O presidente norte-americano pisa pela primeira vez em território da Coreia do Norte ao lado do líder Kim Jong Un, o mundo presencia um encontro entre este e Moon Jae-in (o presidente sul-coreano) com Trump, na última fronteira da Guerra Fria depois de 66 anos de guerra em suspenso, e tudo que certo jornalismo consegue extrair disso é se lambuzar todo no requentamento da história da “cantora fuzilada” que reaparece na comitiva do dirigente norte-coreano.
Assim, a suposta “mais famosa” cantora da Coreia do Norte, Hyon Song Wol, que havia sido “metralhada e jogada aos cães junto com sua banda” – delirante história parida nos porões da KCIA em 2013 e engolida avidamente pelos néscios na época – e já “ressuscitada” há quatro anos, ressurgiu de novo, agora no noticiário sobre a reunião-surpresa do último domingo na zona desmilitarizada, esclarecendo que ela agora faz parte do comitê central do Partido do Trabalho, o partido de Kim.
Também foi repetido que o motivo para sua execução fora por causa de um “vídeo de sexo grupal”, que teria deixado Kim, de quem seria então namorada, furioso. Tudo falso: a execução nunca acontecera e Hyon foi vista em maio de 2014 em uma apresentação em Pyongyang, vivinha da silva, e vendendo saúde. Como observou um dos que fizeram na época penitência pelo vexame, “Hyon passa bem – e continua uma admiradora do ditador”.
Na repetição do conto da cantora fuzilada, talvez a única “inovação” tenha sido lhe atribuir como maior sucesso a canção “A Excelente Moça que Trabalha como uma Égua”. Não me perguntem o que rima com Égua em coreano. À guisa de comentário, é esclarecido que a romântica canção é “uma ode” à vida de uma operária da indústria têxtil. Quem sabe, sucesso também em Bangladesh.
Na época do surto inicial de execuções fake – a onda começou exatamente com ela e sua banda -, as publicações se referiam a seus principais sucessos canções como “Somos as tropas do Partido” e “Eu amo Pyongyang”. Parece mais factível.
Como virou moda requentar assunto, vamos requentar a observação de que, já que insistem, as ressuscitações vão continuar na Coreia – e o ridículo deles, também. A Coreia Popular, como já dissemos, além de surpreender em matéria de bombas termonucleares e mísseis balísticos, parece imbatível na arte da ressuscitação.
Decididamente, o recuo de Trump da intransigência na cúpula de Hanói não agradou a todos. Aliás, como registrou o New York Times, preventivamente, Trump mandou nesse dia seu conselheiro John Bolton, o sabotador da cúpula de Hanói, em uma missão diplomática na aprazível Mongólia, enquanto se dedicava a consertar as coisas com Kim.
A.P.