
Durante o lançamento do livro “Produção versus rentismo – Trabalhadores e empresários pela Reindustrialização do Brasil”, de Carlos Pereira, realizado na Câmara dos Deputados no dia 27 de maio, a economista Denise Gentil (UFRJ) fez uma contundente crítica à política econômica do governo, que tem levado à estagnação do desenvolvimento do país.
Denise apontou que o Brasil vive um momento de grandes transformações geopolíticas globais, marcado por instabilidade e disputas estratégicas internacionais. Segundo ela, a guerra comercial entre EUA e China, a crise do dólar e o avanço do processo de desdolarização global têm impactos diretos sobre o Brasil. Esses fatores, segundo a economista, intensificam pressões para que o país mantenha sua posição de “colônia exportadora de commodities a baixos preços”.
A economista condenou o atual regime fiscal e a política monetária do Banco Central, marcada por juros altos. O resultado disso, afirma, é que “os investimentos já começaram a desacelerar depois da decisão de seis subidas na taxa de juros. E o que acontece? Por mais que o PIB tenha sido de 3,4%, e por mais que a indústria tenha crescido como cresceu no ano passado, o nível atual ainda é 14% abaixo do que o nível de produção industrial de 2011”.
Para Denise, a política econômica sustentada no arcabouço fiscal impede o país de se desenvolver, reprime o investimento estatal e abre espaço para privatizações em áreas fundamentais, como saúde e educação. Como consequência disso, ressalta, há a redução do crescimento, do emprego e dos salários. “É por isso que o trabalho permanece precário, intermitente, pejotizado, uberizado”, afirma.
Gentil também criticou os efeitos do arcabouço fiscal sobre as universidades públicas e a pesquisa. Citou o bloqueio de R$ 31,3 bilhões no orçamento e a paralisação de 342 obras em instituições federais, sendo 115 delas só em 2023, como símbolos da “inviabilização do futuro”. “As universidades vão ser demolidas por mais um contingenciamento.”
Ela questionou ainda a viabilidade da reindustrialização sem um plano robusto de investimento público. “Como reindustrializar o Brasil sem um grande bloco de investimentos do Estado?”, indagou, denunciando as limitações impostas pelo teto de crescimento das despesas públicas e pela falta de financiamento via BNDES e bancos regionais.
Por fim, Denise Gentil conclamou os presentes à disputa ideológica entre o liberalismo e o desenvolvimentismo. “Se nós não conquistarmos corações e mentes para a revisão do regime de política econômica deste país, não conseguiremos avançar no progresso social.”