
“A maior resistência ao contágio e menor capacidade de transmissão se acentuam nas crianças de menor idade, abaixo de 10 ou de 12 anos”, disse o epidemiologista
Ao falar sobre a retomada das aulas nas escolas e universidades, interrompidas pela pandemia do novo coronavírus, o epidemiologista Ricardo Kuchenbecker, diretor de risco do Hospital das Clínicas de Porto Alegre, avaliou que algumas previsões do Imperial College de Londres sobre a transmissibilidade da Covid-19 pelas crianças não se confirmaram.

Segundo ele, as estimativas eram de que 25% das infecções podiam ser evitadas nas comunidades se as aulas fossem suspensas. “Se acreditava à época, que as crianças tinham um papel importantíssimo, como os super responsáveis pela disseminação da infecção nas comunidades e na transmissão intradomicilar”, explicou.
“Muito desse conhecimento não se confirmou. Hoje se sabe que as crianças são menos capazes de desenvolver a infecção pelo Sars-CoV-2 e menos prováveis ainda de serem vetores na transmissão inter-domiciliar, para os seus pais e para os seus avós. A maior resistência ao contágio e menor capacidade de transmissão se acentuam nas crianças de menor idade, abaixo de 10 ou de 12 anos”, disse o epidemiologista.
Sobre o número de casos de infecções em crianças, ele cita dados dos EUA, país que acumula o maior número de casos da doença. “Adolescentes e crianças com menos de 18 anos, 0,1% do total de óbitos”, disse ele. “O que se sabe neste momento é que as crianças têm um papel diferente na disseminação vírus Sars-CoV-2 comparativamente ao Influenza. Na gripe, as crianças têm um papel importante na transmissão entre elas, na comunidade escolar e em relação aos pais e avós. O que se sabe hoje é que no caso do Sars-CoV-2 esse processo é muito menor”, acrescentou Ricardo Kuchenbecker.
“O que se sabe neste momento é que as crianças têm um papel diferente na disseminação vírus Sars-CoV-2 comparativamente ao Influenza”
O médico gaúcho cita países que já retomaram as atividades escolares a partir da primeira onda da pandemia. “Esse é o caso específico da Alemanha, por exemplo, onde um estudo com 2 mil indivíduos, ou seja, 1,5 mil alunos da faixa etária de 14 a 18 anos, e 500 professores de comunidades escolares, apenas 12 apresentaram anticorpos, ou seja, 0,6% tinham histórico recente de infecção pela Covid”, descreveu o epidemiologista. Ele afirma que o estudo aponta no sentido de que a transmissão desse grupo, seja dentro da escola, seja na transmissão comunitária, “é bastante pequena”.
Algumas iniciativas que, segundo o especialista, “não se sabia exatamente que papel tinham na prevenção da disseminação, hoje são realidades”. A primeira delas é a utilização de máscaras. Efetivamente, segundo ele, a utilização de máscaras “diminui a transmissibilidade, em especial em contexto comunitário, mesmo com as máscaras de tecido”. Ricardo citou, como segunda informação, “que ainda não se tinha”, é o papel do distanciamento social. “Hoje se sabe que crianças e adultos mantidos numa distância acima de 2 metros, e que, além disso, utilizem máscaras, evitem proximidade e façam etiqueta respiratória, essas medidas efetivamente diminuem a disseminação do vírus e isso inclui crianças e adolescentes”, afirmou o epidemiologista.
“A Academia Norte-Americana de Pediatria, que é sempre muito conservadora do ponto de vista das medidas de precaução das crianças e da segurança, também preconiza que sejam retomadas as atividades escolares em função da relação risco/benefício, de um lado representado pela baixa probabilidade de infecções, de formas mais graves e, de outro, o benefício real determinado pelo impacto da atividade escolar no processo de aprendizagem”, completou Ricardo Kuchenbecker.
Assista ao vídeo com a explanação do epidemiologista gaúcho