Centenas de personalidades judaicas pedem sanções a Israel por genocídio em Gaza

Palestinos circulam pelas ruínas do bairro Sheikh Radwan, na cidade de Gaza, devastada por Israel (Omar al Qattaa/AFP)

Artistas, intelectuais, líderes políticos norte-americanos e israelenses conclamam a ONU, a Corte de Haia e governos de todo o mundo a elevarem a pressão para responsabilizar Israel por seus crimes de guerra e exigir fim às atrocidades contra os palestinos

Uma carta aberta, assinada por 460 destacadas personalidades judaicas, inclusive israelenses, chamam a atenção da ONU e dos líderes de todo o mundo para “as degradantes condições impostas pela ocupação, apartheid e negação dos direitos palestinos”.

As personalidades judaicas destacam que nada disso é alertado no acordo proposto por Trump que levou ao cessar-fogo extremamente precário ainda em Gaza.  

Por essa razão e para dar um basta às atrocidades cometidas pelo regime israelense, os judeus conclamam a que se torne o acordo de cessar-fogo em instrumento de uma virada rumo a uma paz justa e duradoura.

Na carda aberta, “Judeus exigem ação”, divulgada nesta quarta-feira, 22, líderes incluindo o ex-presidente do Knesset, Avraham Burg, a escritora judia-americana Naomi Klein, o ex-negociador de acordos anteriores com os palestinos, Daniel Levi, e o cineasta ganhador recente do Oscar, Yuval Abraham, demandam sanções a Israel até que sejam respeitadas das leis e resoluções internacionais referentes aos direitos do povo palestino.

CARTA LEMBRA PROCLAMAÇÃO DE EINSTEIN E ARENDT DIANTE DO TERRORISMO CONTRA PALESTINOS

A carta endereçada ao secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, e aos líderes governamentais, é a primeira ação Judaica conjunta deste porte desde a declaração do cessar-fogo com a troca de prisioneiros entre israelenses e palestinos.

Ela segue a tradição inaugurada por Albert Einstein e Hanna Arendt em sua publicação denunciando o terrrorismo israelense contra aldeões palestinos, logo antes da implantação do Estado de Israel.

“É com grande alívio que damos as boas-vindas ao cessar-fogo”, diz a carta, e, “no entanto, não deve haver qualquer dúvida de que ele é frágil: as forças de Israel permanecem em Gaza, o acordo não faz referência à Cisjordânia, as questões básicas acerca das condições da ocupação, apartheid e a negação dos direitos palestinos seguem sem ser levadas em consideração”.

CHAMADO AOS LÍDERES MUNDIAIS 

Além disso, a carta chama os líderes mundiais a aderirem às leis internacionais, sancionar os cúmplices dos crimes de Guerra, garantir que a ajuda internacional chegue a Gaza.

Os judeus que firmam a carta também rejeitam a acusação de antissemitismo como falsidade contra aqueles que advogam paz e justiça.

“O cessar-fogo deve ser o começo, não o fim. O risco de que se reverta em uma realidade política de indiferença com a ocupação e a permanência do conflito e muito grande. A pressão deve ser continuada para que se avance rumo a uma era de paz e justiça para todos – tanto judeus como palestinos”.

Em entrevista ao jornal israelense, um dos idealizadores da carta, o ex-presidente do Knesset, Avraham Burg declarou:

“Através de toda a escuridão de Gaza, nunca parei de escrever e defender meus valores. Disso emergiu este projeto que apoiei de todo o coração”.

“Chegamos a um momento de ruptura existencial”, prosseguiu Burg, “Meu país está em conflito com meus mais profundos valores humanos e judaicos. Entre um aparato estatal sequestrado e as fundações morais de meu povo a escolha é clara”.”

“NÃO AO FANÁTICO SUPREMACISMO JUDAICO”

Em agosto Burg havia chamado os judeus em todo o mundo a se unirem em uma petição levada à Corte de Haia acusando Israel de crimes contra a humanidade e no chamamento escreveu: “Precisamos de um milhão de judeus, menos de 10% da população judaica global para assinarem esta petição conjunta a Haia”, conclamou.

“Eu cheguei à conclusão de que estava errado ao pensar que éramos poucos. Milhares de judeus em todo o mundo têm esperado por este chamado. O que vem acontecendo em Gaza e nos territórios palestinos ocupados não é judaísmo – é uma horrenda mutação religiosa e fanática. Temos que nos levantar contra ela, falar a verdade diante do poder e nos recusarmos ao silêncio” prosseguiu.

Judeus se manifestam em Nova Iorque contra o bombardeio a Gaza (Adam Gray/Reuters)

“Penso que veremos mais gente que não se dispõe a votar ao dia a dia usual após este frágil cessar-fogo. Dizem que isto tem de mudar. Temos que, fundamentalmente, exigir aquilo pelo qual nos levantamos. Porque um retorno vazio ao status quo de 6 de outubro só nos vai levar a mais desastre. A pressão funciona. A responsabilização importa. Não podemos seguir como se nada tivesse acontecido”.  

“Ao longo da história judaica, houve momentos em que a maioria seguiu cegamente líderes desastrosos e foram os poucos que se ergueram contra eles para preservar as mais nobres e grandiosas tradições. Isso aconteceu antes e é nosso dever mais uma vez”, alertou Burg.

“A minoria justa deve oferece um guia de vida à maioria desencaminhada. Devemos nos opor às ideologias de supremacismo judaico e à liderança de um primeiro-ministro corrupto que nos sacrifica a todos no altar de seus próprios interesses egoístas e ruínas letais”.

O ex-negociador por Israel, Daniel Levy, que assina a carta, disse que a iniciativa é para “superar o que foi negligenciado por décadas: a recusa â busca de qualquer caminho político para atender e resolver a questão da ocupação e ao permanente conflito. Isso nunca poderia nos levar à segurança ou bem-estar”.

A iniciativa, acrescentou Levy, é encontrar outras vozes judaicas. “Elas não são difíceis de encontrar, elas seguem se proliferando, muitos estão profundamente desgostosos com o que tem sido feito em nome do coletivo judaico, como se isso fosse aquilo que aprendemos da história judaica, como se este fosse o nosso destino”.

A carta ocorre no momento em que uma pesquisa conduzida pelo Washington Post mostra a desaprovação da agressão de Israel entre os judeus norte-americanos, com 61% dizendo que Israel cometeu crimes de guerra contra os palestinos em Gaza.

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