
O novo governo espanhol, que lavou a honra dos europeus ao aceitar receber os refugiados do Mediterrâneo que a Itália se recusou a albergar, anunciou que vai devolver aos imigrantes sem documentos o direito a serem atendidos pela rede pública de saúde do país. Direito que havia sido covarde e estupidamente retirado pela Troika e seu governo do primeiro-ministro Rajoy.
A restituição será oficializada “nas próximas semanas”, prometeu a porta-voz do governo Sanchez, Isabel Celaá, “pela decência política, pela proteção à saúde e para seguir o preconizado pelas organizações internacionais”. O que Rajoy fez em 2012 foi passar a exigir inscrição na Seguridade Social espanhola, o que era virtualmente impossível para os sem documentos e para os estrangeiros, irregulares ou não, que não tinham autorização para trabalhar. Apenas entre 2012 e 2015, a mortalidade da população imigrante aumentou 15%, segundo estudo de uma universidade espanhola.
No domingo, oito dias após serem resgatados no Mar Mediterrâneo encharcados de água e gasolina, perto do litoral da Líbia, 630 imigrantes finalmente puderam pisar em terra, em Valência, Espanha, após terem sido impedidos de ingressar na mais próxima Itália, por decisão do governo Conte, em notória violação da lei internacional de socorro.
Foi concedido aos imigrantes o status provisório de 45 dias de permanência por motivos humanitários e poderão solicitar asilo à Espanha e à França. A operação de recepção foi coordenada pela Cruz Vermelha Internacional, e eles chegaram em três navios, o Aquarius, responsável pelo salvamento, e outros dois cedidos por Roma.
Mais de 2.300 pessoas, entre voluntários, médicos, tradutores e policiais prestaram a acolhida aos refugiados, o que foi acompanhado por mais de uma centena de jornalistas. No Datillo, que atracou ao amanhecer, viajavam 247 imigrantes, sendo aproximadamente 60 menores não acompanhados. O total de feridos leves, em geral por queimaduras pela mistura de combustível e água do maior, era maior do que o esperado. Cinco precisaram desembarcar em cadeiras de roda.
Os 58 mulheres e 48 homens do Aquarius desembarcaram pouco depois de meio dia, e as equipes dos Médicos Sem Fronteira que aguardavam no cais aplaudiram os colegas e os refugiados. Dois homens jovens, choravam e abraçavam os médicos e resgatadores que os haviam salvo, depois de quatro dias à deriva no mar: “adeus, amigo”. O Orione, da Marinha italiana, deixou no porto mais sobreviventes.
No final de semana, a guarda costeira espanhola havia resgatado 933 imigrantes e encontrado quatro corpos. 507 pessoas estavam em 59 pequenos botes no estreito de Gibraltar. Os demais resgates ocorreram entre o nordeste de Marrocos e a costa espanhola. A proibição ao Aquarius, feita pela Itália, foi acompanhada pelo governo de Malta, o que deflagrou nova polêmica dentro da União Europeia.