A certa altura de uma nota “quente” divulgada recentemente do Fórum das Centrais – contra a minirreforma que pretende acabar com qualquer direito trabalhista – se lia: “Nos anos anteriores à reforma de 2017 o Brasil estava no caminho do crescimento. Estávamos na lista dos países mais industrializados, o desemprego era baixo, pouco a pouco a desigualdade diminuía e o povo brasileiro vivia a amplamente noticiada ascensão da Classe C, com maior acesso a bens e serviços. Tudo sob plena vigência da CLT.
Como assim? O Salário Mínimo em 2014, 2015 e 2016 ficou congelado. O desemprego em 2016 era de 11,9%. Quanto à CLT, a presidente Dilma, assim que assumiu o segundo mandato, editou a Medida Provisória 664, restringindo o acesso das viúvas à pensão por morte do marido. A seguir, editou a MP 665, restringindo o acesso do trabalhador desempregado ao seguro desemprego. Em 2015, criou o Fator 85/95. Para ter aposentadoria integral a classe operária precisaria trabalhar até mais 10 anos. Desonerou a folha de pagamento das grandes empresas e multinacionais em 450 bilhões de reais, sem exigência de nenhuma contrapartida.
Em 2015 e 2016, o PIB (Produto Interno Bruto, a soma de tudo produzido no país) caiu 3,5% e mais 3,5% no ano seguinte. O PIB Já havia crescido 0,1%, em 2014. A participação da indústria de transformação no PIB despencou de 30% nos anos 80 para 11,6% em 2016. O país estava se desindustrializando. Em 2016, a dívida pública cresceu 11,42% e atingiu a marca de 3,11 trilhões de reais. As despesas só com juros foram ao valor de R$ 330 bilhões. Em 2012, 2013, 2014 e 2015, respectivamente, as despesas com juros da dívida pública somaram R$ 207 bilhões, R$ 218 bilhões, R$ 243 bilhões e R$ 367 bilhões. Apesar do que pagamos, a dívida hoje está em 5,9 trilhões de reais. De 2011 a 2019, 2.615 empresas foram vendidas para multinacionais. Vou parar por aqui. Trata-se de uma fake news com a marca registrada da CUT.
Por que essa necessidade compulsiva em falsificar a história? Dizia o filosofo: “resistência à autocrítica é resistência à mudança”. Compromete a sinceridade das propostas, por mais interessantes que aparentem ser.
Essas não são as características das demais centrais sindicais. A submissão a essa ficção não ajuda nada na construção da unidade, na mobilização dos trabalhadores, nem aos falsificadores da realidade a trilharem outro rumo.
É preciso liberar as energias do movimento sindical para, como diz a nota das centrais, “dialogar com os parlamentares e pressioná-los, organizar manifestações e também mostrar para as nossas bases, em 2022, quais os candidatos comprometidos com os interesses dos trabalhadores”.
(…) “Investir em infraestrutura e em setores intensivos de mão de obra, dar atenção especial às micro, pequenas e médias empresas, investir em educação e formação profissional, além de reindustrializar o país fomentando o crescimento e cobrindo os desempregados e os informais com postos de trabalho e direitos previstos na CLT”.
Mas sem autocrítica ninguém vai acreditar e o fantasma do estelionato eleitoral continuará assombrando esses companheiros.
CARLOS PEREIRA