Quarta-feira (8), o índice caiu de 81,8 pontos para 62,4 e, na quinta (9), quando houve a divulgação da “Carta à Nação”, diminuiu para 53,7. Na sexta (10), Bolsonaro teve o pior índice em todo o ano: 37,1 pontos
É o que mostra levantamento feito pela consultoria Quaest divulgado, nesta segunda-feira (13), pela Folha de S.Paulo. O presidente prova do próprio veneno, que destilou na campanha que o elegeu em 2018, e durante todo o mandado presidencial até aqui. Os apoiadores não admitem recuos e/ou rendições.
A divulgação da “Carta à Nação”, recuo tático de Jair Bolsonaro, orientado pelo ex-presidente Michel Temer (MDB), após o 7 de setembro, Dia da Independência, fez a popularidade do presidente da República perder força nas redes sociais.
A pesquisa mede o IPD (Índice de Popularidade Digital) de Bolsonaro. Em 7 de setembro, quando houve as manifestações a favor do presidente, com discursos inflamados, em Brasília e São Paulo, ele chegou ao índice de 81,8 pontos, um dos maiores de 2021.
FRUSTRAÇÃO E QUEDA
No dia seguinte às manifestações, quarta-feira (8), o índice caiu para 62,4 pontos e, na quinta-feira (9), quando houve a divulgação da “Carta à Nação”, diminuiu para 53,7. Na sexta-feira (10), Bolsonaro teve o pior escore em todo o ano de 2021: 37,1 pontos.
Felipe Nunes, cientista político, professor da UFMG e diretor da Quaest, explicou que Bolsonaro criou expectativa na população, mas depois, voltou atrás. “Os atos do dia 7 trazem uma criação de expectativa. Bolsonaro foi capaz de fazer algo que quase ninguém hoje consegue, que é gerar expectativa. O processo de mobilização coordenada para os atos foi todo positivo para o presidente. O problema é que depois a euforia se transformou em frustração”, disse à Folha de S.Paulo.
Nunes afirmou que a movimentação de Bolsonaro desagradou os dois olhos: opositores e base.
O IDP, medido pela Quaest, avalia o desempenho de figuras da política nacional nas plataformas digitais: Facebook, Instagram, Twitter, YouTube, Wikipedia e Google. A performance é medida em escala que vai de 0 a 100, em que o maior valor representa o máximo de popularidade.
DISCURSO GOLPISTA E AMEAÇADOR DE BOLSONARO
Ele discursou na Avenida Paulista na tarde da última terça-feira (7). O principal alvo foi o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). “Ou esse ministro se enquadra, ou ele pede pra sair”, disse Bolsonaro. “A paciência do povo já se esgotou”, acrescentou.
Bolsonaro, eleito diversas vezes por meio das urnas eletrônicas, voltou a criticar o sistema de votação utilizado no país e também atacou o ministro Luís Roberto Barroso, atual presidente do TSE. “Nós acreditamos e queremos a democracia. A alma da democracia é voto. Não podemos admitir um sistema eleitoral que não traz qualquer segurança. E dizer que não é uma pessoa no TSE que vai nos dizer que esse processo é confiável e seguro.”
“Não podemos admitir um ministro do TSE também, usando sua caneta, desmonetizar páginas que criticam esse sistema de votação. Queremos eleições limpas com voto auditável e contagem pública dos votos. Não podemos ter eleições que pairem dúvidas sobre os eleitores”, bradou.
A PEC para instaurar o voto impresso foi rejeitada na Câmara, na comissão especial, e não alcançou quórum de 308 votos mínimos para ser aprovada no plenário.
“Não vamos aceitar que pessoas como Alexandre de Moraes continua [sic] a açoitar a nossa democracia e desrespeitar a nossa constituição”, discursou o presidente. Ele reclamou da determinação de Moraes de mandar prender Jason Miller, ex-assessor de Trump, ouvido no inquérito dos atos antidemocráticos. “Saia Alexandre de Moraes, deixa de ser canalha. Deixe de oprimir o povo brasileiro e censurar os seus adversários.”
RECUO NA “CARTA À NAÇÃO”
Dois dias depois, o presidente Jair Bolsonaro recuou e, em nota oficial, pregou harmonia entre os poderes da República. Incrédulos os apoiadores mais ferrenhos dele nas redes desceram o malho no presidente da República.
Dois dias depois de discursar em praça pública, que não respeitaria mais as decisões judiciais de Alexandre de Moraes, ministro do STF, Bolsonaro escreveu e falou na “live” de quinta-feira (9), que nunca teve intenção de agredir outros poderes. Ele atribuiu os ataques perpetrados ao STF ao “calor do momento”. A “Carta à Nação” teria sido escrita pelo ex-presidente Michel Temer, que foi chamado para orientá-lo e acudi-lo.
Temer tentou livrar a barra de Bolsonaro perante as instituições, embora poucos tenham acreditado na sinceridade de seu recuo, mas o comprometeu frente à base radicalizada dele nas redes sociais, muito bem cultivada, da campanha eleitoral ao longo do mandato.
“A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar”, Temer escreveu e Bolsonaro assinou.
Bolsonaro escreveu especificamente sobre a questão de Moraes, que entende que os conflitos são resultado das decisões do ministro tomadas no âmbito do inquérito das fake news. “Mas na vida pública as pessoas que exercem o poder, não têm o direito de ‘esticar a corda’, a ponto de prejudicar a vida dos brasileiros e sua economia. Por isso quero declarar que minhas palavras, por vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum.”
Temer admitiu no dia seguinte que chegou para almoçar com Bolsonaro, com a carta praticamente pronta. Bolsonaro, segundo Temer, fez poucas alterações.
M. V.