
O resultado da terceira rodada de eleições em Israel em menos de um ano deu pequena vantagem ao atual premiê, Bibi Netanyahu.
É a primeira vez que isso acontece no atual processo eleitoral, com a terceira votação em menos de um ano, sem que se consiga formar governo, pois nenhum dos líderes consegue reunir o número mínimo de 61 deputados que o apoiem.
Depois de 99,8% dos votos apurados, a lista Likud, que reúne partidos apoiadores de Netanyahu, ficou com 36 assentos. A isso se juntam os demais partidos que, até aqui, declararam apoio a novo mandato para ele para chegarem a 58 parlamentares, 3 a menos do número mínimo necessário para formar governo.
Já a principal lista formada pelos partidos que se reúnem em torno do opositor, Benny Gantz (a Azul e Branco) vai eleger 33 deputados. Com apoio na aliança de partidos que querem a oposição passando a assumir o comando do país, o bloco comandado por Gantz, elegeu 55 deputados.
Além disso, ainda há a lista Ysrael Beiteinu (Israel Nossa Casa), liderada por Avigdor Lieberman, que nas duas rodadas anteriores se recusou a apoiar um governo dirigido por Netanyahu, e seguramente não o fará agora.
É com base nestes dados, que alguns dos principais órgãos de imprensa israelenses, a exemplo do jornal Haaretz e reportagem do Canal 11 de TV, declaram que, apesar de, isoladamente, o bloco pró-Bibi (como é apelidado o premiê) ter adquirido mais votos, a maioria dos israelenses, que votaram, prefere um governo sem Netanyahu.
Dizem isso com base no fato de que essas forças opositoras poderiam formar um governo com 62 deputados.
No entanto, não conseguiram se unir até aqui principalmente porque a lista direitista de Lieberman, mesmo sem admitir um governo encabeçado por Netanyahu, se recusa a apoiar um governo que tenha também acordo com os deputados do bloco formado pelos partidos árabes e comunistas.
O problema se torna mais grave para Netanyahu pois ele vai sentar no banco dos réus em menos de duas semanas sob acusações com base em provas detidamente examinadas pela Procuradoria-Geral que pediu seu indiciamento por fraude, suborno e quebra de confiança em três processos e com mais um em andamento.
A própria legalidade de sua indicação pelo presidente Reuven Rivlin (como estabelecem as normas eleitorais israelenses), para encabeçar governo, nestas condições, está sendo questionada.
Além da corrupção, pela qual corre risco de – ao invés de continuar na casa do primeiro-ministro – ir parar na cadeia, Netanyahu exibe da forma mais abjeta e escancarada seu racismo anti-árabe.
Há pouco, ele declarou que obteve maioria de 58 a 47 (no total de deputados) e não de 58 a 55, pois os deputados da Lista Conjunta (leia-se árabes) “estão fora da equação”.
Ou seja, para ele os árabes não contam como cidadãos israelenses.
Disse isso, apesar do fato de que o número de judeus que apoiam a Lista Conjunta crescer a cada eleição e do fato de que foi a força política de maior crescimento nos últimos tempos em Israel, chegando a ocupar a terceira posição em termos de bancada parlamentar.
Não parou por aí, para afundar ainda mais na sua exibição de discriminação e incitamento racista contra a oposição (legal e legítima) assim referiu-se ao líder dela e seus apoiadores: “Gantz se conecta aos apoiadores do terror”. Fez isso sem ligar para apresentar qualquer base fática para tal invectiva.
Ainda sobre a votação de Netanyahu, devemos destacar que isso se deu, em grande parte, pelo recuo de Gantz, que após ter sentado com os líderes árabes israelenses (Ayman Odeh e Ahmed Tibi) para discutir medidas de integração de judeus e árabes em Israel, recuou e chegou a dizer que – se eleito – colocaria em prática a anexação do Vale do Jordão (um terço das terras palestinas na Cisjordânia), aderindo a um assalto de terras anunciado por Netanyahu e por Trump como o “Acordo do Século”.
Apesar de ser impossível medir o efeito de tais recuos, com adesão no lugar da denúncia da incapacidade do corrupto e racista premiê de governar, fica evidente que sem uma plataforma clara de mudança, em especial nas medidas e declarações que estimulam o conflito, ficou mais difícil mobilizar os ativistas em torno de suas bandeiras agora arriadas.
NATHANIEL BRAIA