
A Comissão Pastoral da Terra (CPT) publicou seu estudo anual sobre assassinatos em conflitos no campo no Brasil em 2017, e o resultado foi o maior desde 2003, com 70 assassinatos. De 2004 a 2014 a média de mortes por conflito no campo foi de 36, mas nos últimos três anos houve uma escalada na violência e o número dobrou.
O relatório foi divulgado no último dia 16, e a CPT também denunciou ataques hackers que sofreu no último ano, “provavelmente dentro do processo de criminalização contra as organizações sociais que tem se intensificado, e que acabou impossibilitando a conclusão e o lançamento nessa data [17 de abril, Dia Internacional da Luta Camponesa] de seu relatório anual, o ‘Conflitos no Campo Brasil’”.
Entre as mortes ocorridas em 2017, estão quatro massacres ocorridos nos estados da Bahia, Mato Grosso, Pará e Rondônia. Dos 70 assassinatos em 2017, 28 ocorreram em massacres, o que corresponde a 40% do total.
A Pastoral ainda mantém suspeita de um quinto massacre no Amazonas, o de indígenas isolados, conhecidos como “índios flecheiros”, do Vale do Javari, entre julho e agosto de 2017. Seriam, pelas denúncias, mais de 10 vítimas. Contudo, já que o Ministério Público Federal no Amazonas e a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), não chegaram a um consenso, e “diante das poucas informações a que a CPT teve acesso, por se tratar de povos isolados, o caso não foi inserido na listagem por ora apresentada” destacou a entidade.
O estado do Pará lidera o ranking de 2017 com 21 pessoas assassinadas em 2017, sendo 10 no Massacre de Pau D’Arco, seguido pelo estado de Rondônia, com 17, e pela Bahia, com 10 assassinatos.
A CPT ressalta, porém, que o número casos que acontecem no país é muito maior. “A publicação da CPT é apenas uma amostra dos conflitos no Brasil”, lembra a Pastoral.
Em agosto passado, a CPT lançou uma página especial na internet (https://cptnacional.org.br/mnc/index.php) sobre os massacres no campo registrados desde 1985. Foram 46 massacres com 220 vítimas ao longo desses 32 anos. Na página é possível consultar o histórico e imagens dos casos.
IMPUNIDADE
Entre os anos de 1985 e 2017, a CPT registrou 1.438 casos de conflitos no campo em que ocorreram assassinatos, com 1.904 vítimas. Desse total, apenas 113 foram julgados, o que corresponde a 8% dos casos. Nestes casos somente 31 mandantes e 94 executores foram condenados. “Isso mostra como a impunidade ainda é um dos pilares mantenedores da violência no campo” destaca a entidade.