Ao ministro se somaram mais de 1.500 empresários e representantes do mercado financeiro, que, em manifesto, condenaram o negacionismo de Bolsonaro, os milhões que responderam às pesquisas e bateram panela de quarta-feira (24) e, agora, os estudantes de medicina da USP que, nesta quarta-feira (25), cercaram o ministro da Saúde de Bolsonaro em protesto durante sua visita ao Estado
A ironia do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, ao anúncio de Jair Bolsonaro da criação de um comitê científico para lidar com a pandemia um ano após o seu início e depois dela já ter matado mais de 300 mil pessoas, não é um fato isolado.
Cada vez mais a sociedade brasileira firma a convicção de que a sabotagem de Bolsonaro às medidas sanitárias contra o vírus foi uma das causas que agravaram toda essa mortandade.
Barroso comentou o anúncio do governo na abertura da sessão da Corte da quarta-feira (24). “Feliz de saber que, com um ano de atraso, resolveram montar uma comissão de especialistas e médicos. Com um ano de atraso e 300 mil mortos ”, disse Barroso.
Mesmo com anúncio, Bolsonaro seguiu insistindo no uso da cloroquina, droga sabidamente ineficaz, no tratamento da Covid-19. Na saída da reunião com os representantes dos demais poderes, Bolsonaro repetiu a cantilena de que os médicos têm que ter o direito e o dever de prescrever o seu kit charlatanice.
O ministro Luiz Fux, presidente do STF, esteve, naquela mesma manhã, no encontro com o governo, representando o Poder Judiciário. “Foi muito bom”, concordou Fux, também em tom irônico, sobre o atraso do governo federal.
As últimas pesquisas reforçam a crescente insatisfação da população com a insanidade e a inação do governo. Elas mostram um crescimento acelerado dos que condenam a atuação negacionista de Bolsonaro na pandemia.
Entre janeiro e março o número dos que acham ruim ou péssimo o comportamento de Bolsonaro na pandemia, subiu de 48% para 54% dos entrevistados pelo Instituto Datafolha, divulgado na semana passada. Já os números dos que achavam ótima ou boa a atuação dele caiu de 26% para 22% o mesmo período. Uma clara desaprovação ao modo com que ele encara a pandemia.
Mas não foi só isso. O próprio presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), aliado de Bolsonaro, na quarta-feira (24), em discurso na Câmara, depois de participar da reunião com o presidente e outros representantes do governo, deu um recado duro a Jair Bolsonaro.
Se não mudar o comportamento, disse veladamente, uma medida mais dura, “fatal”, como disse, vai entrar na agenda do Parlamento. Embora, em nenhum momento tenha usado literalmente o termo impeachment, para bom entendedor, meia palavra basta.
Nesta mesma semana foi lançado um manifesto intitulado “País Exige Respeito; a Vida Necessita da Ciência e do Bom Governo”. O documento é assinado por mais de 1.500 empresários, banqueiros, economistas, ex-ministros, ex-presidentes do Banco Central, representantes do mercado financeiro, etc. Ou seja, a elite econômica do país também passa a criticar o negacionismo de Bolsonaro e exige mudanças de rumos no enfrentamento da pandemia. “A situação econômica e social é desoladora” e “a vacinação em massa é condição sine qua non para a recuperação econômica e redução dos óbitos”, diz um trecho do manifesto.
Na noite de terça-feira (23) um gigantesco panelaço foi realizado em todo o Brasil em protesto à fala de Bolsonaro e cadeia nacional. E, na manhã desta quinta-feira (25), os estudantes da Faculdade de Medicina da USP se somaram aos protestos contra o governo. Ou seja, cresce o repúdio a Bolsonaro.
Os estudantes cercaram o novo ministro da Saúde de Bolsonaro, durante sua visita à Secretaria de Saúde de São Paulo. Todos de máscaras, eles leram uma carta acusando o governo federal pelas mortes das 300 mil pessoas que foram vítimas do coronavírus e acusaram Jair Bolsonaro de genocida.
Quando o ministro apareceu publicamente os estudantes da medicina da USP entoaram em coro: “mais vacina e menos cloroquina!”, “Bolsonaro genocida!” e “Fora Bolsonaro!”. Todos esses atos, revelam uma coisa: que o Brasil não está mais disposto a aceitar este comportamento criminoso do Planalto.