38º Batalhão de Infantaria do Exército Brasileiro. O senador eleito em 2018 também é diplomado e credenciado pela International Aikido Federation, situada em Tóquio, no Japão, como mestre em Aikido.
Os conhecimentos de artes marciais o fizeram fundar o Cati (Centro Avançado em Técnicas de Imobilizações), onde desenvolveu técnicas tidas como inovadoras em imobilizações táticas para atender às necessidades profissionais de policiais.
O trabalho foi realizado com apoio de integrantes do Centro de Artes Marciais Budokai e proporcionou técnicas aos policiais para a manipulação e imobilização de suspeitos sem uso de armas.
O treinamento foi levado à agentes da Swat, Nasa, FBI, Navy Seals, Vaticano e mais de 120 corporações policiais e de segurança em diversos países como Estados Unidos, China, França, Espanha, Luxemburgo, Bélgica, Itália, Portugal, Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai, Equador, Colômbia e Brasil. A empresa ficou responsável pelo treinamento de atores e figurantes do filme nacional “Tropa de Elite”.
Em 2015, do Val se tornou o 1º brasileiro a ser admitido como integrante da Associação Europeia de Tiro Policial, em Paris, na França.
M. V.