O comissário da Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA em inglês), Stephen Hahn, quando perguntado sobre as declarações de Donald Trump de que “99% dos casos (da COVID-19) são totalmente inofensivos”, respondeu: “Vemos o aumento nos casos e temos que fazer algo para conter a maré”. E, desmentindo o presidente, acrescentou que os dados da força-tarefa da Casa Branca “nos mostram que este é um problema sério. As pessoas precisam levá-lo a sério”.
Em um de seus discursos do último sábado em meio às comemorações do Dia da Independência do país, Trump disse que “agora temos feito provas a quase 40 milhões de pessoas. Ao fazê-lo mostramos diversos casos, 99% dos quais são totalmente inofensivos. Nenhum outro país pode mostrar estes resultados, porque nenhum tem as provas que temos, não em termos de números, não em termos de qualidade”, informou o jornal The Guardian.
No momento em que, na segunda-feira, 6, a pandemia de Covid-19 nos EUA registrou 130.090 mortos e 2.908.164 contágios, de acordo com o último balanço da Universidade Johns Hopkins, a Casa Branca não explicou como foi que o presidente determinou a cifra de 99% de casos inofensivos, nem ofereceu nenhuma evidência.
Anthony Fauci, o mais respeitado epidemiologista e principal especialista em doenças infecciosas do governo dos EUA, afirmou na semana passada que o país “não está no controle” da pandemia do coronavírus. E fez a assustadora advertência de que os casos da COVID-19 nos Estados Unidos podem subir para 100 mil por dia se a tendência atual “não mudar”.
Ao contradizer Fauci e outros especialistas, Trump fez mais uma afirmação sem fundamento: “Provavelmente teremos uma solução terapêutica ou uma vacina antes do final de ano”. A eleição na qual busca renovar seu mandato é no dia 3 de novembro.
O chefe da FDA não concordou com isso e assinalou que apesar de que tem se realizado em termos de esforços de pesquisa com uma velocidade sem precedentes, não se pode predizer quando haverá uma vacina. Poucos especialistas confiam em que até o final de ano haja uma vacina disponível de forma massiva.
As infecções pela COVID-19 têm aumentado em mais de 30 estados americanos nas últimas semanas. Prefeitos do Sul e do Oeste dos Estados Unidos alertaram que os sistemas de saúde de suas cidades estão em risco de entrar em colapso pelo aumento de contágios do coronavírus. Nos últimos dias, a Flórida registrou 10 mil novos casos, Arizona teve um recorde de hospitalizações e as unidades de cuidados intensivos em Houston, Texas, estão operando cerca de sua máxima capacidade.
Steve Adler, prefeito democrata de Austin, no Texas, criticou na segunda-feira, 6, a declaração de Trump no fim de semana. “É incrivelmente perturbador, e as mensagens vindas do presidente dos Estados Unidos são perigosas”, disse Adler à CNN. “Um dos maiores desafios que temos é o envio de mensagens de Washington que sugerem que as máscaras não funcionam ou que não são necessárias, ou que o vírus está desaparecendo por conta própria”, concluiu.
Com hospitais lotados e um número crescente de casos, vários prefeitos do Texas e outros líderes locais estão considerando reinstalar as quarentenas. As cidades estão se reunindo e pressionando o governador do Estado a devolver-lhes a autoridade para que imponham medidas locais de combate ao coronavírus, disse Adler.