Atacou Suprema Corte pelo fato dos ministros simplesmente cumprirem suas obrigações. “O Judiciário tenta assumir um papel hegemônico que não lhe pertence”, disse o auxiliar de Bolsonaro
O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, manifestou, através de um áudio vazado, a sua inconformidade com as normas constitucionais vigentes no país. Insinuou que não é papel do Supremo Tribunal Federal (STF) zelar para que todos os brasileiros, desde o cidadão comum até o presidente da República, cumpram fielmente a Constituição. Ele acha que o “chefe” pode afrontá-la.
Em evento da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na terça-feira (14), o ex-ajudante de ordens do general Silvio Frota, ministro do Exército no governo Geisel e afastado após vários conflitos, entre eles os assassinatos do operário Manuel Fiel Filho e do jornalista Wladimir Herzog, criticou as atitudes de “dois ou três” ministros da Corte – sem citá-los nominalmente – e argumentou que o Judiciário tenta assumir um papel hegemônico “que não lhe pertence”.
Heleno acha que é ele e não o STF que deve interpretar a Carta Magna. “Há uma divergência entre os Poderes, vou evitar usar um termo mais forte”, afirmou, em tom de ameaça. “Temos um dos Poderes que resolveu assumir uma hegemonia que não lhe pertence (…) e está tentando esticar a corda até ela arrebentar. Nós estamos assistindo a isso diariamente, principalmente da parte de dois ou três ministros do STF”, acrescentou.
“Eu, particularmente, que sou o responsável por manter o presidente informado, tenho que tomar dois lexotan (remédio para manter a calma) na veia por dia para não levá-lo a tomar uma atitude mais drástica em relação ao STF”, continuou o ministro, revelando nitidamente que não é só Bolsonaro que externa arroubos golpistas. A chantagem foi revelada pelo portal Metrópoles.
Parecendo estar com saudades dos tempos do arbítrio e dos atentados, Heleno se esforçou para tentar jogar na oposição a sanha conspiratória do Planalto. “Tenho uma preocupação muito grande com esse 2022, porque acho também que uma medida muito simples para mudar, em 10 segundos, 20 segundos, totalmente o panorama brasileiro. Um atentado ao presidente da República bem-sucedido modifica totalmente a história do Brasil. Tenho plena consciência disso”, afirmou o auxiliar de Bolsonaro.
As evidências são cada vez mais fortes de que Bolsonaro será derrotado pelo povo nas urnas. Mas, Heleno insiste em usar o submundo em que vegeta para insinuar que o povo poderia usar outros caminhos que não as urnas para defenestrar o atual governo. “A partir da virada do ano, vou todo dia à Igreja rezar alguma coisa, vou ao Centro Espírita também, aos evangélicos, tudo o que tiver por aí, torcer para que ninguém adote essa solução como uma solução que é, é a solução mais rápida, mais viável, com mais resultado. É eliminar a figura do presidente da República”, afirmou.
O STF, que agora sofre esses ataques descabidos de Augusto Heleno, tem cumprido um papel chave para impedir que a Constituição brasileira seja rasgada por Bolsonaro e suas milícias. O ápice da trama golpista ocorreu no último Sete de Setembro, quando Bolsonaro chamou um dos ministros da Corte de “canalha” e ameaçou tentar afastá-lo do cargo diante da uma multidão na Avenida Paulista. Ele só não contava com o repúdio geral que tomou conta de todo o país.
Imediatamente a sociedade reagiu indignada e o Supremo respondeu duramente às ameaças. O resultado foi que alguns dias depois, Bolsonaro foi obrigado a botar o galho dentro e a se desculpar.
As declarações de Augusto Heleno ressuscitam as aleivosias fascistas. De novo o repúdio se generalizou. O deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ), líder da oposição na Câmara, propôs convocar o ministro a depor para esclarecer o que ele classificou como um “ataque à democracia”. O líder do PT na Câmara, deputado Bohn Gass, disse considerar a fala como uma “ameaça de tentativa de golpe” e de rompimento com a Constituição.