Com 5 votos contra habeas corpus para blogueiro golpista, Kássio Nunes paralisa julgamento

Kássio Nunes Marques é o ministro do STF indicado por Bolsonaro. Foto: Nelson Jr. - SCO - STF
Kássio Nunes Marques pediu vistas no julgamento sobre manutenção da prisão de blogueiro bolsonarista Allan dos dos Santos atualmente foragido nos EUA. Ministro bolsonarista cumpre script do chefe do Executivo

O ministro bolsonarista escolhido pelo chefe do Poder Executivo cumpre script determinado pelo chefe. Após votarem cinco ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) para manter a prisão preventiva do blogueiro e militante bolsonarista Allan dos Santos, Kássio Nunes Marques interrompeu o julgamento do recurso que estava em plenário virtual até esta sexta-feira (6), com pedido de vista.

A discussão ocorre no julgamento do HC (Habeas Corpus) 208.549.

Allan dos Santos tenta novamente se livrar da prisão preventiva decretada contra ele pelo ministro Alexandre de Moraes. Na primeira tentativa, o habeas corpus foi negado pelo relator, ministro Edson Fachin.

Agora, o blogueiro tenta, via agravo regimental, reverter essa decisão com o voto de todos os ministros.

No processo civil, o agravo regimental é aquele interposto para impugnar decisões tomadas individualmente pelo relator de outro recurso. São também denominados “agravinhos” e agravo interno e estão previstos nos regimentos internos dos tribunais.

Fachin reforçou o que já tinha expressado em dezembro: de que há posição majoritária da Corte no sentido de que não é cabível habeas corpus contra decisão monocrática proferida por ministro do Supremo, como é o caso de Allan dos Santos, que teve a prisão decretada por Alexandre de Moraes.

Fachin aplicou a Súmula 606 do Supremo, que enuncia: “Não cabe habeas corpus originário para o Tribunal Pleno de decisão de Turma, ou do Plenário, proferida em habeas corpus ou no respectivo recurso”.

Com o pedido de vista efetuado por Nunes Marques, não há prazo regimental para a matéria voltar à pauta. Assim, Allan dos Santos segue impune e foragido, sob a guarida do presidente da República e dos filhos dele, nos Estados Unidos.

VOTO DOS MINISTROS

Acompanhavam o relator, os ministros Gilmar Mendes, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski e Rosa Weber. O ministro Alexandre de Moraes se declarou impedido.

Em manifestação pelo habeas corpus, o blogueiro bolsonarista defende que o bloqueio de todas as contas bancárias do Terça Livre TV configura violação à liberdade de imprensa.

Ainda na manifestação, ele afirma também que decisão de Moraes está repleta de “expressões e opiniões eivadas de subjetivismo incompatível com jus persequendi, torna impraticável o exercício do contraditório e da ampla defesa, o que constitui por si só teratologia, ilegalidade ou abuso flagrante”.

ARGUMENTOS DA DEFESA

A defesa de Allan dos Santos também argumenta que a prisão preventiva é uma “pena antecipada de supostos crimes que nunca chegaram a embasar qualquer oferecimento de denúncia” e escreve ainda que a decretação de prisão preventiva no caso concreto é abusiva e o blogueiro não possui foro por prerrogativa de função.

Também sustenta que a ordem de extradição emanada na decisão é ilegal, pois desconsidera o rol taxativo de crimes previstos no artigo II do Tratado de Extradição assinado entre Brasil e Estados Unidos (Decreto 55.750/65). O blogueiro está foragido nos Estados Unidos.

A defesa de Santos também ataca o inquérito das fake news, sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes, e diz que se trata de “típica operação de fishing expedition [procura especulativa], subvertendo a lógica da investigação criminal, pois, em lugar de se delimitarem fatos ilícitos e seus possíveis autores por meio de diligências investigativas para, somente então, deflagrar medidas extremas contra os investigados, a relatoria do inquérito elegeu alvos e agora busca eventual delito por eles praticados”.

Os argumentos da defesa são furados e foi assim que viram os cinco ministros que votaram contra o habeas corpus em favor do blogueiro golpista.

M. V.

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