Os protestos se estendem por duas semanas exigindo eleições já e renúncia da presidente empossada, Dina Boluarte
“O governo de Dina Boluarte, respaldado por setores extremistas do Congresso golpista, no interior das Forças Armadas e da Polícia Nacional, com o aval da oligarquia e do poder midiático, conformam agora uma ditadura cívico-militar”, denuncia o líder da Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru, Geronimo López Sevillano.
Conforme Geronimo, os governistas “deram carta branca aos militares para que reprimam selvagemente a manifestantes desarmados e assassinem compatriotas”.
Assassinar pessoas desarmadas que buscam a antecipação das eleições gerais para o próximo ano, sob a acusação de “vândalos” e “terroristas” para justificar sua repressão, é algo totalmente insustentável. “Cedo ou tarde”, asseverou, haverá justiça e se fará com que os autores intelectuais e materiais respondam ante os tribunais por estes “crimes de lesa-humanidade”.
O secretário-geral da CGTP ressaltou que “o governo golpista também está perseguindo as organizações sociais, invadindo e intervindo em suas sedes”. Diante disso, “reiteramos o direito dos cidadãos de protestarem e exigimos a libertação dos líderes populares, bem como a restituição das liberdades democráticas”. O diálogo social que o governo alega querer realizar, acrescentou, “não pode ser coagido a balas”.
Geronimo apontou que “nesta aventura extremista e golpista também embarcaram os que conformam o inconstitucional ‘Conselho de Estado’: Executivo, Legislativo, Judiciário, Promotoria, entre outros, violando a separação de poderes”.
“SETORES EXTREMISTAS FASCISTÓIDES”
Para a CGTP, a mobilização de “setores extremistas fascistóides” tem o claro intuito de gerar uma confrontação entre os cidadãos, quando o caminho é o diálogo. “A saída democrática da atual crise são as eleições gerais, outorgando o poder ao povo soberano, convocando uma Assembleia Constituinte que redesenhe um Estado democrático e inclusivo que ponha os interesses das pessoas por cima dos oligopólios, das ‘elites políticas’ a serviço e das máfias de todo tipo incrustradas no Estado”, avalia.
Em virtude deste clima de abusos e atropelos, a entidade convocou os peruanos a se manterem mobilizados, e anunciou para o início de janeiro a realização de uma Assembleia Nacional para definir uma série de ações pela redemocratização.
CONGRESSO DE COSTAS À POPULAÇÃO
Enquanto isso, como expressou o Diário Uno, “de costas à população, o plenário do Congresso aprovou com 93 votos a favor, 30 contra e uma abstenção o texto substitutivo para que as eleições gerais sejam realizadas em abril de 2024 e nem sequer em dezembro de 2023, como havia se proposto na última sexta-feira”. “De acordo com a proposta da Comissão de Constituição presidida pelo fujimorista Hernando Guerra Garcia”, esclareceu o jornal, as eleições deverão ser convocadas pela presidente Dina para o encerramento do seu mandato e dos congressistas somente em julho de 2024.
Para a advogada da Associação Pró-Direitos Humanos (Aprodeh), na tentativa de impedir que o clamor popular prospere, está havendo uma coordenação do atual governo com os altos mandos militares e a Polícia Nacional, para sufocar o descontentamento “a ferro e fogo” ao dar “garantias e impunidades aos autores dessas mortes”.
Em confronto direto com as ruas, os parlamentares definiram que o projeto de reforma constitucional de adiantamento de eleições será votado em segundo turno somente em fevereiro de 2023, tentando ganhar tempo para criar um clima favorável a Keiko Fujimori, derrotada por Pedro Castillo nas últimas eleições presidenciais. Filha do ditador Alberto Fujimori (1990-2000), condenado a 25 anos de prisão por genocídio e crimes contra a humanidade, Keiko controla parte significativa do parlamento e da mídia peruana.