
Pedro Sánchez convocou o encarregado de negócios da embaixada israelense para esclarecimentos, considerando a reação dele e de Netanyahu à sua declaração de “inaceitável”
O Primeiro-Ministro espanhol, Pedro Sánchez, em declaração feita às vésperas da cúpula da União Europeia em Bruxelas, na quinta-feira (26), afirmou que a Faixa de Gaza vive uma “situação catastrófica de genocídio” e cobrou a suspensão imediata do acordo de cooperação entre o bloco europeu e Israel.
“A Europa deve suspender o acordo de associação com Israel e deve fazê-lo imediatamente”, sublinhou.
O Governo espanhol, na quinta-feira (26), convocou o encarregado de negócios da embaixada israelense, o mais alto representante do país em Madrid, considerando a reação dele e de Netanyahu a sua declaração de “inaceitável”.
A este respeito, Sánchez observou que seu pedido se baseia em um relatório recente — ainda não publicado — preparado pelo Representante Especial da UE para os Direitos Humanos. O documento, que já foi compartilhado com os chanceleres do bloco, descreve duramente a situação atual em Gaza e fala de uma “situação catastrófica de genocídio”.
O relatório recolhe denúncias de obstrução israelense à ajuda humanitária, um número alarmante de mortes de civis, ataques direcionados a jornalistas e deslocamento forçado acompanhado de destruição em massa, assinalou.
As declarações de Sánchez surgem no momento em que as equipes de salvamento informam que pelo menos 76 palestinos foram mortos e outros 174 ficaram feridos na região nas últimas 24 horas pelas forças israelenses, no meio de ataques contínuos e de uma escassez extrema de alimentos e medicamentos.
Segundo o governo espanhol, esses eventos constituem uma clara violação do Artigo 2 do Acordo de Associação entre a UE e Israel, que exige que as relações bilaterais sejam baseadas no respeito aos direitos humanos e aos princípios democráticos.
ESPANHA CONVOCA REPRESENTANTE ISRAELENSE EM MADRID
A embaixada israelense em Madrid afirmou não tolerar que a Espanha chame de genocídio os ataques bárbaros na Faixa de Gaza, acusando Sánchez de “demonizar” Israel e de colocar a Espanha “no lado errado da história”. Mais de 56.300 palestinos – na sua maioria civis – foram mortos em Gaza desde outubro, segundo as autoridades sanitárias do território, com mais 132.632 feridos. A maioria das vítimas são mulheres e crianças.
Em maio passado, a Espanha reconheceu formalmente a Palestina como um Estado independente, juntamente com a Irlanda e a Noruega – uma medida que Sánchez descreveu como “histórica” e consistente com o direito internacional.
Afirmou que a medida tinha como objetivo apoiar a paz e não visar qualquer das partes e reafirmou o compromisso da Espanha com uma solução de dois estados baseada nas fronteiras de 1967.
Israel, afirmou Sánchez, “está violando as relações entre as partes, bem como as disposições do próprio acordo, baseadas no respeito pelos direitos humanos e pelos princípios democráticos”, em referência ao artigo segundo do Acordo de Associação entre a UE e Tel Aviv.
Durante o encontro, o premiê espanhol ainda afirmou que é uma contradição que a UE proponha um 18º pacote de sanções à Rússia, devido ao conflito com a Ucrânia, e não suspenda um acordo de associação bilateral do bloco com Israel.
“NINGUÉM DEVE DIZER À ESPANHA O QUE FAZER”
Ainda falando de Bruxelas, na reunião de líderes da União Europeia (UE), Pedro Sánchez defendeu a “soberania” de seu país contra os ataques do governo dos Estados Unidos, liderado pelo presidente Donald Trump, que ameaçou “prejudicar” a economia espanhola com “mais tarifas” por ter se recusado a aumentar seus gastos militares para 5% do Produto Interno Bruto, afirmando que os atuais 2,1% do PIB que hoje aplica dão conta das necessidades reais do país.
Em breve resposta à imprensa, Sánchez declarou: “A Espanha é um país solidário, comprometido com os Estados-membros da OTAN, mas também é soberano. E esse é o equilíbrio que devemos encontrar na declaração dos 32 Estados-membros da OTAN, incluindo os Estados Unidos.”
“Vamos cumprir com as nossas capacidades. As Forças Armadas espanholas e o Ministério da Defesa nos dizem que as capacidades acordadas com a OTAN representam 2,1% do nosso PIB, e é isso que vamos fazer. E esse compromisso é absolutamente compatível com o fortalecimento e a sustentabilidade do Estado de bem-estar social. Temos um déficit comercial com os EUA. A política comercial é dirigida por Bruxelas. Estamos numa união aduaneira, num mercado único e, portanto, a política comercial é dirigida por Bruxelas em nome dos Estados-Membros”, afirmou.
A postura com a qual o governo espanhol busca impedir que Trump cumpra suas ameaças de sanções comerciais, também foi defendida pelo ministro da Economia, Carlos Cuerpo. A Ministra de Defesa, Margarita Robles, destacou que “ninguém deve dizer à Espanha o que fazer. A Espanha é um aliado sério, confiável, comprometido e responsável, que fala menos e entrega mais, e não precisa receber lições de ninguém. A Espanha quer ter as melhores relações com seus parceiros, mas não aceita lições de ninguém”.