
“Imaginem se a embaixada russa publicasse um roteiro de manifestação com ‘destino ao Capitólio’”, denunciou a porta-voz Maria Zakharova
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, condenou a descarada interferência da embaixada norte-americana nos assuntos internos russos, ao publicar mapa com o roteiro das manifestações de sábado pró-caçador de marajás Alexei Navalny, declarando apoio.
Na véspera, a embaixada norte-americana, sob o pretexto de “aconselhar” cidadãos norte-americanos na Rússia a “evitarem” os comícios devido à “possível dispersão dos manifestantes”, publicou uma lista de uma dezena de grandes cidades com os locais e horários. Conforme a embaixada, em Moscou a concentração seria perto da Praça Pushkin por volta das 14 h para “marchar até o Kremlin”.
A Embaixada norte-americana também publicou “rotas de protesto” em São Petersburgo, Perm, Chelyabinsk, Novosibirsk, Krasnoyarsk, Omsk, Irkutsk, Khabarovsk, Vladivostok e Ulan-Ude.
Navalny, que tem sido insistentemente promovido nos últimos anos pela mídia ocidental, que só se refere a ele como o ‘principal opositor’ a Putin, é uma figura de trajetória opaca, sobre quem pesam acusações de vínculos com os serviços secretos estrangeiros e condenação por fraude e desvio de dinheiro, apesar de se autointitular ‘campeão da luta contra a corrupção’.
No ano passado, ele teve a vida salva por uma equipe hospitalar russa após mal súbito durante um voo e depois foi levado para a Alemanha. Lá, Navalny se prestou à repetição do enredo do ‘envenenamento por novichok’, já aplicado antes no chamado caso Skripal na Inglaterra, igualmente, sem apresentar qualquer prova.
E SE FOSSE “AO CAPITÓLIO?”
Como salientou Zakharova, imagine “o que teria acontecido se a embaixada russa em Washington tivesse publicado um mapa com rotas de protesto e seu destino final fosse o Capitólio, por exemplo”. Tais ações provocariam “histeria dos políticos americanos” e ameaças de expulsão dos diplomatas russos, acrescentou ela.
“O que era [tal publicação]: incitação ou instrução? Mesmo os organizadores não anunciaram esses roteiros”, registrou, ainda, Zakharova.
Navalny foi preso ao voltar à Rússia por violação de liberdade condicional – sua condenação por fraude e desvio de dinheiro tivera a pena suspensa após apelação, com a obrigação de se apresentar às autoridades judiciais periodicamente.
O repúdio à ingerência de Washington também foi enfatizado pelo porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, em entrevista ao canal de TV Rússia-1: “uma interferência absoluta em nossos assuntos internos”.
Se nossa embaixada agisse da mesma forma durante os tumultos nos EUA, assinalou Peskov, provavelmente haveria “desconforto em Washington”. “Portanto, sempre gosto de recomendar aos nossos parceiros que projetem esta situação sobre si mesmos”.
Peskov também contestou a tentativa de parte da mídia e de governos ocidentais de exagerar o significado desse tipo de ato político na Rússia, onde o apoio a Putin supera amplamente o número de manifestantes dessa “oposição”.
Por sua vez, a chancelaria russa ironizou no seu canal no Telegram o empenho da mídia imperial em inflar o peso dos atos pró-Navalny. Após uma agência de notícias atribuir “40 mil” no ato em Moscou, o canal afirmou: “porque não dizer logo 4 milhões?”.
Em nota oficial, a chancelaria russa recomendou às autoridades dos EUA atenção aos seus próprios problemas, lembrando que a sociedade americana se encontra em um estado de profunda divisão, gerado, entre outras coisas, pela perseguição aos dissidentes.
“As tentativas da diplomacia americana, ignorando toda a decência, de fato, de incitar elementos radicais estão fadadas ao fracasso e terão consequências negativas para as relações bilaterais”, advertiu o ministério.
Em Moscou, há também a percepção de que os atos por Navalny demonstram o empenho em interferir nas eleições parlamentares de setembro. O porta-voz Peskov também repeliu o mentiroso vídeo do ‘palácio de Putin’ na Costa do Mar Negro, divulgado pelo esquema de Navalny dois dias após sua prisão.
NAVALNY ENALTECIDO, ASSANGE TORTURADO
A hipocrisia da mídia e dos governos ocidentais também foi enfatizada pelo articulista Finnian Cunninghan, que comparou o tratamento dado por essa gente ao corrupto Navalny e a tortura sem fim do jornalista Julian Assange em um calabouço britânico, por ter denunciado os crimes de guerra dos EUA no Iraque e Afeganistão. “Navalny enaltecido, Assange torturado”.
“Em todos os anos de detenção bárbara de Assange, nunca houve uma fração do clamor oficial ocidental expressado por Navalny”, sublinhou Cunninghan, observando que isso se deve a que Navalny, “ao contrário de Assange, é um ativo [asset] político da agenda ocidental para minar a Rússia”.
“Há bons motivos para acreditar que o blogueiro-ativista russo é financiado e dirigido pelos serviços de inteligência ocidentais”, acrescentou o analista, apontando que sua atuação orquestrada conduz à percepção de que se trata de “um agente provocador”.
Em suporte disso, o analista registrou a forma como Navalny “coordenou de perto com a mídia ocidental e os serviços de inteligência como o Bellingcat para vender a história de que foi supostamente envenenado com o agente nervoso soviético Novichok”.
Em razão disso, concluiu: “é uma forte evidência de sua função provocadora”. E a forma como a mídia ocidental rotineiramente ‘relata’ o suposto envenenamento “como se fosse fato” é uma demonstração de como “é totalmente dominada e a serviço dessa agenda geopolítica”.
Para o articulista, nenhuma evidência do suposto envenenamento com um agente nervoso letal de grau militar foi apresentada pelas autoridades alemãs, assim como foi negado à Rússia o acesso a qualquer um de seus supostos dados, como exige a legislação internacional.