
“Recebíamos comida encharcada e úmida – até o pão ficava molhado”, relatou a estudante Caroline Gonçalves, presa por 16 dias pelo serviço de imigração de Trump
A brasileira de 19 anos, Caroline Dias Gonçalves, que ficou 16 dias presa pelo Serviço de Imigração dos Estados Unidos (ICE, em inglês), relatou as péssimas condições da prisão e afirmou que aqueles dias “foram os mais difíceis” de sua vida.
“Eu estava com medo e me sentia sozinha. Fui colocada em um sistema que me tratava como se eu não tivesse importância. Na detenção, recebíamos comida encharcada e úmida – até o pão ficava molhado”, descreveu Caroline através de uma nota pública divulgada pelo TheDream.US, organização sem fins lucrativos dedicada a oferecer bolsas de estudos para jovens imigrantes.
Ela foi presa no dia 5 de junho e ficou até o dia 20 no centro de detenção do ICE em Aurora, próximo a Denver (CO). Caroline, que estuda enfermagem na Universidade de Utah com bolsa concedida pela TheDream.US, foi solta sob fiança mais de 36 horas depois da decisão da Justiça que autorizou sua liberação.
Caroline Dias Gonçalves mora nos Estados Unidos desde os 7 anos, tendo se mudado de forma irregular junto com os pais. Ela apontou que o tratamento que lhe era dado mudou quando os agentes do ICE “perceberam que eu falava inglês”.
“De repente, fui tratada melhor do que outras pessoas que não falavam inglês. Isso partiu meu coração. Porque ninguém merece ser tratada assim. Não em um país que chamo de lar desde os 7 anos de idade e que é tudo o que conheço”, continuou.
No relato publicado pela TheDream.US a brasileira contou que nem mesmo o agente da ICE que realizou sua prisão era a favor da nova política contra imigrantes do governo Donald Trump.
Na carta, ela agradeceu “até mesmo ao agente do ICE que me deteve — ele continuou se desculpando e me disse que queria me soltar, mas que estava ‘de mãos atadas’. Não havia nada que ele pudesse fazer, mesmo sabendo que não era certo. Quero que você saiba — eu te perdoo. Porque acredito que as pessoas podem fazer escolhas melhores quando lhes é permitido”.
“Espero que ninguém mais passe pelo que eu passei. Mas sei que, neste momento, mais de 1.300 pessoas ainda estão no mesmo pesadelo naquele centro de detenção de Aurora. Elas são como eu — incluindo outras pessoas que cresceram aqui, que amam este país e que não querem nada além de uma chance de pertencer”, escreveu a brasileira.
“Vou tentar seguir em frente agora — focar no trabalho, nos estudos e na recuperação. Mas não vou esquecer isso”.
“E espero que outros também não. Imigrantes como eu — não pedimos nada de especial. Apenas uma oportunidade justa para ajustar nosso status, nos sentirmos seguros e continuar construindo as vidas pelas quais lutamos tanto no país que chamamos de lar”, completou.
No início de junho, o ICE mantinha presos cerca de 51 mil imigrantes. Essa política de perseguição foi endurecida pelo governo Donald Trump.
No sábado (21), mais um voo com 114 brasileiros deportados pelos Estados Unidos chegou ao Brasil. Ao todo, já são 892 brasileiros repatriados.