Ela foge da Justiça igual o “diabo foge da cruz”. Mais uma vez a deputada bolsonarista se interna, após suposto mal-estar, e não vai depor no Supremo sobre invasão hacker no CNJ
A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) não foi, mais uma vez, e pela quarta vez consecutiva não prestou depoimento, na última quinta-feira (26), no STF (Supremo Tribunal Federal), no âmbito do processo no qual é ré por ser mandante de invasão hacker aos sistemas eletrônicos do CNJ (Conselho Nacional de Justiça).
De acordo com a assessoria de Zambelli, a parlamentar está internada no HCor (Hospital do Coração), em São Paulo (SP), após mal-estar. Não há previsão de alta. Isso ocorreu depois que ela participou de atividades de campanha eleitoral.
Em maio deste ano, Zambelli e o hacker Walter Delgatti Neto se tornaram réus no Supremo. A denúncia apresentada pela PGR (Procuradoria-Geral da República) foi acolhida por unanimidade pela Primeira Turma da Corte.
“Não há dúvida de que a inicial acusatória expôs, de forma clara e compreensível, todos os requisitos necessários para o pleno exercício do direito de defesa e recebimento da denúncia”, afirmou o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF.
Em 2022, Carla Zambelli foi a segunda deputada federal mais votada no Estado de São Paulo, com quase 1 milhão de votos. A bolsonarista está no exercício do segundo mandato na Câmara. Ela foi eleita no pleito de 2018.
DECISÃO UNÂNIME
Moraes foi acompanhado pelos outros 4 integrantes da Primeira Turma: os ministros Cármen Lúcia, Luiz Fux, Cristiano Zanin e Flávio Dino.
Em linhas gerais, o que os ministros da Primeira Turma do Supremo decidiram é que, no caso envolvendo Zambelli e Delgatti, há elementos que justificam a abertura de ação penal. Não se trata, ainda, de análise sobre o mérito, o que só ocorrerá durante o julgamento.
O QUE APONTARAM AS INVESTIGAÇÕES
Segundo o relatório da PF (Polícia Federal) sobre as investigações, encaminhado à PGR e que embasou o entendimento da Primeira Turma do STF, Zambelli e Delgatti teriam cometido, repetidas vezes, os crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica.
De acordo com a investigação, foram inseridos documentos falsos no sistema eletrônico interno do Judiciário, entre os quais falsa ordem de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF.
Segundo o relatório, o hacker teria sido “instigado pela parlamentar para acessar o sistema do CNJ, com o intuito de causar prejuízo à imagem do Judiciário e de um ministro do STF […], tanto que [Zambelli] recebeu os documentos comprovando as invasões ao sistema e as inserções de documentos falsos”.
RELATÓRIO DA PF
“Muito embora não se possa atribuir à deputada Carla Zambelli a inserção dos alvarás falsos e outros crimes cometidos por Walter [Delgatti], a conduta da mesma de instigação a invadir o sistema do CNJ colocou em risco um Poder da República, o Judiciário, assim como a imagem do Poder Legislativo, sendo incompatível com a atividade parlamentar, notadamente em razão do modo de agir e da gravidade do risco”, está escrito no relatório da PF.
Segundo investigações da PF, Delgatti, a mando de Zambelli, invadiu o sistema do CNJ e inseriu mandado de prisão do ministro Alexandre de Moraes, expedido por ele mesmo. Ou seja, ele mandou que prendessem ele próprio. Algo surreal.
Além disso, foram plantados também no sistema, vários alvarás de soltura de presos. O objetivo era esculachar a Justiça, a fim de desmoralizá-la.
EXPEDIENTE BOLSONARISTA E FAKE NEWS
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) usava muito esse expediente de se internar quando se via enredado em problemas com a Justiça.
Em outro inquérito, o das fake news, Zambelli valeu-se da mesma estratégia para adiar depoimento no Suprema. Ela seria ouvida em 2 de junho de 2020, mas pediu a remarcação para o dia 4 do mesmo mês.