
Sem consenso com os grupos amotinados, o governador do Ceará, Camilo Santana, solicitou na quarta-feira (26) ao governo federal a prorrogação do decreto da Garantia da Lei da Ordem (GLO) no Estado.
A medida busca a autorização da continuidade da atuação das Forças Armadas na Segurança Pública do Estado, em crise há nove dias com o motim de grupos de PMs. Hoje há 2,5 mil homens do Exército Brasileiro e cerca de 500 da Força Nacional patrulhando as ruas da Capital, Região Metropolitana e algumas cidades do interior.
A proposta do governo do Estado, que elevou o salário de entrada de soldado de R$ 3.154,00 para R$ 4.500,00, colocando o Estado entre os cinco maiores salários de PMs do país, havia sido aceita pela categoria, mas um grupo, incitado por setores bolsonaristas da política local, apostaram todas as fichas no impasse e na crise.
Bandos de homens encapuzados e armados tomaram as ruas de Fortaleza e interior e inutilizaram viaturas, arrancaram policiais de dentro dos carros, apontaram armas para moradores e comerciantes e obrigaram-nos a fecharem as portas de suas lojas.
Na cidade de Sobral, a população, aterrorizada pelo vandalismo dos encapuzados, pediu ajuda ao senador Cid Gomes (PDT), que já foi governador do Estado. Este se deslocou para sua cidade natal e tentou mediar a situação. Cid enfrentou o motim sendo baleado com dois tiros no peito pelos milicianos infiltrados no movimento.
O senador foi alvo de oito tiros desferidos por três homens que ocupavam o 3º BPM da cidade. Dois desses tiros acertaram o peito do senador que desobstruía, com apoio de uma multidão e de uma retroescavadeira, a entrada do quartel invadido. Ele passou cinco dias internado e recebeu alta com duas balas alojadas no pulmão.
Depois de todo esse tumulto criado pelos amotinados, o ministro da Justiça, Sérgio Moro, esteve no Ceará para avaliar a situação e não tocou no vandalismo. O governo federal havia atendido ao pedido do governador Camilo Santana e enviado reforço para enfrentar a situação. Já chega a 195 o número de assassinatos no Estado desde o início do motim.
Sem fazer menção aos crimes e desmandos dos amotinados, o ministro Moro botou panos quentes no impasse. Ele disse que a situação estava “sob controle” e que a força federal não estava ali para acirrar os ânimos. A atitude foi vista como uma maneira de Bolsonaro usar Moro para acenar às suas bases amotinadas.
Nesta quinta-feira (27) a comissão dos três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – se reuniu para ouvir as propostas trazidas pelo porta-voz dos amotinados, o coronel reformado do Exército Walmir Medeiro. O colegiado busca uma saída institucional para a crise.
A comissão é formada pelo procurador-geral do Estado, Juvêncio Viana; pelo corregedor-geral do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará (TJCE), desembargador Teodoro Silva Santos; pelo deputado estadual Evandro Leitão (PDT); pelo procurador-geral de Justiça, Manuel Pinheiro; pelo presidente da Ordem dos Advogados no Ceará (OAB-CE), Erinaldo Dantas; e pelo coronel do Exército Marcos Cesário.
A pauta foi apresentada pelo interlocutor dos amotinados na reunião com a comissão, na manhã desta quinta-feira (27), na sede do Ministério Público do Ceará (MPCE), no bairro José Bonifácio. Ela inclui, ente outros pontos, a anistia administrativa e criminal e reajuste salarial maior garantindo a aplicação da inflação dos anos de 2021 e 2022.
O conjunto da pauta dos amotinados cresceu e já tem 18 pontos. O governador Camilo Santana já anunciou que a anistia não faz parte das alternativas que o governo estuda.
O coronel do Exército Walmir Medeiro, porta-voz dos amotinados, saiu da reunião dizendo que ela foi produtiva. “Tivemos uma discussão num bom nível e o que nós temos agora pra fazer vai ser de informação restrita, porque nós seguimos um protocolo de gerenciamento de crise que entende que a informação não deve circular de forma a gerar especulações”, informou.