“A Igreja Católica não faz barganhas”, alertou a entidade
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) repudiou os pedidos de verbas estatais feitos ao governo Jair Bolsonaro por uma ala da igreja católica, em troca de notícias favoráveis ao governo em canais de rádio e TV. Por meio de nota, a CNBB demonstrou indignação com a atitude de representantes desses canais, disse que não representam a instituição e que a igreja não atua em troca de favores.
A nota da entidade, que orienta a atuação da Igreja Católica no país, foi emitida após reportagem do jornal Estado de S. Paulo publicada neste sábado (6), sobre a reunião de Jair Bolsonaro com representantes de grupos católicos e parlamentares, onde foi oferecido o apoio dessas emissoras de TV ao governo em troca de veiculação de mais publicidade oficial.
“Recebemos com estranheza e indignação a notícia sobre a oferta de apoio ao governo por parte de emissoras de TV em troca de verbas e solução de problemas afeitos à comunicação. A Igreja Católica não faz barganhas”, declarou a CNBB. “Não aprovamos iniciativas como essa, que dificultam a unidade necessária à Igreja, no cumprimento de sua missão evangelizadora, ‘que é tornar o Reino de Deus presente no mundo'”, diz a nota, ao citar o Papa Francisco.
A CNBB, juntamente com a SIGNIS Brasil e a Rede Católica de Rádio (RCR), associações de caráter nacional que reúnem as TVs e rádios católicas do Brasil, informam que “não organizaram e não tiveram qualquer envolvimento com a reunião entre o presidente da República, Jair Bolsonaro, representantes de algumas emissoras de TV de inspiração católica e alguns parlamentares”.
O padre Reginaldo Manzotti, da Associação Evangelizar é Preciso, com rádios e TV próprias, participou da reunião e pediu para o governo recursos para seus veículos e destacou o contraponto que os católicos podem fazer para frear o atual desgaste de Bolsonaro e do governo. “Nós somos uma potência, queremos estar nos lares e ajudar a construir esse Brasil. E, mais do que nunca, o senhor sabe o peso que isso tem, quando se tem uma mídia negativa. E nós queremos estar juntos”, disse Manzotti, dirigindo-se ao presidente da República.
O empresário João Monteiro de Barros Neto, da Rede Vida, afirmou que “Bolsonaro é uma grande esperança”. Declarou, ainda, que veículos católicos precisam ser “verdadeiramente prestigiados”. Ele ainda pediu mais entrevistas, como também a participação do presidente em eventos promovidos por católicos. “A Rede Vida é a quarta maior rede de TV digital do País, mas, para que possamos crescer, precisamos ter mais investimentos”, argumentou ele.
A CNBB declarou que emissoras intituladas “de inspiração católica” possuem naturezas diferentes, podendo ser geridas por associações e organizações religiosas, como também por grupo empresarial particular, seguindo seus próprios estatutos e princípios editoriais. “Contudo, nenhuma delas e nenhum de seus membros representa a Igreja Católica, nem fala em seu nome e nem da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que tem feito todo o esforço, para que todas as emissoras assumam claramente as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil”, informou a instituição maior da igreja católica no País.
Ainda segundo a CNBB “é urgente, que nestes tempos difíceis em que vivemos, agravados seriamente pela pandemia do novo coronavírus, que já retirou a vida de dezenas de milhares de pessoas e ainda tirará muito mais, que trabalhemos verdadeiramente em comunhão, sempre abertos ao diálogo”.
Emissoras de TV ligadas a grupos religiosos receberam, no ano passado, R$ 4,6 milhões em pagamentos da Secom por veiculação de comerciais institucionais e de utilidade pública. Os veículos católicos ficaram com R$ 2,1 milhões e os protestantes, com R$ 2,2 milhões. Em 2020, emissoras de TV católicas receberam, até agora, R$ 160 mil, enquanto as evangélicas, R$ 179 mil, de acordo com planilhas da Secom.
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