O bolsonarismo se esmerou em manipular a questão das drogas e aborto fabricando uma falsa dicotomia na sociedade para trapacear eleições
Nos últimos dias tem havido uma acirrada discussão sobre os votos do ministro Cristiano Zanin no Supremo Tribunal Federal (STF). Alguns segmentos da sociedade não gostaram de sua posição contrária à descriminalização das drogas e consideraram que ele teria “traído o eleitorado progressista”.
Os fascistas, é claro, adoraram a polêmica e esfregaram as mãos. É deste tipo de discussão que eles gostam. É nelas que eles se criam.
No Brasil, o bolsonarismo, uma corrente retrógrada, corrupta, obscurantista, antidemocrática, anticientífica, entreguista, genocida, que trafica joias, que agride as mulheres, que é racista, que odeia a Cultura e a Educação, etc, etc… decretou que os “progressistas” são aqueles que defendem a descriminalização das drogas e o aborto, e os “conservadores”, aqueles que são contra essas pautas.
Nada mais hipócrita e longe da verdade. Estes fascistas, que se disfarçam de conservadores, são criminosos travestidos de políticos. Não podemos nos iludir quanto a isso. Esta é uma polarização falsa, como aliás, tudo o que vem do bolsonarismo. Os setores que lutam pela democracia têm que ficar mais atentos às artimanhas dos nazistas tupiniquins, sob pena de serem trapaceados por eles.
Ser progressista, efetivamente, é defender o fim da exploração do trabalho, é lutar por cada vez mais direitos e pelo poder dos trabalhadores, é defender um Brasil soberano, desenvolvido e solidário, é lutar contra as privatizações das estatais estratégicas, é valorizar a cultura nacional e popular, é defender e lutar pelo ensino de qualidade – e em tempo integral -, é defender com unhas e dentes a ciência, a tecnologia e o SUS.
Reduzir o progressismo à defesa da descriminalização das drogas e do aborto, como insinua Bolsonaro e sua gangue, é uma imbecilidade sem tamanho.
O bolsonarismo, ou seja, o fascismo ressurgido no Brasil, é algo torpe, rastejante, capacho, lacaio dos americanos. Se deixasse, ele entregava o governo brasileiro ao Pentágono e à Casa Branca, vendia o Palácio do Planalto, destruía totalmente a Petrobrás, ressuscitava o trabalho escravo – disfarçado de “liberdade econômica” -, arrebentava de vez com a Amazônia e outros biomas. E, depois de tudo isso, eles ainda aparecem com a maior cara de pau, se passando por patriotas, por moralistas e se achando no direito de decretar quem são os progressistas e quem são os conservadores. É muito cinismo.
Nada melhor para o fascismo do que reduzir toda a complexidade da vida social, as suas contradições, os seus desafios e as tragédias vividas pelo povo a essa falsa dicotomia entre apoiadores e contra drogas e aborto. Quem é a favor de liberar as drogas e o aborto é progressista e quem é contra, são eles, ou seja, os milicianos, os falsos pastores e outros picaretas do gênero. Fazem isso também com frequência na questão de Segurança Pública.
Fazendo isso, ou seja, reduzindo a discussão desta forma, eles conseguem esconder seus crimes, sua podridão, sua indigência, sua violência e sua covardia. Eles são experts na arte de mentir e trapacear. É só lembrar que Bolsonaro foi eleito se fazendo passar por patriota e por paladino da luta contra a corrupção.
A discussão sobre como combater as drogas é um assunto sério, de gente que realmente quer enfrentar o problema. Parto, é claro, da opinião de que todos querem combater e eliminar essa tragédia e essa praga da contemporaneidade. O fato da repressão, como ela está sendo conduzida atualmente, não estar trazendo os resultados esperados, não autoriza que os defensores da estratégia da descriminalização decretem-na como única forma de combater o tráfico e o vício.
Sem dúvida que a dependência química é um problema grave de saúde pública, mas não há nada que prove cientificamente que a descriminalização das drogas ajude a enfrentar esta doença. Tem que haver um compromisso mais profundo, mais sério e mais abrangente do Estado contra este mal que aflige a sociedade. Acho que foi essa a argumentação, inclusive, que o ministro Zanin levantou aos seus pares do STF.
Não vejo como se possa associar a adesão a uma estratégia ou outra de combate às drogas como sendo critério para se dizer que alguém é progressista ou não. Essa associação mecânica é o fim da picada. Como já dissemos, ser progressista de fato é lutar para transformar revolucionariamente a sociedade, é praticar o coletivismo, é acreditar no trabalho como o centro de tudo, é apostar na ciência e na elevação da consciência social. O resto…bem, o resto é o resto.
Ser ou não pela descriminalização das drogas ou a ser favor ou contra o aborto não pode ser o fiel da balança do perfil ideológico de ninguém. Ser contra o aborto, ressalvados aqueles ligados aos problemas de saúde pública, estupros e outros, é uma opinião que deve ser levada em conta por todos e com a qual eu, por exemplo, na condição de médico com 40 anos de experiência, estou inteiramente de acordo.
Este é um problema muito sério para ser tratado de forma tão rasa e tão irresponsável. Ninguém, a não ser que seja extremamente antissocial e individualista, pode simplesmente defender o aborto como um método anticoncepcional aceitável. O Estado tem, obrigatoriamente, que se somar às mulheres nas soluções dos problemas sociais que impedem a maternidade. Essa é uma luta que deve ser de todos e todas.
São assuntos e problemas intimamente ligados à coletividade. Não são problemas individuais. São questões também que estão ligadas aos costumes, à cultura popular, às crenças religiosas, ou seja, o buraco é muito mais embaixo do que se pensa. Mas, infelizmente, esses são temas em que o fascismo se esmerou em trapacear e fazer demagogia para se promover. Eles fazem isso para manipular, mentir e ganhar eleições. Nós não podemos dar mole. Temos que, efetivamente, combater o fascismo e suas tramoias.
SÉRGIO CRUZ
Sergio.
Achei muito bom o artigo.
Mais ainda a finalidade de denunciar o ardil da extrema direita.
Certamente outras oportunidades haverão para reforça-la.
Achei, no entanto, que a definição de progressista é diferente daquela que eu entendo.
Certo ou errado, penso que não é necessário ser revolucionário para ser progressista em nossa sociedade.
No parágrafo dessa definição, me passou essa leitura.
É pertinente a sua observação, Amaro. Tirando os mais reacionários, que não aceitam que a Humanidade – assim como tudo – evolui, tanto quantitativa quanto qualitativamente – e nem sempre em linha reta – no sentido do menos desenvolvido para o mais desenvolvido, podemos dizer que todos nós somos progressistas, ou melhor, todos buscamos o progresso. Mas, você tem razão. Ou seja, é certo que todos os revolucionários são progressistas, mas nem todos os progressistas são revolucionários. Entretanto, com base numa das leis da dialética, a que diz que tudo está em movimento, eu poderia dizer que nada impede que os progressistas de hoje, mudem de opinião, e se tornem revolucionários. Aliás, é o que almejamos sempre, não é verdade?