O Brasil registrou 53.419 novos casos de Covid-19 na última sexta-feira (7), chegando ao total de 22.448.362 diagnósticos confirmados desde o início da pandemia.
Com isso, a média móvel de casos nos últimos sete dias foi a 23.338, a maior registrada desde 24 de setembro do ano passado (quando estava em 32.038), voltando a ficar acima da marca de 20 mil. Em comparação à média de 14 dias atrás, a variação foi de +639%, indicando forte tendência de alta nos casos da doença segundo os dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).
Em seu pior momento, a curva da média móvel nacional chegou à marca de 77.295 novos casos diários, no dia 23 de junho de 2021.
Especialistas acreditam que o aumento de casos visto nos últimos dias é resultado de uma combinação: dos dados que ficaram represados por conta do apagão do sistema de notificações do Ministério da Saúde, que já dura um mês e da disseminação da variante ômicron.
O país também registrou 148 mortes pela Covid-19 nas últimas 24 horas, totalizando 619.878 óbitos desde o início da pandemia. Com isso, a média móvel de mortes nos últimos sete dias foi a 110. Em comparação à média de 14 dias atrás, a variação foi de +14%, indicando tendência de estabilidade nos óbitos decorrentes da doença.
Rede privada registra aumento de 655%
O aumento do número de atendimento de pacientes com Covid-19 já causa preocupação nas redes pública e particular de saúde. Hospitais privados de dez Estados e do Distrito Federal já registram um aumento expressivo de pacientes com Covid-19 nesse início de ano. De acordo com levantamento da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) mostra que, desde dezembro de 2021, as instituições de saúde particulares têm 655% casos a mais do coronavírus.
Os hospitais particulares registraram, nesse último mês, 13 mil testes positivos para o coronavírus, o que representa 21% do total de exames realizados. Desde dezembro, 32% dos casos de Covid-19 nessas instituições exigiram Internação.
Além do Distrito Federal, os Estados que fizeram parte do estudo são Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás, Bahia, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraíba, Paraná, Espírito Santo e Mato Grosso.
Além da Covid-19, os hospitais particulares desses estados tiveram aumento dos pacientes infectados com a influenza, comumente chamada de gripe. Segundo a Anahp, a elevação média de casos foi 270% desde dezembro de 2021.
Dos testes realizados, 42% deram positivo, o que representa quase 8 mil pessoas contaminadas. Entre os pacientes com influenza em dezembro, 22% precisaram ser internados.
Especialistas alertam para explosão de casos em janeiro
A explosão do número de novos casos de Covid no Brasil ainda pode estar subestimada por conta do apagão de números sobre a doença nos sistemas de notificação do Ministério da Saúde, que estão instáveis há um mês. Portanto, não se sabe o tamanho da onda de contaminações impulsionada pela variante ômicron atualmente.
Uma projeção da Universidade de Washington (EUA) considera que os casos são muito superiores aos dados oficiais e devem mais do que dobrar em 15 dias. Segundo a Universidade, em duas semanas, o Brasil pode chegar a um milhão de pessoas infectadas por dia com Covid.
A universidade estima que 468 mil pessoas tenham sido infectadas no Brasil apenas nesta sexta (7), incluindo aquelas que não fizeram exames. A quantidade é quase nove vezes superior aos testes positivos registrados pelos estados nas últimas 24 horas – 53.419 casos.
Seguindo a projeção, o país pode chegar a 1 milhão de infectados no dia 23 de janeiro e a um pico de 1,3 milhão em meados de fevereiro.
A estimativa é dez vezes maior do que o número registrado no auge da doença no Brasil, em março do ano passado, quando foram quase 100 mil casos positivos por dia.
Segundo a epidemiologista Fátima Marinho, integrante da rede de pesquisadores que envia os dados brasileiros à Universidade de Washington, a projeção é baseada num cálculo complexo, considerando vários fatores de cada país, e é bastante confiável a curto prazo.
“Esse aumento para 1 milhão em duas semanas é plausível, porque o modelo aplica o que já se sabe da doença nos EUA e na Europa, por exemplo, que têm números muito apurados. Na Inglaterra o teste é gratuito em qualquer farmácia e vai direto para o sistema do governo”, diz.
De acordo com ela, é esperado que a doença siga neste ano o mesmo caminho dos últimos dois anos: um aumento durante o inverno no hemisfério norte, depois uma alta nas transmissões no Brasil em janeiro e fevereiro, com um pico em março.
“Vamos repetir, como temos repetido todo ano. Não tem por que o cenário ser diferente dos outros anos e dos outros países. É impressionante que o governo não faça nada, sabendo antecipadamente o que vai acontecer”, critica a professora da Universidade Federal de Minas Gerais.
O ritmo de crescimento projetado para as mortes, porém, é muito inferior. Os cálculos indicam que o país pode chegar a 313 óbitos diários por Covid em duas semanas, apenas 12% a mais do que as 279 mortes estimadas para esta sexta. Ainda assim, a projeção é bastante superior ao registro oficial dos estados, que foi de 148 nas últimas 24 horas.
Segundo especialistas, a menor letalidade da doença está ligada à menor gravidade da variante ômicron e ao avanço da cobertura vacinal no país. O Brasil tem 78% da população com ao menos uma dose da vacina, 68% com o primeiro ciclo de imunização completo e 13,4% com o reforço.
“Felizmente, temos a vacina para evitar uma tragédia como a que vimos no ano passado, em relação às mortes. Mas, se quisermos o controle da situação e evitar que novos óbitos ocorram, precisamos saber a quantidade de casos. Com a política atual de testagem, não teremos esse controle”, diz Domingos Alves, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP.
Os especialistas explicam que a subnotificação ocorre principalmente pela falta de testagem em massa, o que leva, em geral, à contabilização apenas dos sintomáticos moderados a graves, e a um atraso, ou, muitas vezes, à ausência completa do registro dos casos.
APAGÃO
O sanitarista Christovam Barcelos, um dos coordenadores da plataforma MonitoraCovid19, da Fiocruz, também chama a atenção para o enorme gargalo que se formou a partir do apagão dos sistemas de notificação desde 10 de dezembro. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, prometeu normalizar a situação até a próxima semana.
“O apagão não foi só o ataque às nuvens. Está na origem, atrasando a entrada de notificações nas unidades de saúde privadas e públicas. Então mesmo que todos os sites voltem, existe ainda muito dado represado. Portanto, nas próximas semanas, veremos uma explosão de casos que pode ser falsa também, porque são números de dezembro que só foram digitados em janeiro”, diz.
Ele ressalta que já se percebia um aumento de infecções desde o início de dezembro, apesar de isso não ter transparecido nas estatísticas oficiais. “Isso piorou principalmente com as festas de fim de ano, a partir de 20 de dezembro. As pessoas esquecem que festa não é só uma noite de Natal ou Ano-Novo, é uma sequência de eventos e viagens”, lembra.