
Senador joga, ainda, uma batata quente na mão de outra provável candidatura “da direita”: desde que “se comprometa” a anistiar o ex-presidente
Ciro Nogueira, senador, presidente do Progressistas (PP) e ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL), parece já não acreditar mais na possibilidade de seu ex-chefe disputar o pleito de 2026.
Em entrevista à Globo News, ao falar sobre outro postulante “da direita” que substituiria o ex-presidente, condicionou o apoio: “qualquer que seja o candidato, se o Bolsonaro for condenado, (desde que) se comprometa a anistiá-lo para repor essa injustiça que está sendo cometida contra o presidente”.
Realmente, a possibilidade de Bolsonaro participar do pleito é quase (pois a política não é uma ciência exata) inexistente, pois, além da inelegibilidade já definida pela Justiça Eleitoral em ação com trânsito em julgado pelo uso da Presidência da República para beneficiar-se na disputa de 2022, o ex-presidente já foi indiciado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), após denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR), pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.
A investigação aponta uma ação estruturada e coordenada para manter Bolsonaro no poder após sua derrota na eleição de 2022.
Outra condenação, portanto, é iminente, diante das provas robustas colhidas ao longo de meses de investigação, sem falar nos relatórios que a Polícia Federal (PF) está ultimando e torno de dois episódios também espinhosos para Bolsonaro: a falsificação dos cartões de vacina e o desvio – para não dizer furto – de joias pertencentes ao patrimônio público nacional para benefício pessoal. Segundo a PF, os indícios, nesses dois casos, são “sólidos” e “detalhados”, devendo vir a público em breve.
Ciro Nogueira é um aliado de Bolsonaro, mas sabe das dificuldades para que as barreiras sejam superadas até o próximo pleito presidencial, razão pela qual quer empurrar para o “candidato da direita”, se é que vai haver apenas um – Ronaldo Caiado, governador de Goiás pelo União Brasil, já disse que sua candidatura é irreversível e acaba de anunciar como seu vice outro goiano, o cantor bolsonarista Gustavo Lima -, o compromisso de “anistiar” o ex-mandatário.
“Eu vou defender que qualquer que seja o candidato, se o Bolsonaro for condenado (esqueceu-se que já foi), se comprometa a anistiá-lo para repor essa injustiça que está sendo cometida contra o presidente”, afirmou Nogueira.
Caiado, pelos embates com o próprio Bolsonaro, que o chamou de “covarde” durante a campanha municipal de 2024, dificilmente aceitará o desafio, como qualquer outro candidato “da direita” terá diante de si uma tarefa difícil, em razão da ficha corrida do ex-presidente que, até 2026, ganhará, certamente, novos e graves registros.
Além disso, do ponto de vista estritamente técnico do direito, como falar em “anistia política” a quem agiu flagrantemente contra o Estado Democrático de Direito e a Constituição Federal, desviou joias do acervo público para se enriquecer e mandou falsificar cartões de vacina.
Seria o mesmo que, sob um falacioso pretexto político, premiar um criminoso.
No fundo, Nogueira sabe disso, mas não se faz de rogado para agradar o ex-chefe, algo pouco provável que aconteça, pois Bolsonaro está obcecado com a ideia de ser candidato, pela sua natureza, e continuará nessa obsessão por um bom tempo.
Sua narrativa é oposicionista, mas é sempre bom lembrar que o ex-líder da bancada do PP na Câmara dos Deputados, André Fufuca (MA), é o atual ministro do Esporte do governo Lula e, até o momento, não deu nenhum sinal de que pretende deixar a pasta.
O fato é que, na prática, com sua declaração, o senador bolsonarista descartou Bolsonaro para 2026 e ainda condicionou seu apoio: só será dado ao candidato da “direita” que segurar essa batata quente da “anistia” ao “injustiçado”.
MAC