Habituados a conviver todos os dias com números dramáticos sobre novos casos de contaminação e de óbitos provocados pela Covid-19, especialmente nos países cujos governos negaram ou subestimaram a pandemia desde sua eclosão, deparamos com uma realidade bem distinta do outro lado do mundo, na pequena, mas corajosa, República Popular Democrática da Coreia, a Coreia socialista.
Em entrevista exclusiva ao HP, o embaixador Kim Chol Hak (foto), que já se encontra no Brasil há cerca de quatro anos, assegurou que, “em razão das medidas rigorosas adotadas pelo governo norte-coreano desde o início da pandemia, foi possível impedir o surgimento de um surto epidêmico como aconteceu em outros países”.
Segundo ele, “sob o comando do líder Kim Jong-um, nosso país, logo no surgimento dos primeiros casos em todo mundo, promoveu um forte bloqueio terrestre, aéreo e marítimo que se estende até o dia de hoje”.
“Os casos suspeitos, diante de sintomas como febre, dor de cabeça, entre outros, são imediatamente isolados para um diagnóstico definitivo sobre a contaminação ou não pelo coronavírus e essas pessoas são colocadas em quarentena, depois de serem atendidos, inicialmente, nas policlínicas. Os casos mais suspeitos mais graves são encaminhados para os hospitais”, informou o embaixador.
O diplomata também destacou “o papel das campanhas educativas do governo que são feitas com o objetivo de informar o povo coreano sobre os perigos da pandemia e de como se prevenir através de medidas protetivas como o uso de máscaras e os cuidados nas aglomerações, principalmente nas áreas de transporte”.
Nesse ponto, Kim Chol Haķ explicou que o governo, em todas suas instâncias, “promove períodos de atividades especiais voltadas às campanhas educativas sobre distanciamento e isolamento social”.
O fato é que o último relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre a Coreia do Norte informa que, em um universo de 13.257 pessoas testadas, não foi identificado nenhum caso positivo de Covid-19. Os dados foram fornecidos a partir de informações de 15 laboratórios norte-coreanos vinculados ao Ministério da Saúde Pública da Coreia do Norte.
Embora seja um número pequeno diante de uma população de, aproximadamente, 26 milhões de habitantes, a inexistência de uma única contaminação nesse contingente demonstra a eficiência das medidas que foram adotadas ainda no início de 2020 para evitar a propagação do vírus.
O embaixador explica o que aconteceu para que a Coreia socialista atingisse esse resultado: “quando apareceram os primeiros contaminados, ali, perto de nosso país, simplesmente bloqueamos tudo, por terra, mar e ar, e mantivemos essa política durante toda pandemia, e o resultado é que o vírus não entrou em nosso país porque nós não deixamos”. Simples assim, mesmo para um país que faz fronteira com a China, onde surgiram os primeiros casos.
O MAIS IMPORTANTE É A VIDA DAS PESSOAS
Ainda de acordo com o embaixador, até mesmo o comércio com a China, o principal parceiro econômico do país, foi afetado pelas medidas de bloqueio, pois “o mais importante é proteger a vida das pessoas, pois sem elas não há economia”.
Certamente o rigor dos procedimentos de bloqueio adotados pela Coreia socialista impactou sua economia, especialmente no comércio com os chineses, mas, como explicou o diplomata, “houve uma opção muito clara pela saúde e a vida de nosso povo, que é o mais importante”.
Mesmo com alguns reflexos na economia, o fato é que a política adotada pelos norte-coreanos, do ponto de vista da saúde pública, funcionou, e pode servir de exemplo.
“Promovemos um verdadeiro cordão sanitário e impedimos surtos de Covid-19 no país, mas temos que continuar vigilantes pois a situação mundial ainda é muito crítica”, assinalou Kim Chol Hão.
Quanto às vacinas, o diplomata informou que, pelo que tem conhecimento, as negociações iniciais com o consórcio Covax Facility foram concretizadas e os primeiros imunizantes disponíveis já chegaram ao seu país.
A demanda por vacinas, entretanto, não é a mesma de nações que exibem, ainda, números preocupantes de contaminados e mortos pela Covid-19, pois os norte-coreanos foram eficientes nas medidas preventivas para evitar a disseminação do vírus na população. Mesmo assim, consideram a vacina “a solução mais eficiente” para combater a epidemia.
MOBILIZAÇÃO TOTAL CONTRA A PANDEMIA
O diplomata afirmou, também, que “o líder Kim Jong Un promove permanentes reuniões de emergência para tratar da situação sanitária no país e avaliar as condições do nosso sistema de saúde”.
O governo norte-coreano, enfim, está totalmente mobilizado no combate à Covid-19, mesmo na situação de intenso controle da pandemia no país.
Um exemplo disso são as viagens internacionais hoje restritas a diplomatas e trabalhadores humanitários estrangeiros que, ao entrar na Coreia, são submetidos a quarentenas rigorosas, e, mesmo as viagens domésticas, são monitoradas de modo a não permitir a propagação do vírus.
Em recente reunião da qual participaram médicos especialistas, além das lideranças do Partido do Trabalho da Coreia (PTC), foi apresentado um relatório sobre a situação da Covid-19 no mundo e destacada a necessidade de “evitar a complacência” e “empregar a sabedoria e estilo local” para combater o vírus.
Também recentemente, ao falar durante as comemorações do 75º aniversário do PTC, Kim Jon-Un emocionou-se ao mencionar as dificuldades ultrapassadas pelo seu país diante da renitente política de sanções econômicas e comerciais comandadas pelos EUA e a capacidade de superar as consequências dos sucessivos desastres naturais e, agora, o combate à pandemia.
O líder, certamente, inspirado pelo lema de seu avô, o fundador da Coreia Socialista, Kim Il Sung, – A Coreia é uma só!, manifestou a esperança de que os irmãos do Sul superem o coronavírus para que os dois lados voltem a “dar as mãos”.
MAC