Dezenas de milhares de professores e funcionários paralisaram as aulas em Oklahoma e Kentucky, na maior manifestação realizada em décadas contra o desmonte do ensino público em prol do cerco privatista. Pela organização, massividade e contundência, os protestos, que ameaçam espalhar-se por outros estados como Wisconsin, Pensilvânia e Nova Jersey, estão sendo chamados de “a rebelião dos mestres”, expondo as entranhas do abandono da educação “made in USA”. Nos Estados Unidos, a educação pública é financiada e regulada pelo governo do estado.
A profundidade dos cortes em Oklahoma deixou as escolas sem livros didáticos nem materiais pedagógicos suficientes, com instalações caindo aos pedaços – e sobre as próprias cabeças, oferecendo perigo – e alunos, professores e funcionários congelando no inverno até mesmo por falta de calefação nas salas de aula. Inúmeros distritos escolares têm sido obrigados a reduzir a jornada para apenas quatro dias por completa carência de recursos, resultado de um corte de quase 30% no orçamento do setor nos últimos 10 anos.
As mobilizações iniciaram com concentrações em frente às escolas de Oklahoma, onde professores e funcionários de mais de 200 distritos seguiram até o capitólio estadual. Ali, estudantes e familiares engrossaram a rebelião, respaldando a reivindicação por 20% de reajuste – o estado paga o penúltimo salário do país -; aumento dos investimentos públicos no setor – extremamente achatado; mais fundos para o plano de saúde dos servidores e a contratação de mais professores.
TRAGÉDIA
Diante do aprofundamento da tragédia e do caos, muitos professores ou precisaram abandonar as salas de aula em busca de novos empregos ou tiveram que se socorrer em bicos complementares para sobreviver. Em Oklahoma é comum encontrar educadores trabalhando como garçons em restaurantes, atendentes em supermercados ou choferes de Uber para completar o salário. Conforme levantamento do jornal La Jornada, “alguns tiveram que recorrer a programas de assistência alimentar ou a caridades para atender necessidades básicas de suas famílias e chegaram inclusive a doar sangue por dinheiro”.
Foi esta revolta que embalou os manifestantes a tocarem e cantarem “We’re Not Gonna Take It” (Não Aceitaremos) nas ruas de Oklahoma City. Convertida em hino, ela serviu como fundo musical para as caravanas de ônibus lotados de professores vindos de todo o Estado que chegaram com faixas e cartazes para dar visibilidade ao “desrespeito e ao abandono”. “Como vocês podem colocar os alunos em primeiro lugar, se colocam os professores em último?”, condenavam. “Estou revoltada com os cortes, pois são cortes cada vez mais profundos”, denunciou Betty Gerber, professora aposentada de Broken Arrow.
De acordo com lideranças do movimento, a grave escassez de professores integra a política antieducacional do governo e tem sido responsável pela crescente evasão de estudantes para outros estados.
Ampliando a pressão, milhares de professores continuavam a paralisação iniciada na quinta-feira no estado de Virgínia Ocidental e exigiam uma reunião urgente com o governador Jim Justice a fim de debater – e solucionar – sua pauta salarial
Representados pela Federação Estadunidense de Professores, pela Associação de Educação e pela Associação de Pessoal de Serviço Escolar da Virgínia Ocidental, os educadores querem trazer para a mesa de negociação tanto a Justiça como os líderes do Senado e da Câmara de Representantes do estado.
REPRESSÃO
Nos EUA as ações sindicais são consideradas muitas vezes “ilegais” segundo as legislações arquirreacionárias dos estados – e ainda mais absurdo, chegam a ser desautorizadas pela própria liderança sindical atrelada ao governo de plantão. Assim, as greves acabam sendo quase que exclusivamente resultado da organização e da coordenação entre as próprias bases, que se comunicam por meio das redes sociais.
Conforme analistas, se o movimento seguir crescendo tende a se converter na maior onda de greves não autorizadas desde os tempos da Grande Depressão.
Como anunciou o senador Bernie Sanders: “iniciou na Virgínia Ocidental. Continuou em Oklahoma e agora está alcançando o Arizona. Os professores estão exigindo respeito pela educação e pelos educadores. Estão se levantando, lutando e conquistam avanços reais. Que venha a mudança”.
LEONARDO SEVERO