
O Canadá revidou o recente tarifaço desencadeado desde Washington, com as exportações de eletricidade para três Estados norte-americanos, Nova Iorque, Michigan e Minnesota, passando a ser taxadas em 25% a partir dessa segunda-feira (10). A sobretaxa afetará 1,5 milhão de residências e empresas nos EUA, podendo custar até US$ 400.000 por dia.
O anúncio foi feito pelo governo da província de Ontário, cujo primeiro-ministro, Doug Ford, havia alertado fazer isso “com um sorriso”, se não houvesse um recuo de Washington.
Pelas novas regras, os vendedores de eletricidade canadenses adicionarão uma sobretaxa de US $ 10 por megawatt-hora, equivalente a um quarto do valor médio da eletricidade, ao custo da energia para vendas para os EUA, de acordo com comunicado do Gabinete do primeiro-ministro da província.
A medida faz parte da resposta canadense ao tarifaço de 25% anunciado por Trump contra o Canadá e México, parceiros dos EUA no Acordo México-EUA-Canadá, que substituiu o Nafta, a pretexto de que não combatem suficientemente o tráfico de fentanyl e o ingresso de imigrantes.
Extorsão que foi posteriormente amenizada, com Trump isentando as montadoras e adiando por um mês sua aplicação sobre os bens cobertos pelo Acordo, aliás, renegociado durante seu mandato anterior. Um pequeno recuo registrado pela presidente do México ao falar dos resultados da unidade do povo em “assembleia informativa” que reuniu 350 mil na praça do Zócalo.
“Não vamos ficar parados enquanto nossas exportações vitais de eletricidade são tidas como garantidas”, disse Stephen Lecce, chefe do Ministério de Energia e Eletrificação de Ontário. “Em uma época em que os preços estão subindo para as famílias na América, o Canadá e os Estados Unidos devem trabalhar juntos para fortalecer nossas relações comerciais e de investimento.”
Em 2023, as exportações líquidas de eletricidade do Canadá para os EUA foram de 27,6 terawatts-hora e vieram principalmente das províncias de Manitoba, Ontário, Colúmbia Britânica e Quebec, de acordo com o Regulador Canadense de Energia.
A ordem regulatória do conselho executivo de Ontário diz que os EUA estão ignorando o estado de direito ao impor as tarifas ao Canadá. Alegações semelhantes foram feitas pela China em relação às regras da Organização Mundial do Comércio após a duplicação das tarifas dos EUA sobre a China.
O comunicado também diz que “as tarifas representam uma ameaça existencial a centenas de milhares de empregos e setores inteiros da economia de Ontário”.
Doug defendeu a sobretaxa que ordenou, assinalando que a pausa temporária de Trump nas tarifas de 25% não desfez a ameaça que representavam para a economia canadense.
“Ainda há 60% dos bens que estão cruzando as fronteiras que serão tarifados, e isso está prejudicando ambas as economias”, disse ele à CNN na segunda-feira. “É uma pessoa que causou esse problema, e esse é o presidente Trump, pois ele está colocando tarifas sobre nós – mesmo que ele diga que está colocando em espera.”
BANQUEIRO VIRA PREMIÊ DO CANADÁ
No domingo, o banqueiro Mark Carney foi escolhido pelo Partido Liberal para substituir Justin Trudeau como primeiro-ministro do país – aquele que Trump rotineiramente trata como “governador”. Ele bteve 86% dos votos dos filiados.
Carney nunca foi eleito para nada, foi executivo de longa data do Goldman Sachs, durante a crise financeira de 2008 chefiou o Banco do Canadá e no Brexit encabeçou o BC inglês, o Banco da Inglaterra. Ele possui cidadania canadense, britânica e irlandesa, mas já anunciou que irá declinar das outras duas para atender à legislação.
Em sua campanha entre os liberais, Carney se declarou o mais preparado para conduzir as negociações comerciais com Trump e disse apoiar tarifas retaliatórias “dólar por dólar” contra os Estados Unidos.
As ameaças de Trump de anexar o Canadá geraram um impulso de apoio aos liberais, depois do enorme desgaste de Trudeau, há nove anos no poder, o que o levara em janeiro a anunciar sua saída do cargo. No início de 2025, o partido estava atrás dos conservadores, na oposição ao governo, por 20 ou mais pontos, mas agora está empatado.
Dezenas de canadenses no domingo protestaram do lado de fora do prédio do Parlamento do Canadá em Ottawa contra Trump. Vaias ao Hino norte-americano também se tornaram comuns em jogos bilaterais, refletindo a indignação com o “51º estado”.
MEDO DA RECESSÃO SOBRESSALTA WALL STREET
Do outro lado da fronteira, o tarifaço de Trump também causa apreensões, com a Bolsa de Nova Iorque fechando em baixa na segunda-feira (10), com índice Nasdaq (tecnologia) chegando a perda de quase 5% no pior momento do pregão, sob o impacto da crescente apreensão com o risco de uma recessão nos EUA. Foi a maior queda do índice desde 2022.
O risco de recessão está estampado nas manchetes dos principais jornais norte-americanos, com o W St Journal destacando que “Wall Street teme que Trump destrua o pouso suave”. E acrescenta: “O piloto da economia tem uma nova mensagem: apertem os cintos de segurança. ‘Ele está nos dizendo, em tudo o que está fazendo, que não está brincando”.
Chamadas de capa também para “temores de recessão fazem com que as ações dos EUA percam seu brilho” e “Ouvido na rua: o que o estouro das pontocom pode nos dizer sobre o boom da IA”.
“Mercados dos EUA desabam depois que Trump diz que uma recessão é possível”, sublinha o The New York Times. “O índice S&P 500 caiu 2.7% um dia após os comentários do presidente Trump. A forte liquidação continuou quando os mercados abriram na Ásia na terça-feira”.
O NYT registrou, ainda, que “a incerteza sobre as políticas econômicas do presidente Trump contrasta fortemente com o quadro que ele pintou durante a campanha eleitoral”. E: “Trump prometeu riqueza crescente aos americanos. Sua linguagem está mudando”.