
A Comissão de Transição do Movimento Ao Socialismo (MAS) da Bolívia, que organiza a transferência do comando do país ao presidente eleito Luis Arce, revelou na sexta-feira (6) as condições em que o governo de fato, chefiado por Jeanine Áñez, entrega o poder.
O jurista Wilfredo Chávez, membro da Comissão afirmou, em coletiva de imprensa, que a auto-proclamada presidente Jeanine Áñez não só descumpriu com o seu compromisso de facilitar as informações, como foi pouco transparente, chegando inclusive a destratar os integrantes da Comissão.
“O que temos obtido são informações que não cumprem as expectativas mínimas que nos traçamos como Comissão, temos percebido a hipocrisia de várias autoridades que tinham se comprometido a dar-nos informação útil e oportuna, confiável e veraz”, assinalou.
“Temos que dizer claramente, estamos recebendo dados de um governo de desastre, uma informação caótica, uma informação que infelizmente demonstra e corrobora quase um ano de caos, um ano de roubo que houve ao Estado boliviano”, disse Chávez, informando que na maioria dos ministérios não estavam os titulares que deixaram essa delicada tarefa a subalternos.
Segundo o representante do MAS, o novo Governo de Luis Arce “não quer revanchismo, mas justiça diante de uma administração que quebrou a Bolívia”.
CORRUPÇÃO E ENDIVIDAMENTO DO PAÍS
Wilfredo Chávez informou que, nos poucos dias de trabalho realizado, a Comissão localizou cinco casos de corrupção.
Caso 1: Na noite da quinta-feira (5), o arquivo do Ministério de Saúde sofreu um estranho roubo de equipamentos informáticos e documentos sobre diversos projetos executados. Nesse caso se inclui a questão da aquisição a preços superfaturados de respiradores para doentes graves de Covid-19, sem respeito aos requerimentos técnicos, operação que envolve o entorno de Áñez.
Caso 2: A Comissão informou que, há poucas horas atrás, ao verificar a situação do Ministério de Obras Públicas, se descobriu que o vice-ministério de Moradia pagou de forma adiantada mais de 240 milhões de bolivianos (cerca de 35 milhões de dólares) à empresa Rosendo Barbery por um programa de construção de casas ainda não aprovado.
Caso 3: O governo Áñez entregou 40 mil hectares de terra no departamento (equivalente a Estado) de Santa Cruz à família do ministro de Economia, Branko Marincovic, entre os dias 21 e 26 de outubro, quando já estava clara a derrota deles nas urnas, sem esperar os 30 dias que, segundo a lei, se deve esperar para uma adjudicação como essa.
Caso 4: O governo não destinou recursos para a subvenção ao diesel, uma manobra, disse Chávez, que busca “que não haja diesel e criar aflição na população, no setor agricultor. Querem deixar-nos uma bomba de tempo”.
Caso 5: Suspenderam os subsídios de lactação e pré-natal. Porém, nos últimos dias, abriram licitações para fazer acordos espúrios com base nessa questão tão importante para a população.
A coletiva da Comissão finalizou ressaltando seu levantamento acerca de uma situação muito ruim da economia em geral. Informaram que o governo de Añez declarou que estava deixando 17 bilhões de bolivianos (dois bilhões 567 milhões de dólares) em caixa e, em realidade, deixa somente dívidas para o país.