
“Não apresentaram nenhuma prova e não ouviram a defesa”, declara a ex-presidente após sentenciada a seis anos de prisão por suposta e não comprovada corrupção, o que a inabilita para sempre a cargos públicos
“Temos que estar do lado dos que sofrem”, conclamou Cristina Kirchner em ato que reuniu o conjunto de dirigentes e militantes peronstas, reunidos em torno do Partido Justicialista, junto com líderes dos movimentos sociais e centrais sindicais em Buenos Aires, ao acusar a armação do antipopular Milei, junto com os noliberais macristas, com juízes da Suprema Corte para deixar de fora da disputa eleitoral a principal líder da oposição.
Sem qualquer sustentação, a alegação de instâncias inferiores, sem comprovação ou ouvirem a defesa, foi proferida uma sentança às pressas com base em parcer de três juízes da Suprema Corte, condenando a ex-presidente argentina a seis anos de prisão (o que inviabiliza sua candidatura e a impede de exercer cargos públicos por toda a vida) por suposta corrupção.
A sentença, conforme denuncia Cristina, foi baixada às pressas e bastou para isso que ela anunciasse sua candidatura a deputada nas próximas eleições.
Depois do encontro com centenas de dirigentes do Partido Justicialista (PJ), Cristina foi às ruas para se congraçar junto à militância, qualificando de “lixo” o modelo econômico ultraneoliberal em curso, sentenciando que “vai fracassar” em sua política e suas manobras. “Vocês não vão conseguir pagar os juros da dívida nem melhorar os salários me prendendo. Comecem a pensar em outra saída, porque eu vou ficar presa, mas o povo vai piorar a cada dia”, declarou a comandante peronista. “O acaso não é uma categoria política na história”, destacou, assinalando que diante de uma armadilha ditatorial tão mesquinha “estar presa é um atestado de dignidade”.
Ela desafiou a validade da sentença e destacou que, sem a sua candidatura, o que pretendem é impedir uma saída popular quando fracassar o corte dos salários, a dependência crescente regada a empéstimos impagáveis do FMI, e toda esse desgoverno vier abaixo.
“OS ENTREGUISTAS QUEREM COLOCAR A CABEÇA DE QUEM ROMPEU COM O FMI NUMA ESTACA PARA SERVIR DE EXEMPLO”
Conforme denunciou Cristina, “sempre tentaram intimidar toda a classe política comigo”, alertando para a política dos entreguistas e vende-pátrias. “Acham que deveriam colocar minha cabeça numa estaca para que todos saibam como estão os governos que acabaram com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o esquema (privado e viciado) da Associação dos Fundos Pensão, aqueles que recuperaram a YPF (estatal petrolífera) e a Vaca Muerta [uma das maiores jazida de gás de xisto global e a quarta de petróleo não convencional, recurso energético que se tornou central na economia argentina”, repudiou.
“Sou uma fuzilada que vive”, comemorou Cristina, entusiasticamente aplaudido por dirigentes, militantes e simpatizantes, lembrando que o arqui-reacionário jornal Clarín publicou no dia seguinte ao seu criminoso atentado: “A bala que não saiu, mas a sentença que sairá”. “Eles disseram, não é invenção minha. Eu simplesmente leio e entendo texto”, acrescentou.
“Nada é novo”, esclareceu Cristina, apontando que a diferença é que “até 1976, o protagonista dos golpes era o partido militar, e agora os golpes não são necessários porque usam o chamado partido judicial”. Ela reiterou que o mais alto tribunal argentino “é a guarda pretoriana do poder econômico”. “Devemos unir os fios da história, porque tentam apresentá-la como algo desconexo, mas não é o caso”, ponderou.
A ex-presidente recordou o que disse no último sábado passado (7), num encontro na fronteira com o Brasil, em Paso de los Libres: “Basta uma semana após anunciarmos minha candidatura e o caos se instala”. O fato, concluiu, é que “este modelo está perdendo força, e é por isso que se preparam para desmantelar a organização política e social que surgirá quando isso acontecer”.
PARA A CGT, “A DEMOCRACIA ESTÁ EM PERIGO”
A Confederação Geral do Trabalho (CGT) emitiu um comunicado alertando o povo argentino que “a democracia está em perigo”. Em apoio a Cristina asseverou que se trata de “perseguição política e proscrição”, e indicou ser inaceitável que, às vésperas de uma nova eleição, “qualquer decisão que questione as regras democráticas”. Tal comportamento, apontou, apenas “perturba o funcionamento institucional normal” da nação, com inúmeros casos “em que se observam irregularidades” e há “divulgação antecipada” pela mídia, além de grotesca manipulação de informações.
Da mesma forma, a CGT sustenta que “a vontade do povo” deve ser “protegida”, já que somente os cidadãos devem decidir, “através de eleições livres”, quem serão seus representantes, “sem interferência de outros poderes”, por se tratar de “um ato de soberania constitucional”.