
“Seguiremos firmes exigindo que o governo federal vete a venda da Embraer”, afirmou o diretor do sindicato, Herbert Claros
Os trabalhadores da Embraer aprovaram, nesta terça-feira (24), a deflagração de uma campanha nacional em defesa da estatal e por estabilidade no emprego e manutenção de direitos. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (Sindimetal-SJC), que representa a maior parte dos funcionários da empresa, esta mobilização é uma resposta ao presidente da Embraer, que descartou a concessão de estabilidade no emprego após a compra pela americana Boeing.
“Com o apoio dos trabalhadores, seguiremos firmes exigindo que o governo federal vete a venda da Embraer. Não podemos aceitar que seja cometido esse crime contra o país, entregando um patrimônio nacional de bandeja para os norte-americanos”, afirma o diretor do Sindicato de São José dos Campos, e funcionário da Embraer, Herbert Claros.
No início deste mês a multinacional norte-americana Boeing anunciou um acordo preliminar para a compra da Embraer, segundo o qual, com a chancela do governo Temer, haverá a formação de uma nova empresa: uma joint venture que teria 80% de participação da multinacional dos EUA e o restante, da empresa brasileira.
A reunião com o presidente da Embraer, Paulo Cesar Souza e Silva, aconteceu na última sexta-feira (13), no escritório da empresa, em São Paulo, e reuniu os representantes dos sindicatos de metalúrgicos de São José dos Campos, Araraquara e Botucatu. Na ocasião, os sindicalistas pediram que o presidente da empresa se comprometesse com a estabilidade no emprego para todos os trabalhadores durante e depois da venda.
O sindicato denuncia que “sem a garantia de desenvolvimento e produção de novos aviões no Brasil, a Embraer pode rapidamente se tornar apenas uma fabricante de peças, levando à demissão milhares de trabalhadores. O cenário é tão grave que nem mesmo o fechamento da fábrica está descartado, com toda produção ocorrendo nos Estados Unidos”.
O sindicato alerta que as demissões em massa são uma constante no caso de vendas de empresas desse porte, como foi o caso da venda da Alitalia, que aconteceu entre 2008 e 2009, e foi seguido pela demissão de 10 mil trabalhadores e redução salarial de 13%, em média. No caso da Embraer já estão havendo dispensas, e para os sindicalistas a única explicação é o acordo com a Boeing: “Não existe nenhum motivo concreto para as demissões, a Embraer não baixou a produção dela, a Embraer não está em crise, até a multa de corrupção quem pagou foram os trabalhadores, com um PDV [Plano de Demissão Voluntária] que teve. (…). Temos escutado pelos corredores da empresa que a Boeing considera que a Embraer está com um excedente de funcionários”, diz nota do sindicato.
Além da ameaça de reduzir a empresa brasileira, que é líder absoluta no segmento de jatos de médio porte, à reles fabricante de peças, há ainda o problema de que o acordo de compra mantém apenas as áreas de defesa e aviação executiva dentro do país: “a área de defesa da Embraer hoje só existe graças a área comercial, é só perguntar para qualquer especialista da aviação. Se nos últimos 49 anos não existisse a aviação comercial não existiria Defesa, não existiria Super Tucano, não existiria KC-390. Se não existiria nos últimos anos, como eu posso dizer que vai existir pra frente? Não vai existir. Para nós é obvio que a Defesa vai morrer”, explicou Herbert Claros.
Outro ponto que escancara a arbitrariedade dessa venda é o preço: US$ 3,8 bilhões. Herbert também salienta que a Embraer acaba de fechar acordo para venda de 300 aviões, que tem valor avaliado em US$ 15 bilhões. Para ele, “os números falam por si só. A Embraer vai vender US$ 15 bilhões em aviões, o que significa uma produção para três anos, e ao mesmo tempo é oferecida pra Boeing por US$ 3,8 bilhões. Qualquer um que entende matemática básica sabe que tem alguma coisa errada”.
Além de defenderem a Embraer brasileira, os metalúrgicos também iniciaram a Campanha Salarial deste ano, aprovando a pauta de reivindicações, com reajuste salarial de 16,97% e renovação da Convenção Coletiva. A pauta deverá ser encaminhada à Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) nos próximos dias. Se a Embraer “acabou de anunciar a venda de 300 aeronaves, totalizando 15 bilhões de dólares, não há a desculpa para não atender às reivindicações dos metalúrgicos. O trabalhador tem sentido na pele a alta do custo de vida e, por isso, devemos batalhar pelo índice de 16,97%”, conclui Herbert.
ANA CLÁUDIA