
Na abertura dos trabalhos do Sínodo dos Bispos Sobre a Amazônia, na segunda-feira, 7, o cardeal brasileiro Dom Cláudio Hummes, relator-geral do encontro, considerou que a destruição ambiental e a violência ameaçam a vida na região da Amazônia.
“A vida na Amazônia talvez nunca tenha estado tão ameaçada como hoje, pela destruição e exploração ambiental, pela violação sistemática dos direitos humanos elementares da população amazônica, de modo especial, a violação do direitos dos povos indígenas”, disse o cardeal, sentado ao lado do papa Francisco.
O brasileiro preside a Comissão Episcopal pela Amazônia da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e a Repam (Rede Eclesial Pan-Amazônica) e é um dos cardeais mais próximos do papa.
“Segundo o processo de escuta sinodal da população, na Amazônia a ameaça à vida deriva de interesses econômicos e políticos dos setores dominantes da sociedade atual, de maneira especial de empresas que extraem de modo predatório e irresponsável, legal ou ilegalmente, as riquezas do subsolo e da biodiversidade”, afirmou Dom Cláudio.
O brasileiro não citou o governo Bolsonaro diretamente, mas, o relatório do cardeal cita dados divulgados recentemente sobre o aumento do desmatamento na floresta.
Os dados de 1º a 19 de setembro deste ano – os mais recentes do sistema de monitoramento – mostram que 1.173,11 km² de floresta estavam com sinais de devastação, número 58,65% maior do que o registrado em todo o mês de setembro do ano passado, quando foram emitidos alertas para 739,4 km².
Os alertas também já são o dobro da média registrada em setembro de 2015 a 2018, que é de 582,6 km² – alta de 101,35%.
Foram registrados 5.129,21 km² sob alerta de desmate de 1º de julho até 19 de setembro de 2019, enquanto em 2018 foram 1.862,5 km² no mesmo trimestre, com dados fechados até 31 de setembro. Mesmo sem os dados completos de setembro em 2019, a alta já é de 175,39%.
O evento de bispos no Vaticano foi alvo de críticas do governo Jair Bolsonaro (PSL), que chegou a orientar a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) a espionar os bispos da Igreja Católica que compõe o Sínodo. (v. Bispo de Marajó: espionagem do governo contra Igreja é retrocesso à ditadura)
Dom Cláudio fez uma lista dos motivos que estão ameaçando vidas na região com base em relatos colhidos nas comunidades: criminalização e assassinato de líderes e defensores do território, presença de madeireiras legais e ilegais e grandes projetos como hidrelétricas.
A relação de motivos ainda aponta: desmatamento para produzir monoculturas, narcotráfico, uso indevido da água e contaminação causada por indústrias extrativistas, além de problemas sociais, como violência contra mulher e tráfico de pessoas.
VIOLÊNCIA
Na terça-feira (8), terceiro dia do Sínodo da Amazônia, no Vaticano, o presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e arcebispo de Porto Velho, Dom Roque Paloschi, entregou ao Papa Francisco o relatório Violência contra os povos indígenas no Brasil – dados de 2018.
No último ano foram registrados 109 casos de “invasões possessórias, exploração ilegal de recursos naturais e danos diversos ao patrimônio”, enquanto em 2017 haviam sido registrados 96 casos. Nos nove primeiros meses de 2019, dados parciais e preliminares do Cimi contabilizam, até o lançamento do relatório, 160 casos do tipo em terras indígenas do Brasil.
Também houve um aumento no número de assassinatos registrados (135) em 2018, sendo que os estados com maior número de casos foram Roraima (62) e Mato Grosso do Sul (38). Em 2017, haviam sido registrados 110 casos de assassinatos.
Leia mais: Número de ataques a terras indígenas já é 44% maior que em 2018
SÍNODO
O Sínodo dos Bispos é uma reunião convocada e presidida pelo papa que discute temas gerais da Igreja Católica. O Sínodo da Amazônia foi chamado em 2017 pelo papa Francisco e trata de assuntos comuns aos nove países do bioma, organizados em dois eixos: pastoral católica e ambiental. Depois de meses de escuta da população local, bispos e demais participantes se reúnem entre 6 e 27 de outubro, no Vaticano.
O sínodo é um mecanismo de consulta do papa. Os convocados têm a função de debater e de fornecer material para que ele dê diretrizes ao clero. O Sínodo da Amazônia reúne 185 padres sinodais (como são chamados os bispos participantes), sendo 57 brasileiros.
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