O corpo do cantor e compositor Carlos Lyra foi velado e cremado na tarde deste domingo (17) no Cemitério Memorial do Carmo, no Caju, na Zona Portuária do Rio. A cerimônia foi restrita a familiares e amigos. Parceiro de Vinicius de Moraes, Ronaldo Bôscoli e outros artistas, Lyra morreu na madrugada deste sábado (16), no Rio. A informação foi confirmada pela família, mas a causa da morte não foi divulgada.
A esposa de Carlos Lyra destacou que ele primava pela excelência e era alguém “além da bossa”. Ela pediu que os fãs se lembrassem dele pelas músicas e por ser uma pessoa gentil e educada.
“Acho que ele foi uma pessoa muito importante para esse país em termos de cultura. Não só na parte musical, no lirismo, na harmonia, na criatividade. Ele era uma pessoa lúdica. Mas também a parte política, de defender as pessoas. De se sacrificar indo para um autoexílio, sacrificando a própria carreira, que estava em ascensão aqui. Mas, para ele, era importante batalhar pela cultura e pelo povo”, destacou Magda Pereira Botafogo.
O cantor e compositor Maurício Maestro, que é casado com a filha de Carlos Lyra disse que ele era um sogro fantástico e uma pessoa carinhosa.
“A saudade fica mas as lembranças permanecem. A gente procura se basear na obra dele, que não morre. Além disso a obra, a convivência e o que a gente sente”, disse Maestro.
LYRA
Autor de sucessos como ‘Coisa mais linda’, ‘Minha namorada’, ‘Primavera’, ‘Sabe você’ e ‘Você e eu’, Carlos Lyra era um dos melodistas mais inspirados da música brasileira em todos os tempos.
Segundo a esposa, o compositor de 90 anos foi internado com um quadro de febre na última quinta-feira (14) no Hospital da Unimed, na Barra da Tijuca. Após alguns exames, foi detectada uma bactéria.
Revelado em disco na voz de Sylvia Telles (1935 – 1966), cantora que gravou Menino em 1956, Lyra foi um dos compositores do movimento rotulado como bossa nova. Além de músico consagrado, o melodista carioca também desempenhou um papel fundamental na difusão da cultura brasileira. Lyra foi um dos responsáveis por fundar o Centro Popular de Cultura, o CPC, da União Nacional dos Estudantes (UNE), em 1961.
A primeira composição de Lyra a ser lançada foi “Menino”, gravada na voz de Sylvia Telles, em 1956. Em 1959, ele lança seu primeiro álbum, intitulado “Bossa nova”. No mesmo ano, João Gilberto grava “Maria ninguém” e “Lobo bobo”, da parceria de Lyra com Ronaldo Bôscoli.
A faixa “Coisa mais linda”, composição de Lyra e de Vinicius de Moraes, foi lançada em 1961. A dupla também criou “Marcha da quarta-feira de cinzas” (1963), “Minha namorada” (1964), Primavera (1964) e “Sabe você” (1964).
Lyra também demonstrou sua ideologia social e política ao compor a trilha sonora da peça “A mais valia vai acabar, seu Edgar” (1960), do dramaturgo e diretor paulistano Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha.
Anos depois, o cantor renovou seu repertório em álbuns como “Eu & elas” (1972) e “Herói do medo” (1975). Nos anos 1980, ele aderiu a regravações de clássicos da bossa nova e teria novas parcerias com artistas como Joyce Moreno e Paulo César Pinheiro.
Lyra ainda gravou outros trabalhos de músicas inéditas, como “Carioca de algema” (1994) e “Além da bossa” (2019). Em 2023, grandes nomes da MPB homenagearam o artista no álbum coletivo “Afeto”.
HOMENAGENS
Personalidades da música e da política prestam suas homenagens ao cantor e compositor Carlos Lyra. O músico Roberto Menescal, parceiro de Lyra em “Benção, Bossa Nova”, relembrou o título de “maior melodista da música brasileira” que o amigo recebeu de Tom Jobim.
“Lyra é um grande compositor. É um cara diferenciado de muita gente, teve várias fases na vida dele”, disse Menescal.
O presidente Lula também o homenageou em suas redes. “Hoje o Brasil se despede de Carlos Lyra, cantor que e compositor brasileiro, dos grandes nomes da Bossa Nova. Parceiro de Vinícius de Moraes e tantos grandes nomes da MPB. Meus sentimentos aos amigos, familiares e admiradores de Carlos Lyra nesse momento de perda”, disse o presidente.
Gilberto Gil usou sua página em uma rede social para dizer que Lyra “nos deixa com um legado extraordinário”. O cantor afirmou que está “triste com a notícia da partida” e publicou um vídeo cantando a música “Saudade fez um Samba”, de composição de Lyra e Ronaldo Bôscoli.
O cantor Fagner chamou Lyra de um dos “mestres da bossa nova”. “É triste, mas a idade chega, todos sabem, e está levando um dos gênios da música, além de uma pessoa adorável, irônica, muito à altura do pessoal da bossa nova”, afirmou.
Ivan Lins, também prestou sua homenagem a Lyra nas redes sociais, ressaltando a importância do músico como um inovador e incrível harmonizador e melodista. Ele relembrou ainda o apoio que recebeu de Lyra durante a ditadura militar, destacando a abertura de sua casa e o incondicional apoio do artista em um momento difícil.
A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB) escreveu que o “Brasil amanheceu menos musical hoje” e destacou que Lyra “fez música para teatro e cinema e aplicou consciência social em diversas de suas canções”.
“Seu nome está escrito na história da Música Popular Brasileira, eternizada em clássicos como ‘Você e Eu’, ‘Coisa mais Linda’, ‘Influência do Jazz’, ‘Maria Moita’ e tantas outras. Obrigado por tanto, Carlinhos. Meus sentimentos aos familiares, amigos e fãs”, publicou Jandira.
Eduardo Paes, prefeito do Rio, disse que Lyra foi “fundamental na construção da identidade carioca e brasileira” e que suas composições marcaram várias gerações ao redor do mundo. “Que perda para a cultura brasileira”, escreveu.
A Prefeitura do Rio de Janeiro também prestou homenagem e, por meio de redes sociais, afirmou que “suas belas e marcantes composições seguirão encantando as próximas gerações”.
ESTUDANTES
Em nota, a União Nacional dos Estudantes (UNE), lamentou a partida de Carlos Lyra e destacou o papel do artista na criação do hino da entidade.
“Lyra e Vinícius de Moraes, parceiros de longa data, imortalizaram a força, a voz e o trabalho dos estudantes pelo Brasil. É dos dois gênios a composição do hino da UNE que documentou a mensagem de coragem da entidade em tempos em que artistas e estudantes perdiam a vida na luta pela democracia”, destacou a UNE.
Para o Centro Popular de Cultura da UMES, Carlos Lyra era também “um lutador, um patriota, indignado com as injustiças que assolam nosso país’.
“Obrigado, Mestre! Por suas lindas músicas, pelo seu trabalho no CPC e no Opinião, pela Pobre Menina Rica, pela Canção do Subdesenvolvido. Pela Bossa Nova e pela Influência do Jazz. Pelo Samba da Legalidade e por nos mostrar que O Feio Não É Bonito. Obrigado por ter estado na UMES e ter nos ensinado tanto. Obrigado por tudo.”, destacou a entidade cultural em nota divulgada nas redes sociais.
Veja a nota:
Carlos Lyra partiu. Foi encontrar Vinícius, Tom, João Gilberto, Baden, Nara. Foi encher o universo com suas melodias geniais, sua gargalhada gostosa, suas histórias divertidas. Mas Carlinhos não era “apenas” o “melhor melodista da Bossa Nova”, como dizia Jobim. Era também um lutador, um patriota, indignado com as injustiças que assolam nosso país. Por isso, deve também ter partido para encontrar Chico de Assis, Vianinha e Denoy e montar um CPC estelar.
Em 1995 tivemos a honra de iniciar o Projeto UMES Cantarena com um Show de Carlos Lyra. Uma verdadeira aula de brasilidade, de história, de música, de disposição para a luta, que o teatro superlotado escutava encantado.
Obrigado, Mestre! Por suas lindas músicas, pelo seu trabalho no CPC e no Opinião, pela Pobre Menina Rica, pela Canção do Subdesenvolvido. Pela Bossa Nova e pela Influência do Jazz. Pelo Samba da Legalidade e por nos mostrar que O Feio Não É Bonito. Obrigado por ter estado na UMES e ter nos ensinado tanto. Obrigado por tudo.
Veja a repercussão nas redes: