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Situação na cidade catarinense só melhorou após adoção de medidas restritivas de circulação
Constantemente elogiada por Jair Bolsonaro com o uso indiscriminado de medicamentos do “kit covid” contra o coronavírus, a cidade de Chapecó, no oeste catarinense já soma 535 mortos pela Covid-19 e estava com 97% dos leitos em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) ocupados até a terça-feira (6). O município já registrou mortes na fila de espera por leito e chegou a transferir pacientes para o Espírito Santo por falta de vagas.
Com o colapso na saúde e com mais mortos pela doença do que a média nacional, o município de 224 mil habitantes suspendeu as atividades não essenciais por 14 dias no fim de fevereiro. Alguns serviços, como restaurantes e mercados, que puderam ficar abertos tiveram mudanças no horário de funcionamento e redução da capacidade de clientes.
Houve também restrição à circulação de pessoas à noite na cidade. Além disso, igrejas, parques e praças foram fechados e a prefeitura disse que ampliou o número de testes de diagnóstico da Covid.
Na última segunda-feira (5), Bolsonaro falou sobre a viagem para verificar e mostrar como estava o trabalho em Chapecó. Durante o discurso, ele defendeu o “tratamento precoce” contra o coronavírus, mesmo sem eficácia comprovada, e também a “liberdade” dos médicos para prescreverem remédios. O presidente atribuiu a melhora da situação na cidade aos esforços dos médicos e elogiou o prefeito.
“Aquele município [Chapecó], com toda a certeza e em mais e em alguns estados também, o médico tem a liberdade total para trabalhar com o paciente, total. E esse é o dever do médico, é uma obrigação e um direito dele. Não tem um remédio específico, ele trata da melhor maneira possível. Por isso, os índices foram lá para baixo”, disse.
Ao contrário do propagado por Bolsonaro, especialistas apontam que o que ajudou a frear a propagação do vírus nas últimas semanas foram as restrições adotadas pela cidade. Em 5 de março, a cidade tinha 3,2 mil casos ativos da doença. Na segunda (5), eram 620 pessoas em tratamento, segundo o governo estadual.
Nesta terça-feira (6) a cidade também zerou a fila de espera por leitos de UTI, segundo o governo do estado. Há em todo estado 200 pessoas esperando por vaga em UTI.
“Imediatamente após as medidas já se percebeu uma desaceleração na curva de contágio, sendo que 14 dias depois, houve queda no número de pessoas com a doença ativa. Os efeitos das medidas restritivas foi imediato e é o responsável pela queda na taxa de indivíduos que permanecem com a doença”, diz Lauro Mattei, professor de economia e coordenador do Núcleo de Estudos de Economia Catarinense (Necat) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Apesar da melhora, para o professor da UFSC e também para Paulo Guerra, epidemiologista e professor do curso de Medicina da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), o momento ainda é de muito cuidado.
“A gente está num momento bom, num contexto muito ruim. O que se sucede é uma melhoria dentro de um contexto muito ruim. Esses indicadores de UTI e novos casos explicam isso”, afirmou.
O professor defende que as medidas de isolamento e restrições de atividades continuem. Para ele, os efeitos práticos das medidas não são imediatos e, por isso, elas precisam ser mantidas.
A cidade, que foi notícia nacional após o flagrante de um morador que precisou ser transportado pela própria família na carroceria de um carro até o hospital na noite de 22 de fevereiro por causa da demora no atendimento, desativou o Centro de Eventos, aberto nos últimos meses. O local abrigou pacientes graves que não conseguiam vagas nos hospitais da região.
VISITA DE BOLSONARO
Em visita a Chapecó nesta quarta-feira (7), Bolsonaro voltou a criticar medidas de isolamento social e a defender medidas sem eficácia comprovada contra a doença. Ele citou a palavra “liberdade” em vários momentos do discurso para criticar medidas de contenção ao vírus e também para defender que os médicos possam prescrever medicamentos sem eficácia contra a Covid-19.