
Ao aceitar Gina Haspel – conhecida como “Gina Sanguinária” e “Rainha da Tortura”- indicada por Trump para diretora da CIA, o Comitê de Inteligência do Senado dos Estados Unidos fez uma exposição reveladora da criminalidade do aparato de inteligência, bem como do papel do estado na desintegração dos processos democráticos.
O assunto em questão era se uma mulher que desempenhou um papel direto e íntimo na tortura de detidos mantidos incomunicáveis - em todo o planeta – deveria ser nomeada para chefiar o que um senador descreveu como a “principal agência de inteligência do mundo”.
A audiência foi marcada por homenagens tanto de democratas como republicanos ao trabalho de uma agência há muito tempo apelidada de “Assassina, Inc.” por seus crimes, incluindo a organização de assassinatos políticos, a criação de exércitos terroristas e a orquestração de golpes fascistas-militares.
Após a audiência, o senador da Virgínia Ocidental, Joe Manchin, se tornou o primeiro democrata a anunciar seu apoio à indicação, dizendo a Haspel o que já havia dito aos eleitores: “eu me orgulho do que vocês fazem nos serviços secretos”. O que pessoas como Haspel fizeram foi amplamente documentado no próprio relatório do painel de inteligência sobre tortura, divulgado em 2014, devido às objeções da CIA, que espionou funcionários do Senado e até invadiu o sistema de computação do comitê em um ataque direto aos poderes constitucionais do Congresso.
Nenhum membro do comitê, incluindo a democrata Dianne Feinstein, que o presidiu na época, achou por bem citar tal relatório. A versão não classificada de 500 páginas descobriu que as atividades lideradas por Haspel incluíam prender prisioneiros por períodos prolongados em caixas minúsculas, bater suas costas e cabeças repetidamente na parede, e usar uma técnica de “water boarding” em que a água é despejada através de um pano colocado sobre a boca e o nariz da vítima, induzindo ao afogamento.O Comitê descobriu que entre as centenas de pessoas que foram sequestradas, detidas e torturadas ilegalmente, alguns morreram como resultado de seu tormento..
Questionada sobre as práticas, Haspel respondeu: “acredito que a CIA fez um trabalho extraordinário para impedir outro ataque a este país, dadas as ferramentas legais que nos pediram para usar”.
Sua versão mal modificada da defesa inflamada pelos nazistas em Nuremberg foi que estava só seguindo ordens e que foi informada pelos superiores de que suas ações eram completamente legais – em flagrante violação às Convenções de Genebra, da Oitava Emenda à Constituição dos EUA e dos estatutos dos EUA proibindo tortura.
Ninguém foi punido pelos graves crimes cometidos pelo governo Bush, de uma guerra ilegal de agressão ao Iraque que ceifou mais de um milhão de vidas e à tortura sistemática de detidos. Avançando o slogan cínico de “olhar para frente, não para trás”, Barack Obama e seu Departamento de Justiça bloquearam qualquer processo contra os próprios torturadores da CIA ou aqueles, de George W. Bush e Dick Cheney, que supervisionaram suas atividades terríveis.
Obama promoveu John Brennan, que, como superior de Haspel na agência, desempenhou um papel importante no programa de raptos ilegais, extradição extraordinária e tortura. Brennan continuou a dirigir o programa de assassinato de drones de Obama antes de voltar para a CIA como seu diretor.
A tagarelice dos democratas sobre a moralidade é verdadeiramente obscena. Sua única preocupação é que a elevação de Haspel – conhecida por seus colegas agentes como “Bloody Gina” por seu gosto pouco saudável pela tortura – minará a capacidade de Washington de agitar a falsa bandeira dos “direitos humanos” para justificar futuros atos de agressão.
Talvez mais significativamente, ela seria o primeiro oficial de operações da divisão de Serviços Clandestinos da agência a se tornar o diretor da CIA desde a ascensão em 1973 de William Colby, famoso por sua direção da Operação Fênix, uma campanha massiva de assassinatos e tortura que ceifou a vida de dezenas de milhares de homens, mulheres e crianças no Vietnã.
Aqueles que apoiam a nomeação de Haspel – incluindo virtualmente todos os ex-diretores da CIA de administrações democratas e republicanas, juntamente com poderosas seções do establishment governante dos EUA – a vêem como candidata adequada para liderar uma agência que se prepara para a guerra no exterior e a repressão em casa.
Extraído de coluna de Bill Van Auken, publicada no site wsws.org