A direção da Altenburg, uma grande empresa do setor têxtil de Santa Catarina, está sendo denunciada por crime eleitoral.
Conforme o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Fiação e Tecelagem de Blumenau (Sintrafite), os funcionários da empresa foram coagidos a votar em Bolsonaro na disputa presidencial sob ameaça de demissão.
A denúncia foi feita ao Ministério Público do Trabalho (MPT), com relatos de que o proprietário da empresa, Rui Altenburg, mandou interromper a produção para reunir os trabalhadores e fazer um discurso com críticas a Lula e pró Bolsonaro, afirmando que os empregos dos funcionários dependem da vitória do atual presidente.
Em mensagens de WhatsApp anexadas à acusação, um dos funcionários diz que “a reunião do seu Rui é falar mal do PT por uma hora”.
Em notificação à empresa, o MPT enfatizou a proibição de coação dos trabalhadores a votarem em seu candidato e ordenou que a direção divulgue o conteúdo da notificação em grupos de WhatsApp, e-mails e cartazes da empresa, com objetivo de reforçar aos funcionários que eles têm direito de escolher livremente candidatos a cargos eletivos e que é ilegal exercer coação política.
A empresa é a maior fabricante de travesseiros da América Latina, com faturamento anual de R$ 360 milhões e possui cerca de 1700 funcionários em fábricas também em Sergipe, interior de São Paulo e no Paraguai.
O MPT recebeu ao menos 197 denúncias de assédio eleitoral em 23 estados e no Distrito Federal, segundo balanço atualizado na terça-feira (11). Em setembro, um homem que exerce cargo de chefia na Imetame, em Aracruz (ES), ameaçou funcionários reunidos no chão de fábrica afirmando que “no dia que você não tiver mais emprego, não vai poder reclamar”, insinuando que haverá fechamento de empresas caso Lula vença as eleições deste ano. O empresário recebeu uma multa de R$ 150 mil e foi obrigado a se retratar.
O empresário Marcelo Domenici, do Grupo Terra Boa, repetiu ameaças de mesmo cunho a funcionários da Stara, empresa de maquinário do Rio Grande do Sul. De acordo com a Revista Fórum, áudios de uma reunião entre empresários e políticos da cidade de Caçador, no interior de Santa Catarina, convocada pela Associação Comercial Industrial de Caçador (ACIC), demonstram que as coerções fazem parte de uma estratégia criminosa elaborada para impedir que Lula vença as eleições. Além da ACIC, representada pelo seu presidente Jovelci Gomes, também assinaram a convocatória da reunião a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e a Associação de Micro e Pequenas Empresas (AMPE).
O discurso de abertura da reunião, proferido pelo presidente da ACIC começou levando a tese bolsonarista de que as urnas não são confiáveis. “Eu bati duas vezes [o número 22 na urna] pra vim pra imagem do presidente Bolsonaro na minha urna. Todos os outros [candidatos] estão se ativando, mas quando bati 22 o presidente Bolsonaro não apareceu. Tive que bater mais uma vez pra vim (sic) o presidente. Muitas pessoas bateram assim e foram embora. Isso já era fraude, entenderam? Aconteceu comigo”, afirmou em trecho divulgado pelo Fórum.
O empresário Cláudio Rottava, dono da loja Rottava Caça e Pesca, representou a CDL. Também participaram da reunião os vereadores Jean Carlos (PSD), Fabiano Dohner (PL) e Lidiane Cattani (Progressistas), bem como um representante do deputado estadual Valdir Cobalchini (MDB), o comandante do 15° Batalhão da Polícia Militar de Santa Catarina, Major José Ronaldo Branco, e outros empresários e políticos da cidade.
Nos áudios, Xico Stefanes, que foi candidato a vereador na cidade pelo PSDB em 2020, mas que perdeu as eleições, defendeu que a coação aos trabalhadores deveria ser feita no dia anterior do segundo turno para não dar margem para reações e punições aos empresários.
“Tem que ser no último dia [antes das eleições], para o PT não ir depois tentar desmanchar o trabalho. Os empresários devem reunir os funcionários e não pedir voto, não precisa pedir voto, mas explicar que se a esquerda ganhar, vai ser igual a Venezuela. E jogar as responsabilidades para eles se a família amanhã vai passar fome ou ficar comendo cachorro igual está ocorrendo na Venezuela. ‘Ó, os responsáveis são vocês, porque vocês têm o direito de mudar o voto’”, resumiu.
OUTROS CASOS
O MPT, em Goiás, instaurou inquérito civil para apurar o caso do empresário Eronildo Valadares, após vazamento de um áudio enviado a um grupo fechado de produtores rurais no qual o empresário afirmou ter anunciado aos empregados que fechará sua empresa e liquidará todo o estoque em caso de vitória de um dos candidatos à eleição presidencial.
Em Campo Mourão o MPT propôs, nesta terça-feira (11), uma Ação Civil Pública (ACP) contra o Concreto do Vale do Ivaí (Concrevali), também após denúncias de crime eleitoral em que a empresa ameaça os trabalhadores com demissão. A empresa foi condenada a pagar uma indenização pelos danos morais coletivos, no valor de R$ 50 mil, que serão destinados preferencialmente para o financiamento de campanhas e projetos de interesse da coletividade de trabalhadores.
Na ação, o MPT proíbe a empresa de recorrer a ameaças, constrangimentos ou oriente pessoas que possuem relação de trabalho com sua organização (empregados, terceirizados, estagiários, aprendizes) a votar em qualquer candidato nessas eleições, sob pena de multa de R$ 20 mil a cada vez que se verificar o descumprimento das obrigações.