O ministro da Defesa, José Múcio, afirmou que o programa mais afetado pelos cortes determinados pelo déficit zero de Fernando Haddad, ministro da Fazenda, foi o da produção de submarinos, entre eles o nuclear.
“Nós cortamos muito. Todo mundo sabe, ninguém está se escondendo, não vou dizer que estou cheio de dinheiro. Tiramos helicópteros, tiramos outras coisas”, disse.
“Eu acho que [a área mais afetada] foi o programa de submarinos. Os projetos estratégicos, coisas que vinham de longe. Procuramos fazer com o nosso efetivo aqui”, contou Múcio em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.
Em maio, a Defesa confirmou um corte de 83% no Prosub (Programa de Desenvolvimento de Submarinos), levando à demissão de 200 trabalhadores especializados na Itaguaí Construções Navais (ICN).
O Prosub, lançado por Lula em 2008, tem parceria com a França para desenvolvimento de submarinos convencionais e um de propulsão nuclear.
O fato ocorreu porque a área econômica do governo, chefiada por Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento), cortou, em agosto, da Defesa R$ 676 milhões para cumprir a meta de déficit zero. Em abril, o corte foi de R$ 280 milhões.
Desde 2017, quando foi imposto o Teto de Gastos, a Marinha perdeu R$ 1 bilhão em cortes. Até 2028, a Marinha terá que desativar 40% de seus equipamentos de defesa, uma vez que os cortes impedem manutenções e reaparelhamentos.
Em agosto, o almirante Olsen, comandante da Marinha, relatou que, para cumprir as metas fiscais de Haddad, “a Força Naval tem, reiteradamente, anulado a execução de diversas despesas públicas, comprometendo gravemente o custeio e investimentos”.
SAÍDA DA STARLINK NÃO AFETA DEFESA
Na mesma entrevista, José Múcio disse que uma eventual suspensão dos serviços da Starlink, empresa de internet de Elon Musk, no Brasil não afetaria nenhuma área da Defesa.
O atual X, propriedade de Musk, descumpriu ordens judiciais e afrontou a legislação brasileira até ser suspenso pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
A Starlink, empresa que fornece internet via satélite, não cumpriu a decisão de excluir a rede da sua plataforma e manteve o X no ar no Brasil por alguns dias, mas depois recuou e obedeceu a ordem do STF.
Múcio contou que o Exército contratou os serviços da Starlink somente “para comunicação”, em especial para área remotas e de fronteira. “É um equipamento simples para as pessoas se comunicarem, falar com a família. Não se sentirem isoladas”.
“Não tem dependência”, afirmou.
“O almirante Olsen usou a seguinte frase para mim: ‘Quanto ao problema de defesa, [uma eventual queda da Starlink] não nos atinge’. Absolutamente tranquilo”, disse.
“Eu liguei para os três comandantes, como faço diariamente, e o tema do dia foi a Starlink. O general Tomás [comandante do Exército] me disse que o militar designado para trabalhar na Amazônia comprava aquele equipamento por mil e poucos reais para poder falar com a família, com a esposa, com os filhos”.
“Então eram pessoas físicas que tinham aquilo. O Exército tinha pouquíssimo. Era mais para a fronteira. A Marinha chegou a fazer um contrato, usava-se muito quando nós íamos fazer aquelas operações de ajuda de saúde das populações ribeirinhas. Para a defesa, [o impacto de eventual queda da Starlink é] zero”, completou.
O ministro da Defesa afirmou que o ministro Alexandre de Moraes, que tomou a decisão inicial de suspensão, “teve coragem e comprou uma briga importante para o Brasil. Não pode desrespeitar as nossas normas. Tinha que se adequar às normas que os outros têm que obedecer”.
“Acho que a Justiça estava correta. Nós tínhamos que proteger a nossa integridade”, defendeu.