Democratas têm agora vantagem de 31 cadeiras e, das 9 vagas em aberto, estão na frente em 6. Maioria de Trump no Senado caiu para três após a vitória de Kyrsten Sinema no Arizona e há duas vagas em aberto na Flórida e Mississipi. Democratas ganharam 7 governos estaduais dos republicanos e não perderam nenhum.
Com a vantagem na Câmara dos Deputados a favor dos democratas subindo para 31 – muito além das 23 necessárias para a conquista da Casa – e com 9 vagas ainda em aberto, das quais os democratas estão na frente em 6, a derrota sofrida pelo presidente Trump nas eleições intermediárias teve nova confirmação, com a candidata ao senado no Arizona pelos democratas, Kyrsten Sinema, declarada vencedora sobre a republicana Martha McSally. Os democratas não venciam essa disputa no estado há 30 anos. Os democratas também tomaram sete estados que estavam em mãos dos republicanos, não perderam nenhum, e ainda há dois com disputa em aberto, a Flórida e a Geórgia.
Trump havia tentado impedir a derrota, realizando comícios freneticamente em que dizia que a eleição seria um “referendo sobre seu governo” e buscando atrair seu eleitorado pelo pavor, apelando para o mais sórdido discurso xenófobo e racista, contra a “invasão da caravana de imigrantes” e enviando milhares de soldados e arame farpado para a fronteira.
A cada dia, resta menos dúvida sobre qual foi a resposta do povo americano à conclamação de Trump de que “eu não estou na cédula, mas eu também estou na cédula, porque isto é também um referendo sobre mim”. A participação nessas eleições intermediárias foi a maior em cinquenta anos, com o comparecimento de 114 milhões às urnas, cerca de 30 milhões a mais que no pleito intermediário anterior, sob Obama.
Nos governos estaduais, em que 36 de 50 estados estavam em disputa, a vitória democrata também alterou a proporção de executivos estaduais de 2:1 em favor dos republicanos, para quase 1:1. Dos estados mais pesados na economia dos EUA, os republicanos mantém o Texas, roem as unhas sobre a Flórida e suspiram de alívio quanto a Ohio. Mesmo no Texas, na disputa do senado Beto O’Rourke ficou apenas 3 pontos percentuais abaixo de Ted Cruz.
A vitória de Sinema significa que o único resultado positivo para Trump, a manutenção do Senado, seu seguro anti-impeachment, está se estreitando, caiu para três e ainda há duas vagas por fechar, a Flórida e o Mississipi. No Mississipi, já que nenhum dos candidatos conseguiu 50% dos votos, haverá segundo turno no dia 27 entre a atual senadora republicana Cindy Hyde-Smith e o desafiante democrata, Mike Espy.
Continua em aberto o embate, para senador e para governador, na Flórida, e para governador, na Geórgia. Na Flórida, prossegue a recontagem de votos. Segundo o New York Times, ainda precisam ser contados 20.000 votos pelo correio do exterior.
Antes da recontagem, na disputa ao governo a diferença era de 0,41 pontos percentuais do republicano Ron DeSantis sobre o desafiante democrata Andrew Gillum. No senado, ainda mais apertado, 0,15 pontos percentuais, entre o republicano Rick Scott (atual governador) e o democrata Bill Nelson, que tenta a reeleição.
Na Geórgia, 21.000 votos separam a candidata democrata Stancey Abrams do segundo turno ao governo do estado, contra o republicano Brian Kemp. Na segunda-feira um juiz federal ordenou a revisão dos votos provisórios que não tinham sido contados, cerca de 26.000 e adiou a certificação dos resultados até sexta-feira.
Tanto a Flórida quanto a Geórgia evidenciam uma das maiores deformações do sistema eleitoral nos EUA, onde não há uma justiça eleitoral isenta e quase inacreditavelmente cabe ao partido no poder encabeçar o processo de votação e apuração. O que é meio caminho andado para a supressão de votos e a fraude. É como num jogo de futebol o sujeito pudesse ser o atacante e o juiz.
Na Geórgia, Brian Kemp era ao mesmo tempo o candidato a governador republicano e o chefe da eleição e apuraçao, como secretário de Estado. Na Flórida, o cabeça do processo eleitoral é o governador Rick Scott, que concorre ao Senado. Na segunda-feira, as entidades Liga das Mulheres Votantes e Causa Comum da Flórida pediram à justiça que o afaste do comando do processo de apuração.
Conforme o Common Dreams, pesquisas de reta final mostraram outra área em que os republicanos sofreram uma grande perda: a diferença a favor dos candidatos democratas na faixa etária acima de 65 anos foi de 13 pontos percentuais a favor dos democratas, o que atribuiu principalmente aos cortes no Medicare e Medicaid de Trump.
A participação das mulheres cresceu enormemente, com mais de 100 congressistas. Entre elas, duas muçulmanas – apesar de toda perseguição de Trump contra os muçulmanos -, Ilhan Omar e Rashid Tlaib, e a mais jovem deputada, Alexandria Ocasio-Cortez. Deb Haaland e Sharice Davids se tornaram as primeiras mulheres de origem indígena a se elegerem deputadas federais. Também merece destaque a força dos negros na eleição, com os candidatos a governador na Geórgia (Stacey Abrams) e na Flórida (Andrew Gillum).
Se não foi propriamente uma surpresa a eleição de uma bancada de “democratas da CIA” e de milionários, em compensação, como assinalou Bernie Sanders, a “nova turma de calouros do Congresso é a mais progressista da história” – e se elegeu com bandeiras como o Medicare para Todos (Saúde Pública), universidade gratuita, salário mínimo nacional de US$ 15 a hora e solução para a impagável dívida estudantil. Vários se declararam “socialistas”, o que era quase palavrão nos EUA depois do macartismo.
Como de costume, a política externa agressiva e a guerra de ocupação do Afeganistão, que já dura 17 anos, a mais longa da história dos EUA, foram postas de lado do debate nas eleições, bem como a ameaça de volta aos piores momentos do risco de guerra nuclear, com o abandono unilateral dos tratados de limitação de armas.
Pelo andar da carruagem, a ordem na Casa Branca é fazer de conta que a casa não caiu: “graças ao apoio dos movimentos a favor de Donald Trump e à estratégia do nosso partido, conseguimos desafiar a história e ter ganhos importantes no Senado”, asseverou a líder do Comitê Nacional do Partido Republicano. Já os democratas, começam a se dar conta da amplitude da manifestação popular. “Passamos de ter ficado aliviados por ganhar a Câmara de Deputados para ficar muito satisfeitos por uma onda genuína, progressiva e inspiradora, de vitórias democratas”, afirmou o ativista Ben Wikler, do movimento MoveOn. Do seu sarcófago, Hillary Clinton imediatamente se prontificou para “2020” – o que levou um colunista do Post a lembrar que é mais fácil ela se eleger “presidente da Líbia do que dos EUA”. Nem Wall Street faz fé.
A.P.