Deputado foi denunciado também ao Conselho de Ética da Câmara
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) virou alvo de representação na Procuradoria-Geral da República (PGR) e de queixa-crime no Supremo Tribunal Federal (STF), na segunda-feira (10), por ter dito que professor é pior que traficante.
O deputado fez a associação durante discurso em ato pró-armamentista em Brasília, no último domingo (9).
Os autores das ações são duas deputadas do PSol — Sâmia Bomfim (SP) e Luciene Cavalcante (SP) e o deputado Idilvan Alencar (PDT-CE). Além disso, o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) vai ser denunciado também ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados.
O deputado Guilherme Boulos (PSol-SP), líder da bancada na Câmara, disse que iria protocolar a representação ainda nesta segunda-feira, em que pediria a cassação de Eduardo Bolsonaro.
COMBATE À VIOLÊNCIA CONTRA PROFESSORES
Luciene Cavalcante e o deputado Idilvan Alencar (PDT-CE) também enviaram ofícios aos ministérios dos Direitos Humanos, de Silvio Almeida, da Justiça e Segurança Pública, de Flávio Dino, e da Educação, de Camilo Santana, em que pedem informações sobre medidas de combate à violência contra professores e solicitaram ainda a criação de observatório, “para coleta de denúncias de perseguição, assédios e violências”.
Na segunda-feira, o ministro Flávio Dino determinou à PF que investigue as declarações do filho “03” do ex-chefe do Executivo.
Nas redes sociais, Eduardo Bolsonaro criticou o fato do ministro Flávio Dino ter solicitado investigação à PF sobre as declarações no ato pró-armas.
ATO PRÓ-ARMAS
Eduardo Bolsonaro subiu ao palanque no último domingo (9), em ato do Pró-Armas, grupo que defende o acesso indiscriminado às armas de fogo, e disse que “não tem diferença de um professor doutrinador para um traficante de drogas, que tenta sequestrar e levar os nossos filhos para o mundo do crime.”
“Talvez até o professor doutrinador seja ainda pior, porque ele vai causar discórdia dentro da sua casa, enxergando opressão em todo tipo de relação”, completou.
SUBMISSÃO DA MULHER AO HOMEM
No discurso, o deputado também citou trecho bíblico do qual disse “gostar muito”, sobre a submissão da mulher ao homem.
“Eu gosto muito de uma frase, que é polêmica para quem não entende e quem não estuda, que fala que a mulher deve ser submissa ao homem”, disse o deputado em cima do palanque do evento, complementando a crítica feita aos professores.
O QUE DIZEM AS DENÚNCIAS?
As duas denúncias que foram protocoladas contra o deputado até o momento pedem que ele seja criminalmente responsabilizado pelas declarações feitas no ato do último domingo.
A deputada Sâmia Bomfim, autora do pedido direcionado à PGR, pede a abertura de inquérito sobre Eduardo Bolsonaro, apurando se ele cometeu o delito de incitação ao crime, que tem pena de 3 a 6 meses de detenção.
Na solicitação, está escrito que o deputado “cometeu conduta desrespeitosa e violadora da autonomia universitária e tendente a constranger ou inibir a liberdade de expressão, a liberdade de cátedra, o livre debate político e o pluralismo de ideias.”
O pedido encabeçado pela deputada Luciene Cavalcante é queixa-crime — espécie de petição inicial para os crimes de ação penal privada.
Como a deputada é professora, ela disse que foi pessoalmente ofendida com a fala de Eduardo Bolsonaro, e pede ao Supremo que o condene pelos delitos de calúnia — acusar alguém de crime que não foi cometido — e difamação — que é espalhar inverdades sobre alguém que ofendam a honra.
REPÚDIO DA BANCADA DA EDUCAÇÃO
A fala desastrosa do filho “03” do ex-presidente inelegível Jair Bolsonaro também recebeu duras críticas da Bancada da Educação da Câmara dos Deputados.
Deputadas que compõem a coordenação da bancada consideram a fala do deputado sintoma da falta de valorização da educação no Brasil.
A deputada Tabata Amaral (PSB-SP), coordenadora da Frente Parlamentar da Educação, avaliou o discurso como “nojento” e sinal de “ignorância e mau-caratismo” de Eduardo Bolsonaro. “São falas como essa que contribuem para que o Brasil seja um dos países que menos valoriza seus professores”, alertou nas redes digitais dela.
Duda Salabert (PDT-MG), que coordena a Comissão de Combate à Violência nas Escolas na frente, também, se posicionou. “Se não bastasse o péssimo salário, o adoecimento psicológico, salas lotadas, a sobrecarga de trabalho, nós professores temos que ouvir essa estupidez dita por um parlamentar”.
Antes de iniciar a carreira política, Duda foi professora de literatura, e chegou a perder emprego por assédio de pais à instituição onde trabalhava.
SINPRO-DF
Além das deputadas da frente parlamentar, o Sinpro-DF (Sindicato dos Professores do Distrito Federal) também se manifestou.
“Não é novidade para ninguém que Eduardo e sua família desprezam a escola, a educação e seus profissionais. O desprezo fica evidente em discursos truculentos e posicionamentos políticos, mas também, na notável falta de educação”, apontaram.