A Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins (CNTA) denunciou que há um número alarmante de infectados entre os trabalhadores de frigoríficos. Segundo a entidade, cerca de 20% da categoria já contraiu o vírus, o que daria aproximadamente 100 mil pessoas em todo o país.
Com ambientes fechados e muita gente trabalhando no mesmo espaço, os frigoríficos possuem as condições ideais para a proliferação do novo coronavírus.
O setor possui aproximadamente 500 mil trabalhadores e tem encontrado resistência para conseguir garantir um maior distanciamento na linha de produção nas fábricas. Segundo os sindicalistas, a resposta do governo federal e das empresas ao cumprimento das exigências de segurança para os funcionários não foram insuficientes e em muitos casos contribuíam para surtos no setor.
A JBS, por exemplo, maior empresa do ramo se recusa a negociar com o movimento sindical para garantir condições mais adequadas de trabalho, colocando em risco a vida de seus funcionários.
O presidente da CNTA, Arthur Camargo, afirma que “há casos em que metade ou quase metade dos empregados pegaram Covid-19. Em uma planta da JBS em Passo Fundo [RS], testaram 400 empregados e 180 tinham Covid. É um enorme problema”. Ele afirma que tem insistido em negociar com governo e empresas, mas que a resistência é grande.
No final de junho, uma decisão proferida pelo juiz do Trabalho Rodrigo da Costa Clazer suspendeu as atividades da Avenorte Avícola, na cidade de Cianorte, no interior do Paraná. No abatedouro, segundo o Ministério Público do Trabalho (MPT) entre os dias 19 de maio e 9 de junho, 193 trabalhadores testaram positivo para o coronavírus. Naquele momento, o número de contaminados na empresa era maior que o do próprio município.
“Se o número de contaminados está aumentando vertiginosamente somente entre os empregados da empresa, é porque o ambiente laboral está contribuindo decisivamente para a eclosão da doença. Por isso, ao que tudo indica, a doença se proliferou na empresa, causando um surto de COVID-19, de tal modo que, frise-se, não determinar a suspensão de todas as atividades é colocar em jogo, com risco real, o direito à saúde e vida de todos os empregados e terceirizados, que soma mais de 3.000 pessoas”, destaca em um trecho da decisão.
A China, maior parceiro comercial do Brasil, chegou a suspender as importações de carnes de alguns frigoríficos do país. Um problema com repercussões na economia que podem ser profundas. Em uma tentativa de responder às reclamações do setor, o governo publicou em junho uma portaria com medidas de segurança nas fábricas do setor.
“Não resolveu em nada. O que tivemos de um pouco mais efetivo foi um TAC [Termo de Ajustamento de Conduta] que o Ministério Público do Trabalho propôs e que a BRF [segunda maior do setor] e outras empresas aceitaram. Mas, a JBS não quer TAC, não dialoga conosco nem com o MP. Enfim, está focada em seu lucro”, denuncia Arthur.
Segundo Camargo, a principal medida que a categoria demanda é mais distanciamento nas fábricas. “Pedimos que seja de dois metros, para que, quando se movimentar, cada trabalhador consiga guardar pelo menos um metro e meio do colega. A portaria do governo sugere só um metro, e nem é uma exigência. Só os equipamentos de proteção individual não resolvem”, defende.