
Um tribunal federal dos Estados Unidos está ameaçando com 20 anos de prisão a quem der água e comida para tentar defender a vida de imigrantes ilegais na fronteira com o México. Integrante da organização No More Deaths/No Más Muertes (Chega de Mortes), Scott Warren, de 36 anos, pode ficar trancafiado duas décadas em Tucson, no Arizona, por “conspirar para transportar e dar abrigo a imigrantes”.
Scott é um dos muitos voluntários que percorre quilômetros no Deserto de Sonora, entre os dois países, para deixar suprimentos básicos de primeiros socorros nas trilhas usadas pelos migrantes que, tentando cruzar a fronteira para fugir da fome e do desemprego, enfrentam os perigos do deserto, além de temperaturas que caem abaixo de zero nas noites de inverno e passam de 46 graus no verão.
Segundo levantamentos, mais de 7.000 corpos foram encontrados ao longo da fronteira nos últimos 20 anos, mas o número de mortos é obviamente muito maior, já que grande parte dos restos dos chamados “ilegais” nunca foram localizados.
Preso no ano passado, ao lado de dois migrantes da América Central, Scott está vendo o cerco se fechar. A Chega de Mortes é conhecida por seus voluntários deixarem milhares de galões de água ao longo do deserto para os migrantes. Para os advogados de Scott, o que está em julgamento é a defesa da vida, pois ele encontrou os dois migrantes, que tinham bolhas nos pés, tosse e dores do peito, estando exaustos e famintos após caminharem dois dias pelo deserto, quando haviam comido apenas uma tortilha recheada entre os dois. “Scott tinha um objetivo: oferecer bondade humana na forma de ajuda humanitária”, sustentou o advogado Gregory Kuykendall.
De acordo com Brian Griffey, pesquisador da Anistia Internacional na América do Norte, é preocupante o fato de que alguém que não trouxe os migrantes para os EUA, mas simplesmente ofereceu água, comida e abrigo, seja alvo de acusação criminal de tráfico de pessoas. “É um precedente muito perigoso que, tememos, pode ser o primeiro em uma campanha do governo americano para criminalizar a ajuda humanitária, assim como o apoio mais amplo a migrantes e pessoas em busca de asilo na fronteira com o México”, acrescentou.