
Enquanto os ânimos andavam para lá de exaltados na cúpula do G7 no Canadá, na cimeira da Organização de Cooperação de Xangai (OCX), realizada em Qingdao na China no mesmo final de semana, com o presidente Xi Jinping de anfitrião, ao contrário, tudo transcorreu na maior cordialidade, com a declaração final conclamando por uma nova ordem mundial multilateral, pacífica, mutuamente vantajosa e sem diktats, respeito à lei internacional e mediação dos conflitos. O encontro ressaltou que, com a adesão da Índia e Paquistão, a OCX se tornou uma organização regional “única, influente e respeitada”.
A OCX, que como Putin descreveu, começou modestamente para buscar solucionar os problemas de fronteira entre Rússia, China e repúblicas ex-soviéticas – e o enfrentamento dos petroterroristas -, hoje reúne a Rússia, China, Índia, Paquistão e mais Cazaquistão, Uzbequistão, Quirguistão e Tajiquistão. O Irã está na fila para ingresso em breve. A participação da Índia e Paquistão foi oficializada no ano passado.
Tornou-se a principal organização regional pelo desenvolvimento euroasiático, que atualmente se expressa na convergência do processo liderado por Moscou de União Euroasiática e da Iniciativa Cinturão-Estrada (BRI, na sigla em inglês), a “Rota da Seda”, que reconstrói a milenar ligação entre os principais centros europeus e asiáticos, através de uma miríade de ferrovias de alta velocidade, portos, portos secos, rodovias, redes de fibra ótica e indústrias.
A Índia ainda mantém restrições ao projeto da Rota da Seda, em decorrência de atravessar áreas de conflito com o Paquistão – mas recentemente Nova Delhi e Pequim reativaram as conversas.
Na cúpula de Qingdao, o presidente iraniano Hassan Rouhani recebeu o apoio explícito da OCX à preservação do Acordo Nuclear que Trump rasgou. A organização também se solidarizou com os esforços da Síria para superar a agressão e a guerra, e com as negociações de paz no Afeganistão.
Como afirmou Xi na abertura, “devemos respeitar a escolha de caminhos de desenvolvimento um do outro e acomodar os principais interesses e preocupações de cada um. Devemos melhorar a compreensão mútua, colocando-nos nas posições dos outros e impulsionando a harmonia e a unidade, buscando o terreno comum e superando as diferenças”.
A cimeira foi precedida por encontro entre o presidente Xi e o presidente russo Vladimir Putin, que foi condecorado e chamado pelo líder chinês de “meu melhor e mais próximo amigo”. No encontro, Xi fez questão de afirmar que a “parceria estratégica abrangente” da China-Rússia está “no nível mais alto, é a mais profunda e estrategicamente mais significativa relação entre os principais países do mundo”.
Entre as deliberações acertadas por Xi e Putin estão o aumento do uso das moedas nacionais (rublo e yuan) no intercâmbio comercial bilateral, no investimento e no financiamento, bem como esforços para harmonizar programas e estratégias para desenvolver as economias nacionais. No ano passado, 9% dos fornecimentos russos foram pagos em rublos, enquanto as empresas russas pagaram 15% das suas importações da China em yuans, contra respectivamente apenas 2% e 9% há três anos.
Grandes projetos comuns, como o desenvolvimento de um avião comercial de passageiros da categoria dos maiores da Boeing e Airbus segue em frente, assim como os gasodutos em implantação e a planta de GNL. A estatal de energia nuclear russa Rosatom irá construir quatro centrais nucleares na China e fornecerá reatores a nêutrons rápidos, jóia tecnológica russa, que permite reduzir ao mínimo os dejetos radiativos, para uso do programa espacial chinês. A China vai participar da modernização dos portos da rota do Norte, no Ártico, que encurta significativamente o trajeto até os principais centros europeus.