“É claro que os países precisam de mecanismos de pagamento que não sejam em dólar”, ele afirmou, por link de vídeo, para reunião preparatória do cúpula BRICS 2024 em Kazan
O governo dos EUA transformou o dólar em uma arma em vez de servi-lo como meio de troca ou reserva de valor, disse o premiado economista norte-americano, consultor da ONU e especialista em políticas públicas, Jeffrey Sachs.
A análise foi feita por Sachs na quinta-feira (10) em seu discurso por meio de um link de vídeo para uma reunião de ministros das finanças e dirigentes de bancos centrais do BRICS, preparatória para a cúpula anual, que ocorrerá no final deste mês em Kazan, na Rússia. Na reunião, essas autoridades discutiram a melhoria do sistema monetário e financeiro internacional.
Segundo o economista, a apreensão e congelamento de ativos russos, como parte das sanções contra a Rússia relacionadas à Ucrânia, obviamente implicam na militarização do dólar. Ele lembrou que Washington já havia enveredado por esse curso ao congelar fundos iranianos, venezuelanos, afegãos e de outros países.
No caso das sanções contra a Rússia, a pretexto da oposição de Moscou à anexação da Ucrânia pela Otan, os EUA e seus aliados congelaram cerca de US$ 300 bilhões em ativos do banco central russo, dos quais US$ 5 bilhões em bancos norte-americanos. Em abril, o presidente Joe Biden assinou um projeto de lei permitindo a apreensão de fundos russos mantidos nos EUA e sua transferência para um fundo de reconstrução da Ucrânia.
“Você não pode usar o dólar como mecanismo de pagamentos”, enfatizou Sachs, quando um presidente sozinho pode assinar ordens e apreender essencialmente bilhões de dólares em ativos russos. A moeda dos EUA tornou-se “um instrumento de política agressiva”, concluiu.
“Eu disse ao meu próprio governo nos últimos 15 anos: ‘Pare de fazer isso, isso é loucura, vai destruir a confiança no dólar’. Você não pode continuar com o sistema assim, não é apenas a Rússia”, ele destacou.
Sachs observou que a China quer ter um comércio normal sem ameaças de sanções dos EUA, mas, embora os bancos chineses façam parte do sistema SWIFT, eles precisam obedecer por medo de serem cortados da rede financeira internacional.
“Então, a questão é que precisamos de alternativas, isso é claro”, afirmou o economista. “É claro que os países precisam de mecanismos de pagamento que não sejam em dólar. Vamos precisar de algumas entidades rápidas e de veículos especiais que também não estejam envolvidas nos sistemas de pagamento em dólares … entidades que não possam ser sancionadas diretamente…”
O economista ressaltou que “a melhor alternativa seria se os EUA recuperassem o bom senso, a decência e a legalidade e parassem de impor sanções unilaterais”.
Tais sanções dos EUA são “absolutamente incorretas” e ilegais pelos padrões do direito internacional e da Carta da ONU, disse Sachs, que também é presidente da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da ONU.