“É fundamental que o BCB retome os cortes na taxa de juros o quanto antes”, defende Ricardo Alban, presidente da entidade
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) recebeu com “total indignação” a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de elevar a taxa básica da economia (Selic) em 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano, dando início a um novo ciclo e aperto monetário.
De acordo com manifestação da entidade, divulgada no site, a “alta dos juros vai prejudicar a criação de emprego e renda para a população”.
Segundo o presidente da CNI, Ricardo Alban, a alta da Selic não apenas impõe custos desnecessários sobre a economia, como coloca o Brasil na contramão do que a maioria dos países, desenvolvidos ou em desenvolvimento vem fazendo. “É emblemático que no mesmo dia em que os Estados Unidos decidem baixar a taxa básica após meses, o Brasil resolva o contrário, elevar a Selic. Torna a nossa diferença de juros reais ainda mais grave e cria condições desfavoráveis ao investimento no país. Até que ponto a especulação do mercado futuro de juros influencia as narrativas da expectativa de inflação futura?”, questiona Alban. “O cenário internacional é de tendência de flexibilização do aperto monetário”.
“É emblemático que no mesmo dia em que os Estados Unidos decidem baixar a taxa básica após meses, o Brasil resolva o contrário, elevar a Selic. Torna a nossa diferença de juros reais ainda mais grave e cria condições desfavoráveis ao investimento no país. Até que ponto a especulação do mercado futuro de juros influencia as narrativas da expectativa de inflação futura?”, questiona Alban
Na semana que antecedeu a reunião do BC, o Banco Central Europeu (BCE) promoveu o segundo corte consecutivo de juros, reduzindo a taxa para 3,5% a.a. Ontem, foi a vez do FED (Banco Central dos EUA), que iniciou um ciclo de cortes na taxa de juros.
POLÍTICA MONETÁRIA BASTANTE CONTRACIONISTA
Para a CNI, “a política monetária é bastante contracionista”. Em agosto, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou deflação de -0,02%. Em doze meses até agosto, a inflação foi de 4,24%, 0,26 p.p. menor que a de julho (4,50%). De acordo com a CNI, isso é importante porque, além de apontar desaceleração, mostra que a inflação acumulada em 12 meses voltou a ficar abaixo do teto da meta, que é de 4,5%.
A CNI ressalta que “a expectativa de inflação no horizonte relevante, aquele intervalo de 18 meses à frente, no qual o Banco Central se baseia para definir o nível da Selic, estaria em 3,2% ao final desse período – considerando a Selic fixa em 10,5% a.a. Ou seja, apenas 0,2 p.p. acima da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 3%”.
A CNI alerta para o elevado patamr dos juros reais no Brasil, entre os maiores do mundo. De acordo com a entidade, considerando o aumento da Selic para 10,75% a.a., e a expectativa de inflação de 4,08% para os próximos 12 meses, a taxa de juros real subiu para 6,41 a.a.
O resultado, de acordo com a entidade da indústria, é que a alta da Selic mantém o Brasil em 3º lugar entre as maiores taxas de juros reais do mundo, atrás apenas de Turquia e Rússia. “Juntamente com o nosso problema de elevado spread bancário – também o 3º maior do mundo –, esse fator empurra o país para fora da disputa mundial pela produção”, resssalta.
A entidade afirma, também, “que esse aumento na taxa de juros ‘joga contra’ a recuperação da indústria de transformação e do investimento, que começou a ganhar tração recentemente, depois de terem registrado queda em 2023”.
“Por tudo isso, fica claro que subir a Selic foi uma decisão totalmente equivocada do BCB. Nesse contexto, é fundamental que o BCB retome os cortes na taxa de juros o quanto antes. Apenas com um ambiente de menor custo de financiamento é que as empresas conseguirão viabilizar projetos de investimento que são essenciais para o aumento da produtividade e da capacidade produtiva, com ganhos para o crescimento da economia”, afirma Ricardo Alban.